Aprendendo a construir a identidade pedagógica pessoal
Cada um de nós vai
construindo sua identidade com pontos de apoio que considera fundamentais e que
definem as suas escolhas. Cada um tem uma forma peculiar de ver o mundo, de
enfrentar situações inesperadas. Filtramos tudo a partir de nossas lentes,
experiências, personalidade, formas de perceber, sentir e avaliar a nós mesmos
e aos outros.
Uns precisam viver em um
ambiente superorganizado e não conseguem produzir se houver desordem, enquanto
outros não dão a mínima para a bagunça ou fazem dela um hábito. Uns precisam de
muita antecedência para realizar uma tarefa, enquanto outros só produzem sob a
pressão do último momento.
Na construção da nossa
identidade é importante como nos vemos, como nos sentimos, como nos situamos em
relação aos outros. Muitos fomos educados para depender da aprovação dos
demais, fazemos as coisas pensando mais em agradar os outros do que no que
realmente desejamos.
Todos
experimentamos inúmeras formas de comparação, ficamos em segundo plano,
fomos deixados de lado, sofremos todo tipo de perdas e isso interfere na nossa
autoimagem.
Sempre nos colocam modelos
inatingíveis de beleza, de riqueza, de sucesso, de realização afetiva. É
intensa a pressão social para que nos sintamos infelizes, diminuídos em
alguns pontos ou para que nos contentemos com pouco.
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Muitos permanecem
imobilizados pelo medo do julgamento alheio, pelo medo de falhar. Vivem para
fora, para serem queridos, aceitos. E sem essa aceitação se sentem mal, se
escondem fisicamente ou através de formas de comunicar-se pouco autênticas,
desenvolvendo papéis para consumo externo.
Internamente – mesmo
quando aparentemente o negamos – temos consciência de que somos frágeis,
contraditórios, inconstantes e, em alguns campos, inferiores a outros.
A grande questão é
que, intimamente, muitos não se gostam de verdade, não se aceitam
plenamente como são, duvidam do seu valor, tentam justificar seus problemas,
procuram formas de compensação, de aprovação.
Boa parte dos
nossos descaminhos, das nossas dificuldades, perdas e problemas advém do medo
de sermos felizes, de acreditar no nosso potencial.
Ficamos marcando passo por
sentir-nos inseguros, por incorporar tantas injunções negativas, acomodadoras,
medíocres.
Essa construção da nossa
identidade que fomos realizando tão penosamente não a podemos modificar
magicamente. Podemos, contudo, aprender a ir modificando alguns processos de
percepção, emoção e ação.
É importante reconhecer
nossas qualidades, valorizá-las, destacá-las e buscar formas de colocá-las em
prática, escolhendo situações em que elas sejam mais testadas e necessárias.
Estar atentos ao que acontece e ir antecipando-nos, prevendo, testando,
avaliando.
Somos chamados a realizar
grandes voos. Podemos ir muito além de onde estamos e de onde imaginamos e de
onde os outros nos percebem.
Podemos modificar
nossa percepção, aprendendo a aceitar-nos e a gostar plenamente de nós, a
aceitar-nos plenamente, intimamente como somos, sem comparações nem
desvalorizações, quando ninguém nos vê, quando não temos que representar para
alguém e ir adiante, no nosso ritmo, acreditando no nosso potencial.
Para mudar o mundo podemos
começar mudando a nossa visão dele, de nós. Ao mudar nossa visão das coisas,
tudo continua no mesmo lugar, mas o sentido muda, o contexto se altera.
Em geral não é preciso ir
morar em outro ambiente, em outra cidade, mas descobrir novas formas de olhar e
de compreender as pessoas, os ambientes com as que convivemos.
Construímos a vida sobre
fundamentos autênticos ou falsos. As construções em falso são como andaimes ou
contrapesos para segurar uma parte do prédio que pode vir abaixo, cair.
Procuramos esconder – até de nós mesmos - o lado negativo, o que anos incomoda,
o que não gostamos.
Quanto mais muros de
contenção, duplas paredes, contrafortes criamos. Quanto mais estruturas
paralelas levantamos, menos evoluímos a longo prazo, menos nos realizamos.
As pessoas podem criar
obras incríveis, maravilhosas em qualquer setor e, mesmo assim, girar em falso,
estarem construindo superestruturas paralelas.
Se o que nos leva a
realizar coisas é a necessidade de reconhecimento, de aceitação, de ser
queridos, o foco está distorcido e poderemos estar agindo a vida toda em falso.
Se eu preciso
necessariamente da aprovação de alguém para sentir-me bem, na mesma medida
deixo de aceitar-me, de gostar-me, de integrar-me. Eu me volto na direção do
outro, o coloco como eixo e começo a girar em falso. E quanto mais insisto
nesse padrão e direção, mais me afasto do meu centro, mais energia preciso
gastar, mais peso e superestrutura acumular. Posso ser reconhecido e não
evoluir nem ser feliz.
Creio que a grande
maioria das pessoas se agita muito, faz mil atividades, mas não foca o
essencial. Chega quase lá, mas lhe falta a atitude de total sinceridade
consigo, de permitir-se o desvendamento de tudo o que é e carrega consigo.
Espera a sua realização dos outros, de ser reconhecido por eles.
Hoje dá-se muita
ênfase às profissões onde há visibilidade, de divulgação, de marketing, que
propiciam ser reconhecido como as de modelo, ator, esportista, televisão...).
Muitos buscam a TV, ser entrevistados, aparecer em colunas de jornais. Em
si isso é bom, mas a atitude pode atrapalhar. Precisam de reconhecimento social
como condição fundamental para sentir-se bem. São felizes se e quando aparecem,
quando são solicitados, quando estão em evidência.
É bom ser chamado,
mas não posso depender disso, não posso ser infeliz se não me chamam nem focar
minha vida em função do reconhecimento público. Se vier, ótimo, o aceitarei com
prazer, mas não estarei ansioso pelo sucesso, pela aprovação, por ser
reconhecido. Continuo minha vida focando a aceitação, a mudança possível e a
interação tranquila com as pessoas e atividades que em cada etapa possuem
significado e que me ajudam a crescer.
A comunicação
autêntica estabelece conexões significativas na relação com o outro. Desarma as
resistências e provoca, geralmente, uma resposta positiva, ativa, e desarmada
dele. Em contrapartida, a comunicação agressiva gera reações semelhantes no
outro e pode complicar todo o processo subsequente.
A
cada dia confirmo mais a importância de termos mais e mais pessoas na sociedade
e especificamente na educação que sejam capazes de relacionar-se de forma
aberta com os outros, que facilitem a comunicação com os colegas, alunos,
administração e famílias. Pessoas maduras emocionalmente, que saibam gerenciar
os conflitos pessoais e grupais; que tenham suficiente flexibilidade para
compreender diferentes pontos de vista, e intuição para aproximar-se de forma
adequada a diferentes pessoas e formas de viver.
Necessitamos
urgentemente dessas pessoas para mudar o enfoque fundamental das práticas
educacionais, para vivenciar práticas mais ricas, abertas e significativas de
comunicação pedagógica inovadora, profunda, criativa, progressista.
Descubro, com satisfação, que mais e mais pessoas estão ou mudando ou querendo
mudar. Isso é um excelente sinal de que é possível realizar um grande trabalho
na educação brasileira. Vamos concentrar-nos nestes grupos que estão prontos
para o novo, que procuram aprender, que estão dispostos a avançar, a
experimentar formas mais profundas de comunicação pessoal e tecnológica.
Temos um longo trabalho, no campo político, de implementar ações estruturais de
apoio à mudança integrada, que contemple currículo, processos de comunicação e
tecnologias. Podemos ir incentivando as pessoas, grupos e instituições que
estão buscando soluções novas e sérias em educação. Na universidade podemos dar
subsídios teóricos e pedagógicos para essa mudança.
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