O que são Transtornos de Aprendizagem? Causas, tipos e tratamento.
Maria Alice
Fontes
fonte: internet.
Introdução
A aprendizagem vem
sendo estudada cientificamente desde o século passado, embora tenha tomado
maior espaço e relevância no meio acadêmico entre as décadas de 1950 e 1970.
Junto com os avanços obtidos com as pesquisas, diversos conceitos foram
apresentados como uma tentativa de melhor explicar a aprendizagem e como se dá
o seu processo. Apesar de existir diferentes conceitos, todos eles concordam
que a aprendizagem implica numa relação bilateral, tanto da pessoa que ensina
como da que aprende. Dessa forma, a aprendizagem é melhor definida como um
processo evolutivo e constante, que envolve um conjunto de modificações no
comportamento do indivíduo, tanto a nível físico como biológico, e do ambiente
no qual está inserido, onde todo esse processo emergirá sob a forma de novos
comportamentos.
Sendo a aprendizagem um processo constituído por diversos fatores, é importante ressaltar que além do aspecto fisiológico referente ao aprender, como os processos neurais ocorridos no sistema nervoso, as funções psicodinâmicas do indivíduo necessitam apresentar um certo equilíbrio, sob a forma de controle e integridade emocional para que ocorra a aprendizagem. Entretanto, "o desenvolvimento harmonioso da aprendizagem representa um ideal, uma norma utópica, mais do que uma realidade. Dessa forma, o normal e o patológico na aprendizagem escolar, assim como no equilíbrio psicoafetivo, não podem ser considerados como dois estados distintos um do outro, separados com rigor por uma fronteira ou um grande fosso"(Ajuriaguerra e Marcelli in Möojen, 2001). 2Apesar disso, é importante estabelecer uma diferenciação entre o que é uma dificuldade de aprendizagem e o que é um quadro de Transtorno de Aprendizagem. Muitas crianças em fase escolar apresentam certas dificuldades em realizar uma tarefa, que podem surgir por diversos motivos, como problemas na proposta pedagógica, capacitação do professor, problemas familiares ou déficits cognitivos, entre outros. A presença de uma dificuldade de aprendizagem não implica necessariamente em um transtorno, que se traduz por um conjunto de sinais sintomatológicos que provocam uma série de perturbações no aprender da criança, interferindo no processo de aquisição e manutenção de informações de uma forma acentuada. 1
O
que são Transtornos de Aprendizagem?
Os Transtornos de
Aprendizagem compreendem uma inabilidade específica, como leitura, escrita ou
matemática, em indivíduos que apresentam resultados significativamente abaixo
do esperado para o seu nível de desenvolvimento, escolaridade e capacidade intelectual.3,4,5
"Dificuldade de
aprendizagem é um termo geral que se refere a um grupo heterogêneo de transtornos
manifestados por dificuldades significativas na aquisição e uso da escuta,
fala, leitura, escrita, raciocínio ou habilidades matemáticas. Estes
transtornos são intrínsecos ao indivíduo, supondo-se que são devido à disfunção
do sistema nervoso central, e podem ocorrer ao longo do ciclo vital. Podem
existir junto com as dificuldades de aprendizagem, problemas nas condutas de
auto-regulação, percepção social e interação social, mas não constituem por si
próprias, uma dificuldade de aprendizado. Ainda que as dificuldades de
aprendizado possam ocorrer concomitantemente com outras condições
incapacitantes como, por exemplo, transtornos emocionais graves ou com
influências extrínsecas (tais como as diferenças culturais, instrução
inapropriada ou insuficiente), não são o resultado dessas condições ou
influências".
Atualmente, a descrição
dos Transtornos de Aprendizagem é encontrada em manuais internacionais de
diagnóstico, tanto no CID-10, elaborado pela Organização Mundial de Saúde
(1992), como no DSM-V, organizado pela Associação Psiquiátrica Americana
(2013). Ambos os manuais reconhecem a falta de exatidão do termo
"transtorno", justificando seu emprego para evitar problemas ainda
maiores, inerentes ao uso das expressões "doença" ou
"enfermidade"2.
No DSM-V
Quais
são as causas?
De acordo com o DSM-V,
o transtorno específico da aprendizagem é um transtorno do neurodesenvolvimento
com uma origem biológica que é a base das anormalidades no nível cognitivo as
quais são associadas com as manifestações comportamentais. A origem biológica
inclui uma interação de fatores genéticos, epigenéticos e ambientais que
influenciam a capacidade do cérebro para perceber ou processar informações
verbais ou não verbais com eficiência e exatidão.
A real etiologia dos
Transtornos de Aprendizagem ainda não foi esclarecida pelos cientistas, embora
existam algumas hipóteses sobre suas causas. Sabe-se que sua etiologia é
multifatorial, 6 porém ainda são necessárias pesquisas para melhor identificar
e elucidar essa questão. 4
O CID-10 esclarece que
a etiologia dos Transtornos de Aprendizagem não é conhecida, mas que há
"uma suposição de primazia de fatores biológicos, os quais interagem com
fatores não-biológicos". Ambos os manuais informam que os transtornos não
podem ser consequência de:
• descontinuidades educacionais
resultantes de mudanças de escola;
• traumatismos ou doença cerebral
adquirida;
• comprometimento na inteligência
global;
• comprometimentos visuais ou auditivos
não corrigidos;
Atualmente, acredita-se
na origem dos Transtornos de Aprendizagem a partir de distúrbios na
interligação de informações em várias regiões do cérebro, os quais podem ter
surgido durante o período de gestação. 4
O desenvolvimento
cerebral do feto é um fator importante que contribui para o processo de
aquisição, conexão e atribuição de significado às informações, ou seja, da
aprendizagem. Dessa foram, qualquer fator que possa alterar o desenvolvimento
cerebral do feto facilita o surgimento de um quadro de Transtorno de
Aprendizagem, 4 que possivelmente só será identificado quando a criança
necessitar expressar suas habilidades intelectuais na fase escolar.
Existem fatores sociais
que também são determinantes na manutenção dos problemas de aprendizagem, e
entre eles o ambiente escolar e contexto familiar são os principais componentes
desses fatores. 6 Quanto ao ambiente escolar, é necessário verificar a
motivação e a capacitação da equipe de educadores, a qualidade da relação
professor-aluno-família, a proposta pedagógica, e o grau de exigência da
escola, que, muitas vezes, está preocupada com a competitividade e põe de lado
a criatividade de seus alunos. Em relação ao ambiente familiar, famílias com
alto nível sociocultural podem negar a existência de dificuldades escolares da
criança. Há também casos em que a família apresenta um nível de exigência muito
alto, com a visão voltada para os resultados obtidos, podendo desenvolver na
criança um grau de ansiedade que não permite um processo de aprendizagem
adequado.
Quais
são os tipos de Transtornos de Aprendizagem?
Tanto o CID-10, como o
DSM-V apresentam basicamente três tipos de transtornos específicos: o
Transtorno com prejuízo na leitura, o Transtorno com prejuízo na matemática, e
o Transtorno com prejuízo na expressão escrita. A caracterização geral destes
transtornos não difere muito entre os dois manuais. 2
1. Transtorno da Leitura
O Transtorno da
Leitura, alternativamente conhecido como dislexia, é um transtorno
caracterizado por problemas no reconhecimento preciso ou fluente de palavras,
problemas de decodificação e dificuldade de ortografia. Dessa forma, pode-se
afirmar que se trata de um transtorno específico das habilidades de leitura,
que sob nenhuma hipótese está relacionado à idade mental, problemas de acuidade
visual ou baixo nível de escolaridade. 6
• Leitura de palavras de forma imprecisa
ou lenta e com esforço (p. ex., lê palavras isoladas em voz alta, de forma
incorreta ou lenta e hesitante, frequentemente adivinha palavras, tem
dificuldade de soletrá-las).
• Dificuldade para compreender o sentido
do que é lido (p. ex., pode ler o texto com precisão, mas não compreende a
seqüência, as relações, as inferências ou os sentidos mais profundos do que é
lido).
2.
Transtorno da Matemática
O Transtorno da
Matemática, também conhecido como discalculia, não é relacionado à ausência de
habilidades matemáticas básicas, como contagem, e sim, na forma com que a
criança associa essas habilidades com o mundo que a cerca. 1
A aquisição de
conceitos matemáticos e outras atividades que exigem raciocínio são afetadas neste
transtorno, cuja baixa capacidade para manejar números e conceitos matemáticos
não é originada por uma lesão ou outra causa orgânica.7 Em geral, o Transtorno
da Matemática é encontrado em combinação com o Transtorno da Leitura ou
Transtorno da Expressão Escrita.
O
Transtorno da Matemática, segundo o DSM-V, é caracterizado por:
• Dificuldades para dominar o senso
numérico, fatos numéricos ou cálculo (p. ex., entende números, sua magnitude e
relações de forma insatisfatória; conta com os dedos para adicionar números de
um dígito em vez de lembrar o fato aritmético, como fazem os colegas; perde-se
no meio de cálculos aritméticos e pode trocar as operações).
• Dificuldades no raciocínio (p. ex.,
tem grave dificuldade em aplicar conceitos, fatos ou operações matemáticas para
solucionar problemas quantitativos).
3.
Transtorno da Expressão Escrita
Um transtorno apenas de
ortografia ou caligrafia, na ausência de outras dificuldades da expressão
escrita, em geral, não se presta a um diagnóstico de Transtorno da Expressão
Escrita. Neste transtorno geralmente existe uma combinação de dificuldades na
capacidade de compor textos escritos, evidenciada por erros de gramática e
pontuação dentro das frases, má organização dos parágrafos, múltiplos erros
ortográficos ou fraca caligrafia, na ausência de outros prejuízos na expressão
escrita.
Em comparação com
outros Transtornos de Aprendizagem, sabe-se relativamente menos acerca do
Transtorno da Expressão Escrita e sobre o seu tratamento, particularmente
quando ocorre na ausência de Transtorno de Leitura. Existem algumas evidências
de que déficits de linguagem e percepto-motores podem acompanhar este
transtorno.
O
Transtorno da Expressão Escrita, de acordo com os critérios diagnósticos do
DSM-V, são:
• Dificuldades para ortografar (ou
escrever ortograficamente) (p. ex., pode adicionar, omitir ou substituir vogais
e consoantes).
• Dificuldades com a expressão escrita
(p. ex., comete múltiplos erros de gramática ou pontuação nas frases; emprega
organização inadequada de parágrafos; expressão escrita das ideias sem
clareza).
O Transtorno de Déficit
de Atenção e Hiperatividade (TDAH) é um dos transtornos neuropsiquiátricos mais
conhecidos na infância que ocasiona sérias dificuldades para o processo de
aprendizagem. Isto se deve à baixa concentração de dopamina e/ou noradrenalina
em regiões sinápticas do lobo frontal, leva o indivíduo a uma tríade
sintomatológica de falta de atenção, hiperatividade e impulsividade.
Atualmente, o DSM-V
trouxe algumas mudanças em relação ao TDAH; agora é possível estabelecer o
diagnóstico deste transtorno concomitantemente com o quadro de autismo, o que
antes não era possível. Anteriormente também, era necessário demonstrar que os
sintomas estivessem presentes antes dos 7 anos de idade, atualmente o limite de
idade foi modificado para 12 anos.
O novo DSM-5 traz a
opção de TDAH com Remissão Parcial, que deve ser empregado naqueles casos onde
houve diagnóstico pleno de TDAH anteriormente (isto é, de acordo com todos os
critérios), porém com um menor numero de sintomas atuais. Além disto, ma última
novidade do DSM-V é a possibilidade de se classificar o TDAH em Leve, Moderado
e Grave, de acordo com o grau de comprometimento que os sintomas causam na vida
do indivíduo.
Tratamento
A maioria das crianças
necessita de intervenção psicopedagógica e/ou fonoaudiológica e continua
participando das aulas convencionais oferecidas pela escola. Porém, existem
casos em que o grau do transtorno exige que a criança passe por programas
educativos individuais e intensivos. Independentemente do caso, é importante
que a criança continue a assistir e a participar das atividades escolares
normais. 7 Cabe ao profissional que acompanha a criança ou adolescente realizar
contatos com a escola a fim de estabelecer uma maior qualidade do processo de
aprendizagem, através da inter-relação dos aspectos exigidos pela escola e do
que a criança é capaz de oferecer para suprir tais necessidades. 7
Além de um melhor
enquadramento da proposta educacional, outras variáveis que implicam nos Transtornos
de Aprendizagem deverão passar por um processo terapêutico. Assim, é necessário
que ao se fazer uma avaliação de um quadro de Transtorno de Aprendizagem, o
profissional esteja atento para identificar se existem fatores psicológicos que
contribuem para a manutenção do problema. Caso esta variável esteja presente, o
psicólogo é o profissional indicado para tratar dos problemas emocionais
vinculados ao tipo de Transtorno. 4, 7
O tratamento
farmacológico, associado ao atendimento psicopedagógico deve ser dirigido por
um psiquiatra ou neurologista, sendo indicado, por exemplo, em casos nos quais
as capacidades de atenção e concentração da criança encontram-se debilitadas.
4, 7
Referências
Bibliográficas
• CIASCA, S. M. (org.) Distúrbios de
aprendizagem: proposta de avaliação interdisciplinar. São Paulo: Casa do
Psicólogo, 2003, 220p.
• MÖOJEN, S. M. P. Caracterizando os
Transtornos de Aprendizagem. In: BASSOLS, A. M. S. e col. Saúde mental na
escola: uma abordagem multidisciplinar. Porto Alegre: Editora Mediação, 2003.
• AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION.
Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais. 5ª edição. Porto
Alegre: Artmed, 2014.
• http://www.nimh.nih.gov/publicat/learndis.htm
• http://www.nichcy.org/pubs/factshe/fs7xt.htm
• SHINTANI, K.; ARMOND, L; ROLIM, V.
Dificuldades escolares.
http://www.infomed.hpg.ig.com.br/dificuldades_escolares.html
• LAFFUE, Transtornos Del aprendizaje.
Buenos Aires, 2002.
• http://www.tdah.org.br/br/textos/textos/item/964-entenda-o-tdah-nos-crit%C3%A9rios-do-dsm-v.html.
Acesso em 20/02/2015.
• http://www.tdah.org.br/br/textos/textos/item/1065-tdah-e-o-processo-de-aprendizagem.html.
Acesso em 20/02/2015.
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