segunda-feira, 18 de dezembro de 2017

5.1. Reflexões sobre o Processo de Alfabetização de
       Alunos Ouvintes numa Abordagem Construtivista

    Emília Ferreiro e colaboradores desenvolveram uma teoria de alfabetização que deixa de se fundamentar nos aspectos mecanicistas para seguir os pressupostos construtivistas - interacionistas de PIAGET e VIGOTSKI, onde o eixo principal do processo deixa de ser o ato de ensinar para se fixar no ato de construir, passando o educando a ser visto com um sujeito com um sujeito que constrói seu conhecimento, tornando-se capaz de agir sobre o mundo, transformando-o e, conseqüentemente, exercendo de forma plena sua cidadania.
    Dentro desta abordagem, termos como “prontidão” e “imaturidade” deixam de fazer sentido. A estimulação dos aspectos motores, cognitivos e afetivos de forma isolada e desarticulada da realidade da realidade sócio-cultural do educando são considerados prejudiciais. Cada um destes fatores é importante para construção do conhecimento, mas não se pode admiti-los separadamente.
    Para Ferreira, “hoje a perspectiva construtivista considera a interação de todos eles, numa visão política, integral para explicar a aprendizagem”.
    A questão dos diferentes níveis, nas salas de aula, deixa de ser característica negativa para assumir papel de importância no processo ensino-aprendizagem, onde a interação entre os alunos é fator imprescindível. Na alfabetização, as diferenças individuais e o ritmo são entendidos a partir dos níveis estruturais da aprendizagem da escrita, que, segundo Emília Ferreiro são:
    a)  Nível Pré-Silábico
    Neste nível a escrita é alheia a qualquer busca de correspondência com o som. Interessa ao aluno considerações como tipo e quantidade de grafismo. Neste nível o aluno:
- tenta a diferenciação entre desenho e escrita:
- reproduz os traços típicos da escrita, conforme seu contato com as formas gráficas, (cursivas ou imprensa), elegendo a mais familiar para utilizar em sua grafias;
- utiliza a grafia do seu nome para retirar elementos para escrita de outras palavras;
- concebe a hipótese de utilizar, no mínimo, duas ou três letras para poder formar palavras;
- percebe a necessidade de variar os caracteres para obter palavras diferentes.
    b) Nível Silábico
    Este nível subdivide-se em Silábico e Silábico Alfabético.
- Silábico: A criança (ouvinte) compreende que as diferenças de representações escritas se relacionam com as diferenças na pauta sonora das palavras. Surge a necessidade de utilizar uma grafia para cada som, fazendo uma utilização aleatória dos símbolos gráficos, empregando ora letras “inventadas”, ora apenas consoantes, ora vogais repetindo-as conforme o número de sílabas das palabras;
- Silábico Alfabético: Neste estágio de desenvolvimento da escrita, coexistem as formas de fazer corresponder os sons às formas silábica e alfabética, que induz a uma escolha de letras de forma ortográfica ou fonética.
    Ex.: SAPATO = SAPATO (ortográfica)
           SAPTU =SAPATO (fonética)
    c) Nível Alfabético
    É o último nível na aprendizagem da escrita. Momento em que o aluno chega aos seguintes entendimentos:
  • A sílaba não pode ser considerada uma unidade, podendo ser desmembrada em elementos menores;
  • A identificação do som não garante a identificação da letra, gerando as dificuldades ortográficas;
  • Para proceder a escrita é necessário a análise fonética das palavras.
    Após esta revolução conceitual a respeito da aprendizagem da escrita, faz-se mister que a dinâmica pedagógica também se revolucione. Assim, as atividades devem ser organizadas de modo a desafiar o pensamento dos educandos, gerando conflitos cognitivos que os façam repensar e reorganizar as idéias para alcançar novas resposta. Os conteúdos a serem assimilados surgem a partir de temas de interesse surgem da própria realidade do aluno, de suas necessidades, de seus problemas e de sua curiosidade sobre o que vê na comunidade, nos meios de comunicação, na família, etc. A relação professor/aluno dever basear-se no respeito mútuo, na cooperação, na troca de pontos de vista e numa crescente autonomia do educando.
    Desta forma, o professor, para se tornar construtivista, precisa desenvolver a habilidade de, respeitando o nível de desenvolvimento do educando, seus interesses e aptidões, acompanhar o seu raciocínio sem cortá-lo ou limitá-lo com perguntas ou orientações que impõem outra direção ao pensamento infantil, desviando-o do caminho que deseja ou a que pode chegar.


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