Atividades para alfabetizar
Construtivismo
na prática!
Sequências
didáticas para fazer o aluno avançar nos diferentes níveis:
-pré-silábico
-silábico
-silábico-alfabético
-alfabético
Para começar
Um
desafio e tanto
Ensinar a ler e
a escrever, hoje, é algo completamente novo. Não é raro encontrar professores que
tenham sido alfabetizados por um sistema, tido contato com outro durante a
faculdade, ao se tornarem educadores dessa área, se deparado com um terceiro
método.
Para ensinar com
qualidade, você já deve ter percebido que é fundamental se adaptar rapidamente
a tantas mudanças, além de buscar fundamentação teórica e prática, garantindo
estratégias adequadas para o sucesso escolar de seus pequenos. No contexto do
construtivismo, a alfabetização parte dos usos da leitura e da escrita que a
criança fará em seu cotidiano, e não mais apenas do domínio da escrita
alfabética, o que implica que todo o processo seja feito de modo diferente -
e,, para isso, é preciso conhecê-lo muito bem.
Hipóteses de escrita
O novo processo
de alfabetização só é possível com a participação ativa dos alunos, que constroem
seus próprios conceitos sobre a escrita. A meditação do adulto também é
essencial, e deve em consideração os conhecimentos prévios das crianças e a
hipótese de escrita em que cada uma encontra. Veja, nas paginas a seguir,
exemplos de atividades para cada etapa da construção alfabética de seus alunos.
Adapte e aproveite!
Nível pré-silábico
A escrita
pré-silábica se caracteriza pela não correspondência entre as letras e os sons
das palavras. Ao nomearem um animal ou objeto nessa fase, os pequenos escrevem
uma série de letras desconexas, e depois as leem sem fazer nenhum tipo de
análise. As letras conhecidas, como as do próprio nome da criança, por exemplo,
servem como referência para suas tentativas de escrita: isso acontece porque
elas ainda não conseguiram perceber que palavras diferentes não podem ser
escritas da mesma maneira.
Nesta etapa, os
pequenos também costumam relacionar o tamanho do objeto que ela representa,
utilizando, por exemplo, muitas letras para escrever “boi” e poucas para
“formiga”.
A fase
pré-silábica pode ser dividida em dois momentos:
No primeiro, os alunos conseguem distinguir um desenho
de uma escrita, reconhecendo o que é possível ler.
No segundo, organizam dois conceitos importantes para
o processo de alfabetização: que é necessário um mínimo de letras para formar
uma palavra inteligível e que, para a escrita, não se deve utilizar caracteres
aleatoriamente.
Construção da escrita
Objetivos: levar as crianças a perceberem a necessidade de elaboração de listas
(função da escrita); criar uma simulação que permita a exposição, na sala de
aula, das chamadas palavras estáveis, que poderão ser utilizadas em atividades
futuras.
Conteúdos trabalhados:
Apresentação do sistema alfabético
Apropriação dos procedimentos de revisão de texto
Características textuais do formato mural
Procedimentos iniciais de revisão de texto
1. Peça aos pequenos que escrevam, em seus cadernos, os
nomes de seus animais preferidos.
2. Quando terminarem, solicite que cada criança leia o
que escreveu.
3. Dê atenção individual aos alunos nesse momento. Passe
de carteira em carteira e avalie como cada criança escreveu o nome do seu bicho
predileto. Oriente-as a perceberem que, para nomearem diferentes animais,
precisam construir palavras distintas, com letras diversas e em ordem diferente
(lembre-se das características da fase pré-silábica).
4. Questione-os, por exemplo, se a palavra macaco possui
o mesmo som que o termo cachorro. Essa intervenção será muito importante para
que os alunos identifiquem a relação entre palavra e som e passem a buscá-la em
seus escritos.
5. Agora, atue como escriba e peça para os alunos dizerem
as suas preferências animais e anote na lousa o ditado da turminha. Aproveite a
ocasião para chamar a atenção do grupo para os diferentes sons das palavras que
você escreveu. Esse é o momento das crianças refletirem sobre a forma de
representação das palavras.
2º Etapa
Nível silábico
Instigue as crianças a buscarem correspondências fonéticas
nas palavras
Se você já
consegue identificar, na escrita de seus alunos, tentativas de dar um valor
sonoro para cada letra, é hora de desenvolver atividades do nível silábico.
Nessa etapa de alfabetização, as crianças descobrem que as palavras se dividem
em partes (letras), controladas pelas sílabas e quantidade de letras.
Os pequenos,
nessa fase, geralmente necessitam de um tempo maior para avançarem na leitura e
na escrita. Porém, esse é, o período de maior importância evolutiva do
letramento. Cada letra, para a turminha, vale por uma sílaba, e já se torna
possível “ler” o que escreveram (é a época de acompanhar a leitura com os
dedinhos!).
No nível
silábico, fica mais fácil, para o adulto, compreender a escrita da criança,
porém, é preciso desafiá-la sempre, para que não fique satisfeita simplesmente
por se fazer entender. O importante é provocar os alunos, ficando sempre de
olho no que eles escrevem nos cadernos e questioná-los se as palavras condizem
com o seu correspondente fonético. A escrita cultural, nos diferentes gêneros
textuais, continua a ser a fonte de referência para a construção das hipóteses
das crianças na alfabetização, como você confere a seguir.
Atividade 1 para desenvolver a escrita do nível
silábico
Objetivos: diferenciar a escrita de outras formas gráficas em anúncios e
embalagens; associar o desenho e a palavra grafada com objetos do meio social;
utilizar esses portadores textuais como escrita fixa para aplicar as sílabas em
outros textos.
Conteúdos trabalhados:
Leitura da imagem e sua relação com o texto, além da
intenção do anúncio publicitário (vender)
Identificação, localização e interpretação de aspectos
significativos da propaganda
Visão crítica da cultura do consumismo
Com seu
fascinante universo de cores, textos, fotos, ilustrações e imagens, a
publicidade envolve e cativa os pequenos devido ao seu alto apelo lúdico. Como
os anúncios já fazem parte do cotidiano da turminha exercite a leitura de
textos publicitários e embalagens a partir de produtos diversos.
1) Peça para os pequenos trazerem de casa embalagens,
jornais e revistas.
2) Faça uma roda com a turminha e espalhe, no centro, todo
o material coletado.
3) Oriente-os a observarem os anúncios publicitários,
refletindo sobre a intenção das mensagens e suas características gráficas. Faça
o mesmo com as embalagens, identificando logotipos e marcas.
4) Faça um levantamento, junto com a turminha, das
semelhanças e diferenças entre os dois textos e compare-os com gênero
jornalístico.
5) Leia os textos dos produtos em voz alta e faça comentários
sobre eles para os alunos. Peça que as crianças identifiquem letras e palavras
que foram lidas.
Dica:
Como complementação da atividade, construa um supermercado dentro da sala de
aula. Para isso, utilize as próprias embalagens de produtos e mais alguns
brinquedos que simbolizem outros itens e monte prateleiras divididas por
segmentos (latarias, cereais, grãos, farináceos, etc), com etiquetas de preços
arbitrários. Peça para cada aluno elaborar uma lista do que irá comprar no
mercado e seguir a relação de itens na hora de realizar a aquisição dos
produtos. Depois, oriente que façam uma nova lista, dessa vez escrevendo as
marcas de cada produto e registrando seu preço. Além de divertida, a
brincadeira do mercado dá sentido às aprendizagens das crianças, mostrando a
aplicação da língua escrita.
Atividade 2: para desenvolver a escrita do nível
silábico
OFICINA DE PUBLICIDADE
Que tal criar,
com os pequenos, uma miniagência de publicidade? Nessa atividade, as crianças
vivenciam o trabalho dos redatores e designers de propaganda ao elaborarem
textos persuasivos e com apelo comercial. Utilize as embalagens da sugestão
anterior para dar suporte ás peças publicitárias da turminha. Para enriquecer a
dinâmica, traga de casa revistas, jornais e panfletos publicitários e
ofereça-os às crianças como modelos para a realização da oficina.
Objetivos:
Elaborar textos
dentro do gênero publicitário para panfletos dos produtos do supermercado da
escola; refletir sobre a função desse tipo de texto.
Materiais:
Papel sulfite, cola,
tesoura, canetinhas hidrocor, jornais, revistas.
Conteúdos trabalhados:
Relação texto-imagem
Senso crítico em relação às propagandas
Prática da escrita do gênero publicidade
Observação e detalhamento de objetos
1. Espalhe pelo chão da sala de aula as embalagens e
produtos do mercado da atividade anterior. Pergunte aos pequenos se já viram
algum anúncio publicitário dos produtos ali disponíveis, conduzindo as
respostas para o conteúdo textual e para as imagens dos panfletos.
2. Divida a sala em trios e explique que cada equipe será
uma agência de publicidade. Solicite que escolham a embalagem que desejam
anunciar (uma para cada grupo)
3. Atribua às equipes a tarefa de criar um panfleto para
o produto escolhido. Ofereça como modelos os panfletos também utilizados na
sequência didática das embalagens.
4. Oriente a elaboração dos textos dos anúncios de cada
grupo: primeiro oralmente e depois um pré-texto, com contribuições de todos os
integrantes.
5. Façam uma revisão coletiva e corrija os textos junto
com cada trio.
6. Criem o panfleto com folhas sulfite, recortes de
revistas e jornal, cola, tesoura, e canetinhas hidrocor.
7. Para finalizar, tire cópias dos panfletos criados pela
turma e distribua-os pela escola, convidando os outros alunos a visitarem o
supermercado dos pequenos.
Nível silábico-alfabético
Utilize estratégias eficientes para desestabilizar as
hipóteses silábicas dos pequenos
A
redação de um convite para outras turmas da escola servirá de motivação para
uma escrita realmente comunitária.
Pedagoga
responsável: Elaine Naldi Martins
A palavra que
melhor caracteriza o nível silábico-alfabético é contradição. Trata-se de uma
fase transitória entre o silábico e o alfabético, em que a criança percebe que
sua construção silábica não corresponde aos modelos de escrita convencional que
ela vê em seu dia a dia, e descobre a necessidade de fazer uma análise que vai
além das sílabas. O resultado desse processo é uma escrita mista: ora o aluno
generaliza sílabas convencionais e ora representa uma sílaba com apenas uma
letra, porém com valor sonoro. Aparece também, com frequência, o uso de letras
“coringas”.
Uma boa dica,
nessa fase, é o trabalho com cruzadinhas. A ausência de letras nos
quadradinhos, em algumas palavras, faz com que a criança pense no caractere que
está faltando e elabore suas hipóteses ( ela já compreende que no total dos
quadradinhos está representada a escrita convencional da palavra). Conheça uma
sugestão que trabalha, na produção textual, a contradição nas hipóteses
silábicas dos pequenos.
Atividade para desenvolver a escrita do nível silábico-alfabético
Convite especial
Objetivos:
apresentar a estrutura textual de um convite; indicar a funcionalidade desse
gênero textual no dia a dia.
Conteúdos
trabalhados:
Procedimentos de escrita, revisão e correção
Características textuais dos convites: formato e
conteúdo
Diferenças entre bilhetes, cartas e cartazes
1. Leve para a sala de aula alguns modelos de convites,
para que os pequenos se familiarizarem com a estrutura do texto. Deixe que
explorem livremente os materiais e peça que comentem o que acharem.
2. Elabore, junto com a turma, um manual com instruções
necessárias para a redação de um convite, levando em consideração a estrutura
desse gênero textual.
3. Escrevam, coletivamente, um modelo de convite para que
os pequenos tenham contato com esse tipo de escrita.
4. Proponha uma motivação divertida para incentivar a
redação dos convites: peça que os pequenos escolham uma historinha de que
gostem para encenar, com fantoches, para outra turma da escola. Determine
personagens e incentive todos a participarem da dramatização.
5. Quando tudo estiver planejado, oriente cada aluno a
elaborar o seu convite, individualmente. Peça que troquem os textos entre si,
para que os colegas corrijam os erros que encontrarem. Em seguida, forneça a
cada criança um papel bem bonito e peça que passem o texto a limpo.
6. Oriente os alunos a entregarem o seu convite para uma
criança da escola, convidando-a para a apresentação.
7. Para finalizar, prepare com a turma uma recepção bem
bonita para a apresentação da peça aos colegas.
Dica:
Você pode propor
essa atividade em vários momentos diferentes, para incentivar a produção
textual e artística e também favorecer a socialização das crianças!
4ª Etapa
Nível alfabético
Ajude sua turma a desvendar o código escrito e se
encantar com a conquista do mundo letrado
Na fase
alfabética, a criança já consegue compreender que cada uma das letras da
escrita corresponde a partes sonoras e gráficas menores que a sílaba, numa
apropriação que se convencionou chamar de aquisição da base alfabética. Nesse
momento, portanto, é possível identificar, na escrita dos pequenos, uma
correspondência sistemática entre letras e fonemas, mesmo que, muitas vezes, a
ortografia não seja convencional.
Os pequenos, no
entanto, já demonstram preocupação com a grafia correta das palavras, mas ainda
podem cometer erros (completamente aceitáveis, aliás!), além dos famosos
“cortes” de palavras. E assim, com respeito ao ritmo de cada um e utilizando as
intervenções adequadas a cada momento, o código da escrita vai sendo desvendado
para a turminha, abrindo as portas para as inúmeras e fascinantes
possibilidades do mundo das letras. Promova esse encantamento em seus alunos a
partir da atividade a seguir, que envolve o delicioso universo das histórias
infantis:
Atividade para desenvolver a escrita do nível
alfabético
Reescrevendo Contos
Objetivos: organizar a história em partes: começo, meio e fim; reproduzir enredos
utilizando imagens como base.
Conteúdos trabalhados:
Conhecimentos sobre as características gerais das
narrativas e especificamente do conto em questão
Procedimentos de escrita: reconstrução oral elaboração
de pré-texto
Aprendizagem do sistema alfabético
Relação texto-imagem
1. Promova uma reflexão com seus alunos sobre o que é um
conto. Produzam, a partir da discussão, um manual de redação com regras
imprescindíveis para a elaboração de uma narrativa.
2. Escolha, com a ajuda da turma, um conto de que todos
gostem e faça a leitura. Dê preferência a historinhas já conhecidas pelos
alunos. Após a leitura, divida, coletivamente, a história em partes.
3. Eleja, aleatoriamente, algumas crianças para
desenharem as etapas da narrativa que separam anteriormente. Xeroque os
desenhos de acordo com o número de alunos da sua turma.
4. Analise o nível de escrita em que seus alunos estão. A
partir dessa avaliação, forme duplas e entregue uma cópia dos desenhos para
cada. Procure unir alunos que estão em etapas diferentes na evolução da
escrita, para que um ajude o outro.
5. Peça que cada dupla pinte as ilustrações à sua
maneira. Depois, coloque a história na ordem correta dos acontecimentos.
6. Organize a hora do conto das historinhas produzidas
pelas crianças. Em seguida, peça que redijam por escrito a história que
relataram.
7. Troque as produções textuais entre as duplas, para que
cada uma revise o texto dos colegas de acordo com o manual de redação produzido
anteriormente. Após a correção, peça que os autores passem as composições a
limpo. Para finalizar, analise os textos dos pares, apontando as melhorias que
podem ser feitas.
8. Quando as histórias estiverem prontas e passadas a
limpo, proponha aos pequenos a criação de um livro de contos reescritos, com
textos de todos. Para isso, solicite que cada criança faça um desenho bem
bonito num pedaço pequeno de papel. Una todas as ilustrações para formar a capa
do livro.
9. Faça a montagem da obra da turminha em um caderno de
50 folhas ou digite o conto no computador e imprima. Acrescente a capa e faça
as finalizações necessárias. Para agitar as crianças, promova uma tarde de
autógrafos com os professores e os alunos de outras turmas. Por fim, entregue o
exemplar para a biblioteca da escola.
Encerramento
... Ao tomar decisões didáticas na alfabetização,
considere o seguinte:
1.
O nível de desafio: as atividades devem ser, ao mesmo tempo, possíveis e
difíceis, ou seja situações-problema que obriguem a pensar e a tomar decisões.
2.
As intervenções mais adequadas: as perguntas, sugestões e informações que você,
educador, oferece às crianças devem favorecer a reflexão sobre as
características e o funcionamento da escrita, para que os alunos possam avançar
em seus conhecimentos.
3.
Os agrupamentos: devem ser produtivos para a aprendizagem de todos.
Para defini-los, você deve se basear no conhecimento que tem sobre as crianças
e no objetivo da proposta. É importante que a distância entre os saberes dos
alunos (sobre a escrita) não seja muito grande, para que um represente desafio
para o outro. Se não, há o risco daquele que já escreve fluentemente de forma
alfabética atropelar o que está descobrindo as letras.
4.
A criança não é hipótese de escrita: ela tem hipóteses provisórias, que não devem se
transformar em adjetivos ou rótulos, tampouco em critérios para formação de
classes pretensamente homogêneas.
5.
As hipóteses de escrita revelam o conhecimento da
criança num determinado momento: não são perenes e transformam-se à medida que a criança reflete sobre as
características e o funcionamento da escrita convencional, o que só acontece a
partir do universo de informações, intervenções e situações didáticas que o
professor oferece para a turma.
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