domingo, 22 de outubro de 2017

O QUE É A DISLEXIA?
UMA DIFICULDADE DE APRENDIZAGEM ESPECÍFICA DA LEITURA
Cerca de 2 a 10% da população tem dislexia, ou seja, existe um número muito significativo de pessoas que não consegue ler fluentemente e/ou que não consegue compreender aquilo que leem. Para estas pessoas ler exige um esforço tremendo para discriminarem as letras, juntá-las para formarem palavras e ainda para compreenderem o significado desse conjunto de palavras. Cerca de 48% dos alunos com necessidades educativas especiais têm dislexia. Os alunos que têm estas dificuldades não são preguiçosos, imaturos, não têm problemas visuais ou posturais, não são pouco inteligentes, nem é por não gostarem de ler que têm dificuldades, estas são intrínsecas. Eles verdadeiramente necessitam de um apoio específico e de adaptações no processo de ensino-aprendizagem, para que consigam ter sucesso.
A dislexia é considerada uma dificuldade crónica, que se manifesta pela dificuldade em aprender a ler, sem que tal esteja relacionado com a qualidade do ensino, o nível intelectual, as oportunidades socioculturais, nem com alterações sensoriais. Estas dificuldades têm uma base neurobiológica, ou seja, existem alterações na estrutura e funcionamento neurológico, e têm influências genéticas.
As principais características escolares observáveis são uma leitura lenta, silábica, sem ritmo, com leitura parcial de palavras, substituição de palavras, repetições, hesitações e correções constantes, confusões quanto à ordem das letras e confusão entre os sons semelhantes.


Quando são detetadas estas dificuldades num aluno, este deve ser encaminhado para uma avaliação psicopedagógica, para que seja feito o despiste de dislexia por uma equipa multidisciplinar. A avaliação deve incluir a história clínica do aluno, a recolha de informação dos professores, uma avaliação cognitiva e comportamental, a avaliação da consciência fonológica, da linguagem oral e da leitura para determinar o nível de leitura em que o aluno se encontra, caracterizar o tipo de erros, a sua intensidade, frequência e duração. A dislexia não se diagnostica antes do ensino da leitura, mas podem ser avaliados os pré-requisitos em idade pré-escolar, não se diagnostica com um exame oftalmológico, postural, ou através de EEG, TAC ou RMF.
Com base nos resultados da avaliação deve ser delineado um plano de intervenção, que deve ser partilhado entre técnicos, família e escola, para que todos trabalhem em equipa. A intervenção deve ser o mais regular e intensiva possível, a instrução deve ser ajustada às necessidades da criança e deve haver um ensino explícito e muitas oportunidades de prática. A investigação tem revelado a importância de se elaborar um programa de intervenção que inclua o treino do conhecimento das letras, da consciência fonológica, do princípio alfabético, da descodificação, da fluência, do vocabulário e da compreensão. Não existem evidências científicas que comprovem a eficácia de exercícios oculares ou da utilização de lentes especiais.
Deve ser, portanto, efetuado um treino explícito da consciência fonológica e a aprendizagem estruturada da leitura, utilizando variadas metodologias que se adequem ao aluno. Estes alunos têm direito a adaptações na sala de aula (organização, estratégias, apoio) e nos processos de avaliação, para que possam ter iguais oportunidades de êxito aos seus colegas.
Concluindo, a dislexia é uma perturbação que está altamente relacionada com a aprendizagem da leitura, mas que também pode ter consequências noutras áreas académicas e em aspetos emocionais, comportamentais e da vida quotidiana. A intervenção deve, idealmente, começar antes da entrada no primeiro ciclo, para que a criança possa já ter os pré-requisitos da aprendizagem da leitura. Com uma intervenção precoce e adequada conseguem-se ultrapassar cerca de 90% das dificuldades, quando adiamos esta intervenção, esta percentagem diminui notoriamente. Para além dessas áreas ainda é fundamental que se proporcionem experiências e expectativas positivas em relação à leitura, o mais cedo possível.


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