A TRAJETÓRIA
DA EDUCAÇÃO INFANTIL NO BRASIL
RESUMO
O objetivo deste artigo é
permitir ao leitor uma visão do processo de instalação e reconhecimento da
educação infantil no Brasil, enfocando-se as concepções assistencialista e
compensatória da educação. Permite também que ao leitor uma compreensão do
atual significado de infância e de criança na sociedade moderna.
PALAVRAS-CHAVE
Educação Infantil, educação
assistencialista, educação compensatória, infância, criança cidadã
1. INTRODUÇÃO
Com o crescimento da
urbanização e transformação da família de patriarcal para nuclear é que se deu
a construção de uma idéia de educação infantil.
As primeiras idéias de
infância e educação infantil se baseavam na concepção de criança enquanto ser
que precisava ser cuidado. As mães precisavam trabalhar fora para complementar
a renda da família e necessitavam de um local para deixarem seus filhos.
Depois de muito tempo é que a
educação infantil foi reconhecida como uma etapa importante na vida da criança
e reconhecida por lei.
A idéia que se tem hoje de
criança enquanto sujeito, demorou muitos anos até ser aceita na sociedade.
O presente artigo tem por
objetivo discutir a trajetória da educação infantil no Brasil, destacando-se o
caráter assistencialista, o caráter compensatório e a visão de infância
predominante na sociedade atual.
2. DESENVOLVIMENTO
Há mais de cem anos já
existia no Brasil iniciativas para a expansão da Educação Infantil. Porém, foi
somente nas últimas décadas que ela foi reconhecida realmente.
Até o século XVII, a criança
nem era reconhecida por suas particularidades. Ela era vista como um brinquedo,
do qual os adultos só gostavam pelo prazer e distração que proporcionava.
Quando crescia e não distraía mais os adultos, deixava de interessar aos
mesmos. Foi somente a partir do século XVIII que os adultos começaram a
modificar sua concepção de criança. Mas, assim mesmo, seu lugar ainda não era o
mais privilegiado na família.
Com a Proclamação da República,
o Brasil começou a passar por um processo de grande modernização e
industrialização. As mulheres passaram a fazer parte do mercado de trabalho e
as crianças não tinham para onde ir.
Surgiram então as “mães
mercenárias”, que cuidavam de várias crianças juntas para suas mães trabalharem
fora. Nesse período, aumentou-se o número de mortalidade infantil devido às
péssimas condições de higiene nas casas onde as crianças ficavam e também à
ausência da mãe, que tornava a criança mais triste e vulnerável.
Foi nesse contexto que
surgiram as primeiras creches e pré-escolas. No começo elas eram filantrópicas
ou mantidas pelos próprios usuários e, somente mais tarde, elas se tornaram
públicas.
A princípio, as creches e
pré-escolas tinham um caráter assistencialista, visando somente o guardar e o
cuidar da criança na falta da família. Essa concepção, tratava a criança como
um ser frágil, indefeso e completamente dependente. Os profissionais não tinham
formação e sua atuação era restrita aos cuidados básicos de higiene e regras de
bom comportamento.
A partir de 1970, a entrada
de mulheres no mercado de trabalho aumentou consideravelmente, o que resultou
num crescimento significativo de creches e pré-escolas. Uma nova ênfase começou
a ser dada ao trabalho nestas instituições. Buscou-se uma compensação não só
das carências orgânicas, como também uma carência de ordem cultural. O
pressuposto nesta visão compensatória da educação era de que o atendimento
pré-escolar poderia remediar as carências das crianças mais pobres.
As propostas de trabalho
foram direcionadas para as crianças de baixa renda, estimulando-as precocemente
e preparando-as para a alfabetização, como forma de superar as condições
sociais em que viviam. O objetivo principal da educação compensatória era o de
promover oportunidades educacionais no caráter social e cultural compensando-se
o déficit linguístico das crianças. As crianças mais pobres eram consideradas
carentes.
Já nos jardins-de-infância
das crianças provenientes de famílias de classe média, a educação não tinha o
mesmo caráter compensatório. O trabalho envolvia também o desenvolvimento dos
aspectos afetivos e cognitivos das crianças.
Com o aumento da demanda por
pré-escolas, a educação infantil passou por um processo de municipalização. O
caráter da educação agora não era mais assistencialista ou compensatório, mas a
pré-escola tinha uma função educativa. Muitos educadores da época discutiram o
papel das creches e pré-escolas e elaboraram novas programações pedagógicas
visando o desenvolvimento cognitivo e lingüístico.
Em 1988, com a promulgação da
Constituição Federal, a educação foi reconhecida como um direito de todas as
crianças e um dever do Estado. Houve uma expansão do número de escolas e uma
melhoria na formação dos profissionais.
Também na década de 90, com a
promulgação do ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente), os direitos das
crianças foram concretizados.
E, finalmente, com a Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional, a LDB de 1986, a educação infantil é
reconhecida como etapa inicial da educação básica. A educação infantil passa a
ser vista por um novo ângulo, valorizando-se a criança e a sua cultura,
considerando-a ativa e capaz de construir o seu próprio conhecimento. O
professor passa a assumir um novo papel, o de mediador entre a criança e o
mundo. A família é co-participante do processo de ensino-aprendizagem. Os
conteúdos são desenvolvidos de maneira lúdica, respeitando-se a bagagem
cultural de cada um. Foi criado, inclusive, um Referencial Curricular Nacional
para a Educação Infantil, de maneira a levar a todas as escolas novas propostas
pedagógicas diretamente voltadas para a criança tal como ela é.
3. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A infância é algo que está em
construção permanente. Ela nunca foi sempre igual. Variou durante toda a
história. Ela deixou de ser objeto apenas de cuidados maternos para ser objeto
dos deveres públicos do governo.
Durante muito tempo, a
criança não foi considerada como um sujeito de direitos. Ela vivia à margem da
família e da sociedade. Hoje, ela já é considerada como alguém que tem
identidade própria, um cidadão de diretos.
Enquanto educador da
infância, o professor precisa ter consciência do seu trabalho enquanto uma
função também social. É preciso valorizar a infância como ela é e conhecer suas
diferentes fases de maneira a oferecer uma educação adequada e compatível com a
criança.
A pré-escola não pode ser
mais considerada como um lugar de cuidados básicos de higiene e boa educação,
ou como um curso preparatório para o ingresso no ensino fundamental. A escola,
inclusive a de educação infantil, deve preparar o aluno para ser um cidadão
participativo e consciente na sociedade onde vive.
4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BADINTER, Elisabeth. Um amor conquistado: o mito do amor materno.
Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1985.
BARRETO, Angela Maria Rabelo
Ferreira. Situação atual da
educação infantil no Brasil. In: MEC/CEF. Subsídios para
reconhecimento e funcionamento da educação infantil. Brasília, 1998.
Autor: Sandra Mara
Cardoso Martins
Fonte: https://pedagogiaaopedaletra.com/a-trajetoria-da-educacao-infantil-no-brasil/
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