O QUE É O FASCISMO?
Diferente de
outras correntes ideológicas,
o fascismo é um termo de difícil definição, que pode apresentar diversos
significados dependendo do enfoque escolhido e das características acentuadas.
Assim, ainda não existe um conceito de fascismo universalmente
aceito.
Segundo o filósofo e
historiador Norberto Bobbio, o termo fascismo se refere principalmente à sua
dimensão histórica, constituída pelo fascismo italiano e posteriormente pelo
fascismo alemão.
Apesar da dificuldade
em encontrar uma única definição para o fascismo, as características observadas
em diversos regimes fascistas possibilitam a elaboração de uma definição geral,
que frisa os aspectos mais comuns desse regime. Confira quais são esses
aspectos a seguir.
QUAIS SÃO AS PRINCIPAIS
CARACTERÍSTICAS DO FASCISMO?
De forma geral, o
fascismo é um regime autoritário com concentração total do
poder nas mãos do líder do governo. Esse líder deveria ser cultuado e
poderia tomar qualquer decisão sem consultar previamente os representantes da
sociedade. Além disso, o fascismo defende uma exaltação da coletividade
nacional em detrimento das culturas de outros países.
Além
de totalitários, os governos fascistas objetivavam expandir seu
território através de conflitos internacionais e, para isso, realizavam
altos investimentos na produção de armas e equipamentos de guerra.
Para garantir a
manutenção de seu governo, os líderes fascistas controlavam os meios de
comunicação de massa, por onde divulgavam sua ideologia e controlavam
todas as informações disseminadas. Qualquer crítica ao governo era aniquilada
mediante uso da violência e do terror. Aqueles considerados inimigos do
governo eram punidos com prisão ou morte.
O FASCISMO NA ITÁLIA
Com o fim da Primeira
Guerra Mundial, a Itália passava por uma forte instabilidade social, política e econômica.
Mesmo integrando o grupo de países vitoriosos na Primeira Guerra, a Itália foi
ignorada nos tratados pós-conflito e acabou não conquistando benefícios que
compensassem as perdas sofridas durante a guerra. Ao mesmo tempo, a lenta
industrialização e as gritantes diferenças socioeconômicas entre o norte e sul
do país dificultavam o crescimento econômico do país, o que gerava desemprego e
cada vez mais miséria.
Este contexto mobilizou
diversos grupos a encontrarem uma solução para o decadente sistema em que se
encontrava o país, o que resultou no crescimento dos partidos mais alinhados
à esquerda,
como os comunistas, socialistas e anarquistas.
É no contexto de
surgimento desses grupos que surgiu o fascismo, destacando-se como
líder Benito Mussolini, que comandou um grupo chamado Fascio de
Combate. Posteriormente, esse grupo formaria o Partido Nacional Fascista
(PNF).
Em 1922, os fascistas
realizaram a Marcha sobre Roma, uma manifestação pedindo que o Rei Vitor
Emanuel III transferisse o poder para as mãos do Partido Nacional Fascista.
Pressionado, o
rei convidou Mussolini para fazer parte do governo.
Inserido na esfera do
poder político central, os fascistas puderam iniciar seu projeto autoritário e
centralizador. Nas eleições de 1924, depois de uma ampla reforma eleitoral que
beneficiava os interesses do PNF, os fascistas conquistaram ⅔ do Congresso,
ainda que sob alegações do partido socialista de que as eleições haviam sido
fraudadas.
Com os partidários
fascistas no poder, começava a ditadura fascista, em que o “duce”
Mussolini era o líder da nova política italiana. O poder legislativo foi
enfraquecido, os meios de comunicação foram fechados, todos os partidos à
exceção do PNF foram colocados na ilegalidade e a pena de morte passou a
ser legalizada.
Além disso, o Estado
passou a controlar a economia e tanto as organizações
trabalhistas, quanto qualquer forma de oposição ao
governo central foram enfraquecidas e desorganizadas.
Com a crise de 1929, a
prosperidade econômica vivida no início do regime fascista começou a ser
ameaçada. Tentando contornar esse cenário, o governo Mussolini
decidiu entrar para a corrida imperialista, buscando restaurar os domínios
do antigo Império Romano. Após invasões das tropas italianas a regiões da
África, começaram as tensões diplomáticas que conduziram a Europa para a
Segunda Guerra Mundial, momento em que Mussolini se aproximou do regime
nazista alemão.
O FASCISMO NA ALEMANHA
Adolf Hitler em
discurso à juventude nazista. Foto: História Digital
Na Alemanha, no período
após o fim da Primeira Guerra Mundial, surge um regime autoritário bastante
conhecido, que compartilhou diversas características do fascismo. Esse regime é
o nazismo, que teve como principal líder Adolf Hitler.
Ao sair derrotada da
Primeira Guerra, a Alemanha enfrentou uma profunda crise econômica,
sobretudo em função do Tratado de Versalhes,
que declarava oficialmente a Alemanha como derrotada na guerra e que impunha
sanções ao país, como perda de territórios e proibição de qualquer produção de
armas pesadas, além de obrigar a Alemanha a pagar uma indenização aos países
vitoriosos.
Esse cenário
pós-Primeira Guerra criou nos alemães um sentimento de revanchismo em relação a
outros países, o que fortaleceu o extremismo nacionalista no país.
Com o fim da guerra,
o regime
monárquico alemão chegou ao fim, dando início à República
de Weimar. Nesse período, a Alemanha consegue resultados satisfatórios do ponto
de vista econômico, principalmente por causa dos investimentos estrangeiros,
vindos sobretudo dos Estados Unidos.
Todavia, a crise de
1929 deixa a economia alemã em situação crítica novamente. Nesse momento, o
discurso nazista conquista seguidores, prometendo retomar o
crescimento do país através de um Estado Forte.
Articulados dentro da
República de Weimar e representados pelo Partido Nacional Socialista
dos Trabalhadores Alemães, os nazistas conquistaram 37% dos votos nas eleições
de 1932, ocupando 230 cadeiras no Parlamento.
No ano seguinte, os
adeptos ao Partido Nazista pressionavam o presidente Paul Von Hindenburg
a conceder mais poderes a Hitler.
Com a pressão, Hitler foi indicado a chanceler e posteriormente assumiu o cargo
de presidente, além de se auto nomear “o Führer ”. Começava assim o regime
nazista na Alemanha.
A ditadura de Hitler
teve como principais características a militarização da sociedade alemã, a
exaltação do líder e o controle através da intensiva máquina de propaganda, que
utilizava os meios de comunicação para disseminar as ideias nazistas.
As características
principais do nazismo são apresentadas na
obra Mein Kampf, escrita por Hitler durante seu período na prisão. Uma das
suas mais conhecidas medidas foi o antissemitismo, marcado pela visão
racista e eugenista da superioridade do homem branco germânico, a chamada raça
ariana. Essa visão resultou na morte de mais de 6 milhões de pessoas em
campos de concentração, a grande maioria formada por judeus.
Outra característica do
regime nazista foi a visão expansionista, justificada por uma crença de
que o mundo deveria ser dominado pela raça ariana. Com o início da Segunda
Guerra Mundial, Hitler tentou invadir diversos territórios.
Em 1941, Hitler tenta
invadir a União Soviética. Com o inverno rigoroso, as tropas alemãs foram
cercadas e derrotadas. Nesse momento, o governo nazista atinge seu declínio e,
em 1945, Hitler é derrotado e seu regime chega ao fim.
AFINAL, O FASCISMO É DE
ESQUERDA OU DIREITA?
Já explicamos que ainda
não existe uma definição universal sobre o fascismo, e que o termo é entendido
sobretudo através da análise de características em comum encontradas nas
experiências fascistas ocorridas na história. Por isso, torna-se difícil situar
o fascismo dentro do espectro ideológico.
Comumente, o fascismo é
tido como parte da extrema-direita, principalmente pela sua notável oposição
ao socialismo. As experiências fascistas contaram com amplo apoio dos
banqueiros e industriais, tanto na Itália quanto na Alemanha.
Todavia, o fascismo
também se opôs ao liberalismo, sobretudo na defesa do Estado forte e dos
interesses de massa em detrimento dos interesses individuais. Não
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De acordo com Norberto
Bobbio, as divergências entre o fascismo italiano e o alemão aparecem ao se notar
que o primeiro apresentou um caráter revolucionário e radical de esquerda,
enquanto o segundo foi essencialmente reacionário e radical de direita.
CONCLUSÃO
Embora o fascismo na
Itália e na Alemanha sejam as experiências mais conhecidas, as experiências
fascistas não se restringiram a elas. Em Portugal, por exemplo, o regime
fascista foi comandado por Antônio de Oliveira Salazar entre 1932 e
1968. Já na Espanha, apareceu durante o governo de Francisco Franco, de
1939 a 1976.
A influência dos
regimes fascistas chegou até mesmo ao Brasil. Logo após a Revolução de 1930
surge o integralismo, que influenciado pelo fascismo italiano
combatia os defensores do pensamento de esquerda. Sua principal liderança foi
Plínio Salgado.
Ainda que tenha entrado
em crise após a Segunda Guerra Mundial, o fascismo continua a ganhar força em
contextos de crise, seja ela econômica, política ou social. Alguns aspectos da
ideologia fascista aparecem até hoje em grupos e partidos políticos, como os na
Europa que defendem plataformas políticas baseadas na aversão a estrangeiros.
E você, acha que o
fascismo existe no cenário brasileiro? Deixe a sua opinião.
Fontes:
BOBBIO,
Norberto, MATTEUCCI, Nicola e PASQUINO, Gianfranco. Dicionário de
Política. São Paulo: Editora UnB. 2004.
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