segunda-feira, 27 de fevereiro de 2017

A LEITURA E A ESCRITA – ETAPAS DO DESENVOLVIMENTO DA LINGUAGEM
Por Leila em 05/03/2010
A linguagem oral (fala) é uma característica biologicamente determinada que se desenvolve de forma natural e espontânea se existir um ambiente estimulante e, se a criança não apresenta nenhum distúrbio à nível fonoarticulatório, o mesmo não acontece com a leitura e a escrita.
A leitura e a escrita não são características genéticas da espécie humana e, portanto, sua aquisição requer esforço e a existência de um ambiente estimulante.
A leitura e a escrita não podem ser consideradas atividades isoladas no processo de desenvolvimento da criança.Estes dois processos gráficos fazem parte da evolução da linguagem que se inicia logo nos primeiros dias de vida da criança.


DESENVOLVIMENTO DA LINGUAGEM
São cinco as etapas inter-dependentes e sequencializadas do desenvolvimento da linguagem.Inter-dependentes porque cada uma depende da anterior para se desenvolver e, sequencializadas, pois obedecem uma seqüência de desenvolvimento.
a)aquisição do significado: a criança adquire a noção e a função dos objetos que a rodeiam atribuindo-lhes um significado social.É através da observação e da experimentação que a criança relaciona os objetos aos seus respectivos significados.Exemplo: ao observar que a mamadeira é usada para tomar leite, este objeto adquire uma função e uma noção dentro do universo. b)compreensão da linguagem falada: os objetos que adquiriram significado são associados aos seus nomes.Exemplo: o nome mamadeira ao ser repetido pela mãe, frente ao objeto, torna-se, por si só, um estímulo que evoca o objeto.Sempre que o nome mamadeira for dito, evocará a imagem do objeto que se encontra armazenado na memória da criança.
c)expressão da palavra falada: apesar da criança já ter adquirido o significado dos objetos e a compreensão da palavra falada, os sons emitidos por ela pouco se assemelham aos sons emitidos pelos adultos.O som /ca/ pode querer dizer mamadeira.É à partir dessa fase, que o comportamento vocal (fala) da criança começa a se assemelhar à fala do adulto, pois a criança compara os sons que emite aos sons falados pelos adultos e imita-os.A fala se desenvolve por imitação.
d)compreensão da palavra impressa: leitura.
e)expressão da palavra impressa: escrita.
Observamos que as etapas que envolvem a compreensão são anteriores às que envolvem a expressão.Assim, as crianças compreendem o que os pais falam para depois expressarem-se através dela (escrita).Primeiro a criança aprende a ler para depois aprender a escrever.Crianças que não compreendem a palavra impressa podem até realizar a cópia das palavras e frases mas, dificilmente, conseguirão realizar um ditado ou uma redação.Neste caso, a cópia não pode ser considerada escrita mas, a mera reprodução (sem sentido) de letras e de palavras já que estas crianças não entendem o que estão escrevendo.Exemplificando: uma criança que apresente dificuldades para expressar-se verbalmente, a leitura e a escrita também serão afetadas; uma criança que apresente dificuldades para ler, sua escrita também será comprometida; uma criança que não tenha adquirido a aquisição dos significados, dificilmente compreenderá a palavra falada, dificilmente se expressará oralmente e, apresentará sérias dificuldades para ler e escrever.
LEITURA
#identificação dos símbolos impressos (letras, palavras)
#relacionamento destes símbolos com os sons que eles representam
No início do processo de aprendizagem da leitura, a criança tem que diferenciar visualmente cada letra impressa e, perceber que cada símbolo gráfico tem um correspondente sonoro.Ao entrar em contato com as palavras, a criança deverá discriminar visualmente cada letra que forma a palavra, a forma global da palavra e, associá-la ao seu respectivo som, formando uma unidade lingüística significativa.
Se a associação da palavra impressa e som não for realizada, a criança não poderá ler, pois as letras e as palavras não terão correspondentes sonoros.A criança que não consegue fazer a associação palavra impressa e som, quando se depara com a palavra pato, esta não passa de um desenho porque não tem correspondência com sua linguagem falada.Este processo é chamado decodificação e é essencial para que a criança aprenda a ler.Não basta apenas realizar a decodificação dos símbolos impressos, é necessário que exista também, a compreensão e a análise crítica do material lido.
*compreensão – relacionar as palavras que são decodificadas aos seus respectivos significados (objetos).Exemplo: quando uma criança lê a palavra pato, esta deverá ser associada ao animal pato.Se a criança nunca viu um pato, não compreenderá o significado da palavra que decodificou.Só se pode considerar realmente que uma criança lê quando existe compreensão.Quando a criança decodifica e não compreende, não se pode afirmar que ela esteja lendo.
*análise crítica – ao se ler uma frase ou um texto, o leitor deverá reagir às idéias impressas.As reações podem ser emocionais (gostei, não gostei, simpatia, antipatia…) ou intelectuais (exatidão, inexatidão, análise social…).Cada indivíduo vai construindo, de acordo com sua experiência, um referencial de idéias e pensamentos que servem de base para a realização da análise crítica.(Antônio M. P. de Moraes)


ESCRITA
Este ato é o inverso da leitura.Se na leitura se estabelece uma relação entre palavra impressa-som-significado, na escrita a relação estabelecida é entre o som-significado-palavra impressa (que é o que se escreve).
De acordo com Nieto (1975) ao copiar, iniciamos por fazer uma discriminação visual de todos os detalhes das letras e do formato da palavra que está servindo como modelo.Daí relacionamos os símbolos impressos (a letra e a palavra) aos respectivos sons, aos movimentos articulatórios (mesmo que a criança não pronuncie em voz alta), aos movimentos gráficos (traçado gráfico a ser executado), aos significados (conceitos) e, só então, reproduzimos graficamente a palavra modelo.
Para melhor compreender este processo, peço que você copie as frases abaixo na ordem proposta:
-Lê Manuel au format életronique, à savoir…
-O manual eletronico de ajuda rápida oferece…
-O manual eletrônico de ajuda rápida oferece…
Qual foi a frase mais fácil de ser copiada? E a mais difícil?
A grande maioria dos leitores têm pouco contato com as duas primeiras frases.Então, a frase mais fácil de ser copiada foi a última, que a mais difícil foi a segunda e, se compararmos a cópia da primeira com a de em português, a primeira acarretou maior dificuldade para ser realizada.
Este fato aconteceu porque se desconhece o significado que as duas primeiras frases encerram.Mas, se antes de ser realizada a cópia da frase em francês, eu tivesse dito o significado, facilitaria o processo da cópia? Não!!! Pois a dificuldade sentida em reproduzir graficamente as palavras visualizadas continuaria porque a resposta não é apenas o conhecimento ou não do significado mas algo anterior a este conhecimento, ou seja, se consigo ou não ler a frase que está na minha frente.
Se conseguimos relacionar os símbolos gráficos (letras) aos respectivos correspondentes sonoros (sons) e, agora sim, atribuir-lhes um significado, ao se visualizar a frase pode-se até antecipar e até prever as letras ou as palavras que vão surgir à medida que os olhos se deslocam ao longo da linha.O processo é rápido (as palavras são copiadas em sua totalidade e não letra por letra ou sílaba por sílaba) e, passa a ter um significado para aquele que realiza tal atividade.
Se apenas se discriminam visualmente as letras e logo se parte para a reprodução gráfica das mesmas, a cópia é lenta, cansativa e sem qualquer significado.Pode-se afirmar que as sensações sentidas frente à cópia das duas primeiras frases, são as mesmas sensações que uma criança sente durante a cópia de uma frase em português mas, que ela não sabe ler! Nas duas primeiras frases eu discriminei visualmente as letras e as reproduzi.Pulei o restante do processo envolvido no comportamento da cópia.
No ditado, as palavras ditadas oralmente devem ser discriminadas e diferenciadas auditivamente, depois são associadas aos significados, à sua forma gráfica (letras e sílabas que compõem a palavra ouvida e seus respectivos traçados) e, são escritas, devendo-se respeitar a orientação têmporo-espacial.
Eis aqui outro exemplo que demonstra como a leitura também impregna esta atividade gráfica…imaginemos que o professor dita-nos uma palavra: encilhador.Só que é a primeira vez que ouvimos essa palavra e nunca vimos escrita em nenhum lugar.Assim, um de nós poderia ter escrito ensilhador, enciliador, ensiliador, etc.Por que isso aconteceria? Alguns poderiam dizer que isso ocorre devido ao fato de se desconhecer o significado dessa palavra.Essa palavra significa “aquele que encilha um animal”.O fato de se conhecer agora o significado dá-nos certeza de como escrevê-la corretamente? Não!!! O que ocorre é que existe o desconhecimento da forma gráfica da palavra e, o único apoio que se tem para escrevê-la é a pronúncia do professor.Daí os alunos desenvolvem tentativas para escrever a palavra ouvida (tentativa ortográfica).
Esse processo de levantar hipóteses ortográficas é comum e, todos nós, inclusive as crianças, o realizamos quando nos deparamos com uma situação similar.
É através do processo da leitura que a forma gráfica das palavras vai ficando registrada na memória visual.Assim escrevo casa, caça e exemplo e não escrevo caza, cassa e exemplo porque li essas palavras em algum lugar e retive suas formas gráficas.Se algum dia for solicitado a escrevê-las, posso recordar sua forma gráfica e escrevê-las corretamente, caso contrário, farei hipóteses ortográficas como no caso da palavra encilhador.
Na redação, as palavras são elaboradas mentalmente, associada aos respectivos sons, aos significados, à forma gráfica e escritas.É através da leitura de textos, frases, palavras, que se aprendem palavras novas, diferentes daquelas usadas em nosso linguajar corriqueiro.É através da leitura que se percebe como se articulam as regras gramaticais e se aprendem novos estilos de escrita.
A criança precisa saber ler para poder escrever.Se a criança lê com dificuldade ou ainda não aprendeu a ler, de pouco lhe adiantam os exercícios escritos já que as palavras que ela escreve não têm correspondente sonoro e, não são compreendidas.A escrita torna-se um processo sem significado, cansativo e desgastante e que exige muito esforço para ser realizado.
Quando se fala em Distúrbios de Aprendizagem envolvendo leitura e escrita, é indispensável que se analise a leitura oral e silenciosa antes de se avaliar a escrita (cópia, ditado e redação), visto serem as dificuldades de escrita, decorrentes de uma leitura lenta, analítica, impregnada de trocas de sílabas ou palavras, sem pontuação nem ritmo e, incompreensível.
Deve ficar claro que a aprendizagem da leitura e escrita é um processo complexo que envolve vários sistemas e habilidades (lingüísticas, perceptuais, motoras, cognitivas) e, não se pode esperar, portanto, que um determinado fator seja o único responsável pela dificuldade para aprender.
Texto retirado de:
Reflexão sobre o Papel do professor (2)
MONTESSORI… História, Sistema, Metodologia e Filosofia (0).
Fonte:http://especialdeadamantina.wordpress.com/2010/03/05/a-leitura-e-a-escrita-etapas-do-desenvolvimento-da-linguagem
Nível 1 - Hipótese Pré- Silábica - Intermediário I
A criança:
Não estabelece vínculo entre a fala e a escrita;
Supõe que a escrita é outra forma de desenhar ou de representar coisas e usa desenhos, garatujas e rabiscos para escrever;
Demonstra intenção de escrever através de traçado linear com formas diferentes;
Supõe que a escrita representa o nome dos objetos e não os objetos;coisas grandes devem ter nomes grandes, coisa pequenas devem ter nomes pequenos;
Usa letras do próprio nome ou letras e números na mesma palavra;
Pode conhecer ou não os sons de algumas letras ou de todas elas;
Faz registros diferentes entre palavras modificando a quantidade e a posição e fazendo variações nos caracteres;
Caracteriza uma palavra com uma letra inicial;
Tem leitura global, individual e instável do que escreve: só ela sabe o que quis escrever;
Supõe que para algo poder ser lido precisa ter no mínimo de duas a quatro grafias, geralmente três (hipóteses da quantidade mínima de caracteres);
Supõe que para algo poder ser lido precisa ter grafias variadas (hipótese da variedade de caracteres).
* Desafio: Qual é o significado dos sinais escritos?


2. Nível 2 – Hipótese Pré- Silábica - Intermediário II
Começa a ter consciência de que existe alguma relação entre a pronúncia e a escrita;
Começa a desvincular a escrita das imagens e números das letras;
Só demonstra estabilidade ao escrever seu nome ou palavras que teve oportunidade e interesse de gravar. Esta estabilidade independe da estruturação do sistema de escrita;
Conserva as hipóteses da quantidade mínima e da variedade de caracteres.
* Desafio: Como resolver a hipótese de que a escrita se vincula com a pronúncia das partes da palavra?
3. Nível 3- Hipótese Silábica
A criança:
Já supõe que a escrita representa a fala;
Tenta fonetizar a escrita e dar valor sonoro às letras;
Pode ter adquirido, ou não, a compreensão do valor sonoro convencional das letras;
Já supõe que a menor unidade da língua seja a sílaba;
Supõe que deve escrever tantos sinais quantas forem às vezes que mexe a boca, ou seja, para cada sílaba oral corresponde uma letra ou um sinal;
Em frases, pode escrever uma letra para cada palavra.
* Desafio: Como compatibilizar, na escrita ou na leitura das palavras monossílabas e dissílabas, a idéia de quantidade mínima e de variedade de caracteres, se ela supõe que as palavras podem ser escritas com uma ou com duas letras? E também:
- Ao ler as palavras que escreveu, o que fazer com as letras que sobraram no meio das palavras (almofada) ou no final (as sobrantes)?
- Se coisas diferentes devem ser escritas de maneira diferente, como organizar as letras na palavra?
4. Nível 4- Hipótese Silábico- Alfabética
A criança:
Inicia a superação da hipótese silábica;
Compreende que a escrita representa o som da fala;
Combina só vogais ou só consoantes, fazendo grafias equivalentes para palavras diferentes. Por exemplo, AO para gato ou ML para mola e mula;
Pode combinar vogais e consoantes numa mesma palavra, numa tentativa de combinar sons, sem tornar, ainda, sua escrita socializável. Por exemplo, CAL para cavalo; Passa a fazer uma leitura termo a termo (não global).
*Desafio: Como conciliar a hipótese silábica com a hipótese da quantidade mínima de caracteres? E...
- Como adequar as formas gráficas que o meio lhe propõe à leitura dessas formas?
- Como separar palavras ao escrever, quando elas não são separadas na fala?
- Como tornar a escrita socializável, possível de ser lida por outras pessoas?
5. Nível 5- Hipótese Alfabética
A criança:
Compreende que a escrita tem uma função social: a comunicação;
Compreende o modo de construção do código da escrita;
Compreende que cada um dos caracteres da escrita corresponde a valores menores que a sílaba;
Conhece o valor sonoro de todas as letras ou de quase todas;
Pode ainda não separar todas as palavras nas frases;
Omite letras quando mistura as hipóteses alfabética e silábica;
Não tem problemas de escrita no que se refere a conceito;
Não é ortográfica nem léxica.
* Desafio: Como entender que falamos de um jeito e escrevemos de outro? E...
- Como aprender as convenções da língua?
- Como distinguir letras, sílabas e frases?

Emília Ferreiro e Ana Teberosck, na obra Psicogênese da Língua Escrita, dizem que se entende por alfabetizada a criança que dominou a base alfabética do sistema de escrita, que lê com compreensão e escreve textos com sentido possíveis de serem lidos, mesmo que apresentem erros de ortografia.

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