Educação
Social – teorias e práticas
A metodologia utilizada pela Educação
Social, nos seus projectos e processos de mudança social, é a
Investigação-Acção Participativa, onde a acção e a participação são realizadas
em simultâneo, estando fortemente relacionadas e interdependentes. Este método
é fundamentado pela Educação Social na sua preocupação com a justiça social e
com o desenvolvimento social. É uma teoria de acção, promotora da mudança
social, contribuindo para a consciência da comunidade, melhoria da qualidade de
vida e resolução de problemas. É favorável à produção de conhecimento pela
aprendizagem (aprender com os outros e aprender a aprender). Este conhecimento
é produzido com a participação dos actores implicados em todo o processo de
mudança (investigador colectivo). Esta metodologia é vantajosa pela sua
flexibilidade e procura de adequação de estratégias ao contexto e objectivos.
Permite que este seja um processo democrático, participativo, desenvolvendo o
saber prático através da acção e reflexão. Na Investigação-acção Participativa,
cada indivíduo é protagonísta central e todos os sujeitos possuem e podem
produzir conhecimentos úteis para a condução da sua vida e da comunidade.
Nesta
medida, a realidade em que se vive, familiar, é um bom conteúdo de
aprendizagem. Esta é favorecida pela participação na análise de situações e na
tomada de decisão que levam a responsabilização e empenhamento na concretização
dos objectivos. Os princípios orientadores desta metodologia são a implicação
de todos os sujeitos no processo como investigadores da própria acção, a
capacitação e emancipação dos indivíduos e dos grupos e a criação de condições
de participação, de responsabilização no local, com as pessoas envolvidas,
utilizando os recursos existentes nestas e desenvolvendo-os. A participação
deverá progredir para a convergência no sentido de decisões democraticamente
tomadas e assumidas.
A Educação Social pode trabalhar em
diversos contextos. Petrus apresenta-nos como âmbitos da Educação Social, a
educação de populações em situações de conflito social (com o objectivo de
reinserção social dos indivíduos), a animação socio-comunitária (participação
da população com vista ao seu desenvolvimento - trabalho colectivo) e a
educação de adultos. outro autor, Parcerisa, apresenta-nos como âmbitos de
intervenção a educação de sectores com problemáticas específicas, a animação
socio-comunitária, a educação de adultos e ainda a intervenção nos meios de
educação informal. Parceriza valoriza o contexto de vida natural dos indivíduos
e os contextos de rua.
De acordo com os âmbitos de intervenção,
surgem as funções adequadas ao perfil do educador social. Segundo Romani,
existem: funções formativas; funções de promoção e desenvolvimento; funções de
relação comunicativa e de mediação, funções de orientação, assessoriamento e
informação; funções de desenho, planificação e avaliação e; funções de gestão,
organização e administração. as funções formativas referem-se ao apoio, à
transferência de aprendizagem social, à função reeducativa, educativa e
formativa integral da pessoa; as funções de promoção e desenvolvimento
referem-se às actividades socioculturais, à animação e promoção individual, em
grupo e comunitária e à promoção ocupacional; as funções de relação
comunicativa e mediação dizem respeito à relação e diálogo entre pessoas,
grupos e suas iniciativas; as funções de orientação, assessoriamento e
informação estão inseridas no âmbito socio-educativo, são as funções detectoras
e de análise dos problemas sociais e suas causas; as funções de desenho,
planificação e avaliação nos projectos socio-educativos e culturais
específicos, de acção directa; e as funções de gestão, organização e
administração, na gestão de actividades e recursos socioculturais e apoio
organizativo na participação da vida quotidiana comunitária. Petrus
apresenta-nos funções a desenvolver em meio externo e em meio interno. Em meio
externo temos as funções socio-educativas em relação à comunidade, no
desenvolvimento de projectos comunitários, com o contributo de vários
profissionais. Em meio interno, referindo-se às instituições, onde há valores e
leis próprias, onde o educador social deve possuir certa mobilidade e autonomia
para cumprir funções de gestão de recursos técnicos, humanos e financeiros da
instituição.
Para realizar todas estas funções
referidas, o educador social, deve possuir uma série de competências que irá
desenvolvendo no desempenho do seu trabalho. Estas, completam o perfil do
educador social. São o conjunto de conhecimentos, habilidades e qualidades que
permitem uma boa realização das tarefas. existem três grandes tipos de
competências: o saber, sendo portador de conhecimentos úteis à acção; o
saber-fazer, ou seja, o modo como aplica esse conhecimento nas práticas
educativas (aptidões e capacidades); e o saber-ser que se refere a atitudes,
como por exemplo a auto-reflexão e o saber-estar perante pessoas e situações
(habilidades sociais). O educador social é um educador, pois confronta o outro
com projectos de vida alternativos; é um actor, pois é também protagonísta num
determinado contexto social e histórico; é um mediador social, funcionando como
elo de ligação entre os indivíduos e seus diferentes contextos e é também um
técnico da relação e da proximidade. O educador social é uma figura de referência,
influenciando o processo pedagógico com a sua postura e valores, é promotor de
cidadania e de redes sociais. a sua postura deve ser crítica e reflexiva, deve
possuir capacidade de escuta e de trabalho em equipa multidisciplinar. Promove
a capacidade de decisão, a participação e a qualidade de vida dos indivíduos,
trabalhando com intencionalidade sob compromisso. Deve desenvolver em si e nos
sujeitos o questionamento, a reflexão e a implicação, responsabilizando o
sujeito pelo próprio processo de mudança, é tido em conta e deve ser activo em
todo o processo.
No entanto, a Educação Social é, como
profissão, muito recente e sofre, por isso, de vários problemas como a
indefinição de um campo de trabalho; o facto de haverem diferentes concepções
sobre “intervenção educativa”; a sobreposição de tarefas em relação a outros
profissionais, a especialização, ainda não muito específica, de algumas àreas
que necessitam de intervenções mais especializadas; a defesa da especificidade
do trabalho em relação a outos novos perfis que actuam no mesmo campo de acção;
a irregularidade das contratações e a instabilidade dos postos de trabalho
dependentes, quase sempre, de recursos públicos; e a indefinição do papel do
educador social no campo social.
A base da profissionalização do educador
social é constituída por um conjunto de conhecimentos, regras, padrões
organizativos, estratégias e técnicas interrelacionadas que determinam um saber
e um saber-fazer referido a metas educativas. Para isso, criou-se o Código
Deontológico da Educação Social, que comporta a moral profissional e realça a
dimensão ética da acção. O Código Deontológico é um código ético de conduta,
que esclarece princípios e normas correctos à intervenção do educador social.
Pode prever sanções e funcionar também como instrumento de consulta. Tem como
objectivos estimular a reflexão crítica e desenvolver a consciência ética.
Favorece o reconhecimento da profissão e das suas práticas (dá credibilidade à
profissão). No entanto, também são refeidas críticas ao código ético como por
exempo, que este é bloqueador da acção perante uma situação concreta que exige
resposta imediata. É importante que o educador social possua um domínio sobre
as técnicas e metodologias e que reflicta sobre as suas normas, valores individuais
e sobre o seu desempenho profissional.
Nenhum comentário:
Postar um comentário