A utilização de jornais
em sala de aula é um recurso interessantíssimo, pois permite o desenvolvimento
da opinião crítica, a reflexão sobre os diversos recursos expressivos, a
análise das diversas manifestações da sociedade e a interação com os fatos que estão
próximos. O jornal da 3ª série C começou com a ideia de que os alunos
trouxessem notícias de jornais que falassem sobre Florianópolis na qual é o
assunto principal da série.
O
jornal na sala de aula
Por Maria José Nóbrega,
consultora pedagógica de Carta na Escola.
Aprenda passo-a-passo
como fazer um jornal laboratório com os seus alunos
O trabalho com
diferentes suportes de texto e com gêneros variados é, hoje em dia, quase um
consenso entre os educadores. Se a diversidade de gêneros textuais adentrou o
espaço escolar, o mesmo não se pode dizer em relação às práticas sociais em
torno desses mesmos suportes e gêneros. Os textos ao entrarem no espaço
escolar, em geral, são submetidos a um tratamento didático padronizado que
anula as diferentes maneiras de ler que marcam as práticas sociais.
Enquanto suporte, o
jornal é altamente perecível: no final do dia já é sucata. Em seu interior,
circulam uma infinidade de gêneros: notícias, reportagens, editoriais, artigos,
crônicas, entrevistas, tiras, charges, etc.
Trabalhar o jornal na
escola requer atenção a essa característica. Quem lê jornal o faz, em geral,
diariamente, raramente o lê integralmente, costuma iniciar a leitura por um
caderno específico que concentra seus interesses pessoais, passeia os olhos
pelos cadernos e fixa-se em uma ou outra matéria. Esses modos de ler o jornal
precisam estar presentes no trabalho escolar, se desejarmos, de fato, formar
leitores de textos de imprensa. Se o professor recortar uma notícia para,
posteriormente, preparar um roteiro com perguntas para explorá-la com os
alunos, já perdeu o timing. As notícias impressas circulam em outras mídias:
ocupam o noticiário das TV, do rádio, da Internet; estão na boca do povo, nas
conversas em torno do que acontece.
A leitura de jornais
permite explorar uma dimensão específica da leitura que é “ler para
atualizar-se”, para saber a respeito do que acontece no mundo; caracteriza-se
pela ligeireza, pela rapidez. Trazer o jornal para a sala de aula é essencial
para familiarizar o aluno com sua leitura, desenvolvendo as competências
necessárias para fazê-lo criticamente. Além disso, possibilita estabelecer uma
série de conexões entre os conteúdos das diversas disciplinas do currículo
escolar e os acontecimentos recentes, permitindo aos alunos conhecerem as
aplicações práticas dos conceitos estudados.
Não é um trabalho
pontual, mesmo que intensivo, que formará leitores de jornais. Uma atividade
permanente em que, por exemplo, uma vez por semana, em um dia previamente
combinado, os alunos lêem jornais, que se ajusta à regularidade com que os
leitores fluentes de jornais realizam suas leituras tem mais chances de ser bem
sucedida.
Como
fazer?
Estabeleça um dia da
semana em que você e seus alunos lerão jornais. Se a escola, como é desejável,
têm assinaturas de algum jornal, leve os exemplares para a sala de aula e deixe
que os alunos folheiem e selecionem o que querem ler. É bom que haja exemplares
de mais de um jornal, pois isso permite analisar a relevância e o tratamento
que cada periódico dá à notícia de um fato. Se a escola não tiver nenhuma
assinatura, encarregue alguns alunos de providenciarem exemplares para o
trabalho.
Para ativar os
conhecimentos prévios em relação ao que irão ler, bem como permitir a
comparação crítica, solicite que assistam aos noticiários televisivos do dia
anterior. Se possível, grave-o para rever algum trecho com a turma e
confrontá-lo com o tratamento que a notícia recebeu em sua versão escrita. Um
trabalho como esse possibilita aos alunos irem compreendendo a diferença entre
telejornal e jornal impresso. Em geral, a televisão apresenta a notícia como
verdade absoluta; o jornal tende a relativizá-la, mostrando o outro lado,
analisando os acontecimentos através de artigos e editoriais que têm com o
propósito de incomodar o leitor, incitando-o a tomar partido, etc.
Nenhuma notícia é
escrita de modo neutro e confrontá-la em diferentes mídias ou em diferentes
jornais é uma forma de verificar diferentes pontos de vista, desenvolvendo o
espírito crítico.
Apesar da atividade
desenvolve-se com certo improviso, pois é muito provável que o professor não
tenha como ler previamente diferentes jornais, seu impacto reside,
inicialmente, na própria experiência da leitura compartilhada em que o
professor mostra aos alunos como faz em “cenas explícitas de notícias”: lendo
em voz alta alguma das matérias, comentando passagens, contextualizando a
notícia, caso os alunos não disponham dos conhecimentos prévios necessários,
polemizando, abrindo o debate. Uma outra vantagem é que os alunos estão lendo o
que os leitores estão lendo também; estão lendo sobre o que está dando no
rádio, na televisão; o que está na boca do povo. Essa simultaneidade permite
que os alunos possam se inserir no debate das questões que são notícia.
Durante
a leitura
∗ Estimule os alunos a
localizarem o espaço que a notícia ocupa no jornal. Os fatos não têm
importância por si mesma: sua importância é construída a partir de uma série de
indicadores: se ocupa a página inicial do primeiro caderno ou não; se está na
parte superior ou inferior da página; qual sua extensão, etc.
∗ Confronte como
diferentes jornais tratam um mesmo assunto e discuta a respeito das diferenças
e semelhanças.
∗ Localize os diferentes
textos – gráficos, tabelas, desenhos, fotos – que se articulam ao texto
principal da notícia. Qual sua finalidade? Como se relacionam com o texto
principal? Reiteram ou não seu conteúdo?
∗ Organize um painel com
as notícias comentadas e guarde-o, assim, no final do ano será possível
organizar uma retrospectiva com os acontecimentos que mobilizaram seus alunos.
∗ Depois de ter
familiarizado os alunos com a leitura dos jornais, é possível estudar as
propriedades temáticas, estruturais e estilísticas dos diferentes gêneros que circulam
num jornal (notícias, reportagens, entrevistas, editoriais, artigos, crônicas,
charges, tiras, etc.). Produzir um jornal com a turma é uma forma de mergulhar
nas características desses gêneros e, além da competência escritora, ampliar a
competência leitora.
∗ Há momentos em que
diferentes assuntos, previstos ou não, ganham grande relevância. É o caso das
Olimpíadas, das eleições ou de um evento de grande impacto local ou global como
o atentado às torres gêmeas World Trade Center. A escola não pode enfiar a
cabeça na areia como uma avestruz, ignorando o que acontece. Encarregue,
diariamente, alguns alunos para selecionar notícias para serem lidas a cada
início de aula, organizando um mural com o material coletado.
Jornal falado
A professora Rosangela
de Castro, da Escola Municipal Catarina Miró, de Ponta Grossa/PR, usa o Jornal
da Manhã para estimular a leitura e a expressão oral dos alunos a partir de
atividades como o Jornal Falado, que ela relata abaixo.
Jornal Falado
Metodologia e Objetivo:
A turma foi divida em
grupos. Cada aluno do grupo escolhe uma notícia e faz apresentação como um noticiário de tevê ou rádio,
destacando a idéia central da notícia, onde aconteceu, como e quando. Houve
grupo que utilizou a criatividade e dramatizou a notícia. Outros, após
apresentarem a notícia, colocam a opinião pessoal, falando sobre a importância
da notícia, ou aspecto negativo.
Objetivos:
• Incentivar os alunos
na leitura, já que os mesmos escolheram as notícias de sua preferência.
• Valorizar a participação
dos mesmos.
• Incentivar os alunos
a se expressar oralmente.
• Estabelecer relações
no trabalho cooperativo.
• Confeccionar cartazes
das notícias trabalhadas.
Os alunos que
participaram foram do 2º Ano do 2º Ciclo, porém, os alunos de 1º Ano do 2º Ciclo também são capazes de realizar.
Resultados alcançados:
• Todos os alunos
participaram. Mesmo os mais tímidos.
• Os alunos fizeram uma
autocrítica e perceberam o que poderia ter sido diferente.
• A valorização dos
colegas a todos os grupos e apoio aos alunos que encontraram dificuldade de se expressar.
• Leitura, durante a
montagem do trabalho. Os alunos com maior facilidade, liam o texto da notícia
escolhida e interpretavam, além de discutir com os colegas o assunto.
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