segunda-feira, 27 de fevereiro de 2017

A utilização de jornais em sala de aula é um recurso interessantíssimo, pois permite o desenvolvimento da opinião crítica, a reflexão sobre os diversos recursos expressivos, a análise das diversas manifestações da sociedade e a interação com os fatos que estão próximos. O jornal da 3ª série C começou com a ideia de que os alunos trouxessem notícias de jornais que falassem sobre Florianópolis na qual é o assunto principal da série.


O jornal na sala de aula
Por Maria José Nóbrega, consultora pedagógica de Carta na Escola.
Aprenda passo-a-passo como fazer um jornal laboratório com os seus alunos
O trabalho com diferentes suportes de texto e com gêneros variados é, hoje em dia, quase um consenso entre os educadores. Se a diversidade de gêneros textuais adentrou o espaço escolar, o mesmo não se pode dizer em relação às práticas sociais em torno desses mesmos suportes e gêneros. Os textos ao entrarem no espaço escolar, em geral, são submetidos a um tratamento didático padronizado que anula as diferentes maneiras de ler que marcam as práticas sociais.
Enquanto suporte, o jornal é altamente perecível: no final do dia já é sucata. Em seu interior, circulam uma infinidade de gêneros: notícias, reportagens, editoriais, artigos, crônicas, entrevistas, tiras, charges, etc.
Trabalhar o jornal na escola requer atenção a essa característica. Quem lê jornal o faz, em geral, diariamente, raramente o lê integralmente, costuma iniciar a leitura por um caderno específico que concentra seus interesses pessoais, passeia os olhos pelos cadernos e fixa-se em uma ou outra matéria. Esses modos de ler o jornal precisam estar presentes no trabalho escolar, se desejarmos, de fato, formar leitores de textos de imprensa. Se o professor recortar uma notícia para, posteriormente, preparar um roteiro com perguntas para explorá-la com os alunos, já perdeu o timing. As notícias impressas circulam em outras mídias: ocupam o noticiário das TV, do rádio, da Internet; estão na boca do povo, nas conversas em torno do que acontece.
A leitura de jornais permite explorar uma dimensão específica da leitura que é “ler para atualizar-se”, para saber a respeito do que acontece no mundo; caracteriza-se pela ligeireza, pela rapidez. Trazer o jornal para a sala de aula é essencial para familiarizar o aluno com sua leitura, desenvolvendo as competências necessárias para fazê-lo criticamente. Além disso, possibilita estabelecer uma série de conexões entre os conteúdos das diversas disciplinas do currículo escolar e os acontecimentos recentes, permitindo aos alunos conhecerem as aplicações práticas dos conceitos estudados.
Não é um trabalho pontual, mesmo que intensivo, que formará leitores de jornais. Uma atividade permanente em que, por exemplo, uma vez por semana, em um dia previamente combinado, os alunos lêem jornais, que se ajusta à regularidade com que os leitores fluentes de jornais realizam suas leituras tem mais chances de ser bem sucedida.
Como fazer?
Estabeleça um dia da semana em que você e seus alunos lerão jornais. Se a escola, como é desejável, têm assinaturas de algum jornal, leve os exemplares para a sala de aula e deixe que os alunos folheiem e selecionem o que querem ler. É bom que haja exemplares de mais de um jornal, pois isso permite analisar a relevância e o tratamento que cada periódico dá à notícia de um fato. Se a escola não tiver nenhuma assinatura, encarregue alguns alunos de providenciarem exemplares para o trabalho.
Para ativar os conhecimentos prévios em relação ao que irão ler, bem como permitir a comparação crítica, solicite que assistam aos noticiários televisivos do dia anterior. Se possível, grave-o para rever algum trecho com a turma e confrontá-lo com o tratamento que a notícia recebeu em sua versão escrita. Um trabalho como esse possibilita aos alunos irem compreendendo a diferença entre telejornal e jornal impresso. Em geral, a televisão apresenta a notícia como verdade absoluta; o jornal tende a relativizá-la, mostrando o outro lado, analisando os acontecimentos através de artigos e editoriais que têm com o propósito de incomodar o leitor, incitando-o a tomar partido, etc.
Nenhuma notícia é escrita de modo neutro e confrontá-la em diferentes mídias ou em diferentes jornais é uma forma de verificar diferentes pontos de vista, desenvolvendo o espírito crítico.
Apesar da atividade desenvolve-se com certo improviso, pois é muito provável que o professor não tenha como ler previamente diferentes jornais, seu impacto reside, inicialmente, na própria experiência da leitura compartilhada em que o professor mostra aos alunos como faz em “cenas explícitas de notícias”: lendo em voz alta alguma das matérias, comentando passagens, contextualizando a notícia, caso os alunos não disponham dos conhecimentos prévios necessários, polemizando, abrindo o debate. Uma outra vantagem é que os alunos estão lendo o que os leitores estão lendo também; estão lendo sobre o que está dando no rádio, na televisão; o que está na boca do povo. Essa simultaneidade permite que os alunos possam se inserir no debate das questões que são notícia.
Durante a leitura
Estimule os alunos a localizarem o espaço que a notícia ocupa no jornal. Os fatos não têm importância por si mesma: sua importância é construída a partir de uma série de indicadores: se ocupa a página inicial do primeiro caderno ou não; se está na parte superior ou inferior da página; qual sua extensão, etc.
Confronte como diferentes jornais tratam um mesmo assunto e discuta a respeito das diferenças e semelhanças.
Localize os diferentes textos – gráficos, tabelas, desenhos, fotos – que se articulam ao texto principal da notícia. Qual sua finalidade? Como se relacionam com o texto principal? Reiteram ou não seu conteúdo?
Organize um painel com as notícias comentadas e guarde-o, assim, no final do ano será possível organizar uma retrospectiva com os acontecimentos que mobilizaram seus alunos.
Depois de ter familiarizado os alunos com a leitura dos jornais, é possível estudar as propriedades temáticas, estruturais e estilísticas dos diferentes gêneros que circulam num jornal (notícias, reportagens, entrevistas, editoriais, artigos, crônicas, charges, tiras, etc.). Produzir um jornal com a turma é uma forma de mergulhar nas características desses gêneros e, além da competência escritora, ampliar a competência leitora.
Há momentos em que diferentes assuntos, previstos ou não, ganham grande relevância. É o caso das Olimpíadas, das eleições ou de um evento de grande impacto local ou global como o atentado às torres gêmeas World Trade Center. A escola não pode enfiar a cabeça na areia como uma avestruz, ignorando o que acontece. Encarregue, diariamente, alguns alunos para selecionar notícias para serem lidas a cada início de aula, organizando um mural com o material coletado.
Jornal falado
A professora Rosangela de Castro, da Escola Municipal Catarina Miró, de Ponta Grossa/PR, usa o Jornal da Manhã para estimular a leitura e a expressão oral dos alunos a partir de atividades como o Jornal Falado, que ela relata abaixo.
Jornal Falado
Metodologia e Objetivo:
A turma foi divida em grupos. Cada aluno do grupo escolhe uma notícia e faz apresentação  como um noticiário de tevê ou rádio, destacando a idéia central da notícia, onde aconteceu, como e quando. Houve grupo que utilizou a criatividade e dramatizou a notícia. Outros, após apresentarem a notícia, colocam a opinião pessoal, falando sobre a importância da notícia, ou aspecto negativo.
Objetivos:
• Incentivar os alunos na leitura, já que os mesmos escolheram as notícias de sua preferência.
• Valorizar a participação dos mesmos.
• Incentivar os alunos a se expressar oralmente.
• Estabelecer relações no trabalho cooperativo.
• Confeccionar cartazes das notícias trabalhadas.
Escolaridade dos alunos:  
Os alunos que participaram foram do 2º Ano do 2º Ciclo, porém, os alunos de 1º Ano do  2º Ciclo também são capazes de realizar.          
Resultados alcançados:
• Todos os alunos participaram. Mesmo os mais tímidos.
• Os alunos fizeram uma autocrítica e perceberam o que poderia ter sido diferente.
• A valorização dos colegas a todos os grupos e apoio aos alunos que encontraram  dificuldade de se expressar.

• Leitura, durante a montagem do trabalho. Os alunos com maior facilidade, liam o texto da notícia escolhida e interpretavam, além de discutir com os colegas o assunto.    

Nenhum comentário: