Educação Indígena e Educação do Campo: O Que Há de Comum Entre Elas?
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Diones Clei Teodoro
Lopes, Vanubia Sampaio dos Santos
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publicado em 07/07/2011
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Educação Indígena e Educação do Campo: O Que Há de Comum Entre Elas?
Diones Clei Teodoro Lopes[*]
Vanubia Sampaio dos Santos**
Resumo: O artigo que segue pretende identificar as características
comuns entre a Educação Indígena e a Educação do Campo. São saberes e
culturas que se cruzam por divergir da educação urbana e necessitarem de uma
diferenciação curricular construída e adaptada a partir da realidade de cada
povo, no qual se buscou fazer uma analogia, onde os olhares se voltassem para
a construção de uma educação mais digna, inclusiva e diferenciada.
Palavras chave: Cultura.
Educação. Educação Indígena. Educação do Campo.
La Educación
Indígena y la educación del campo: ¿Qué hay en común entre ellos?
Resumen: El artículo que sigue está destinado a identificar las
características comunes entre la educación de los Indígenas y la educación de
la Esfera. Forman parte de los conocimientos y las culturas que cruzan por
diferir de educación en el medio urbano y su necesidad de construir un
programa de estudios diferenciado y adaptado a la realidad de cada pueblo, en
el que hemos intentado hacer una analogía, donde los ojos para luego volver a
la construcción de una educación más digna, inclusiva y diferenciada.
Palabras clave: la Cultura. La Educación. La
Educación Indígena. Enseñanza a Distancia.
Introdução
Esse trabalho tem como objetivo possibilitar visibilidade para as
formas de se educar os moradores do campo e os povos da floresta, um estudo
de como essa educação se processa nessas comunidades tradicionais, o que se
pretende com ela e qual o objetivo de se fazer uma educação que conte com
currículos mais próximos de suas realidades e necessidades, que leve em
consideração a multietnicidade, pluralidade e diversidade cultural desses
povos.
Educação indígena: características
O Brasil é uma nação constituída de diferentes povos de diferentes
etnias, línguas, culturas e saberes. Entre essa diversidade encontram-se os
povos indígenas que, com o passar dos anos, conseguiram construir a sua
própria história e lutar pelos seus direitos, entre os quais está o de ter
uma educação intercultural.
Antes de se introduzir a
escola nas comunidades indígenas eles já possuíam seus modos de transmitir
sua cultura, expressar, ordenar e reorganizar seus pensamentos, construindo
sua visão de mundo e tentando entender o sobrenatural, ficando a cargo dos
mais velhos a instrução dos mais novos em relação aos costumes, língua
materna, caça, pesca e agricultura, ou seja, a escola era o local onde
viviam, sem paredes e limites, voltados para as necessidades de cada povo e
os professores eram os familiares preocupados em disciplinar os mais jovens para
a vida na floresta. E, a partir dessas concepções de mundo, do homem e das
formas de organização social, político, cultural, econômica e religiosa
desses povos é que se devem fundamentar as escolas indígenas.
Educação do campo:
características
O campo sempre foi visto pela sociedade urbana como zona rural, local
longe da civilização, com conotação de atrasado, caipira, “jeca”, como se não
fizesse parte dessa mesma sociedade e civilização. Rural, nesse sentido, tem
relação com o homem da roça, que trabalha em favor do enriquecimento de
poucos em consonância com a exclusão de muitos. Em suma, é como se todos
aqueles que não moram na cidade, não fossem dignos dos mesmos direitos
daquele povo, mas fossem alvos somente dos donos de agropecuária para a venda
de produtos para a lavoura que será vendida a preço inferior aos repassadores
que a comercializarão por seu devido valor, enriquecendo em detrimento dos
trabalhadores rurais. Estes, por sua vez, deveriam todos ser braçais sem
necessidade de estudo ou formação em nada, para esse tipo de serviço, já que
seu trabalho é o que interessa ao capital econômico e não o sujeito como
pessoa, detentor de saberes, conceitos de mundo, tradições, culturas e
técnicas de plantio e colheita
O termo rural não abrange a conotação do campo, não identifica o campo
como lugar de vida, mas local para produção de alimentos para as cidades e
produtos para exportação, como se os trabalhadores rurais vivessem a serviço
dos moradores das cidades, sendo necessário o morador do campo mudar-se para
a zona urbana para ter conforto, local este apresentado a ele como saída,
onde as pessoas vivem e são felizes, como se no campo não o pudessem fazer.
O que há de comum entre os povos indígenas e os povos do campo
Os costumes de um povo estão expressos em sua cultura e modo como
vive, que demonstram quem é e de onde vem, porém, o industrialismo e a
modernidade não respeitam essas fronteiras e com isso os povos da floresta e
do campo tem sofrido por terem meios de vida e costumes diferenciados do
modelo urbano. Não é o fato de um povo viver na zona urbana e outros no campo
ou na floresta que faz destes últimos inferiores ou atrasados, mas o modo
como cada um vive é que faz a civilização, o respeito pelo que o outro é e
não a imposição de costumes e maneiras por uma sociedade capitalista e
urbana.
A identidade do personagem do campo configura-se pelas características
que existem no campo, são aspectos como a terra, o cultivo de plantas, a
criação de animais, o contato com a diversidade animal e vegetal. A
personalidade do homem do campo permeia-se por um nível de conhecimento
popular onde todos que convivem no seio da comunidade detêm este
conhecimento, mas este conhecimento transmitido origina-se da necessidade da
vida cotidiana do camponês, caracterizando a cultura do campo com identidade
própria e diferenciada da cultura urbana. A característica própria do
camponês não deve discriminá-lo do meio ao qual está inserido, porém ele
constitui-se de qualidades para estar inserido dentro do contexto social, não
sendo pessoas excluídas, mas como uma etnia ou classe que conhece seus
direitos e deveres, não estando submissa a outras classes ou raças e
assumindo sua condição perante a sociedade, sem medo ou vergonha de possíveis
preconceitos.
Apesar de quase não ser possível hoje os povos terem seus costumes
próprios, vindos de seus antepassados, tendo em vista a miscigenação de raças
e culturas, os povos da floresta, ou melhor, os indígenas, ainda lutam por
seu pedaço de terra dentro da floresta onde possam cultivar sua maneira de
viver, suas danças, seus costumes alimentares, sua caça e pesca, assim como
os povos do campo, tentam vencer a imposição do gado dos grandes produtores
rurais, para continuar a cultivar sua lavoura, suas crenças, seu ritmo e seus
costumes.
Os índios e camponeses tem muito em comum no que diz com seus meios de
vida, ambos moram longe da zona urbana e têm necessidades diversas daquelas
dos povos que vivem nas cidades, por isso precisam ser tratados legalmente
como pessoas que tem seus direitos garantidos, com respeito e dignidade.
Deste modo, analisando que aproximadamente 30% da população adulta da zona
rural são analfabetos, primeiramente deve-se focar a educação, pois á partir
dela é que os povos do campo poderão conhecer e exigir seus direitos,
buscando assim, uma educação que os trate, segundo Miguel Arroyo “como sujeitos de
um projeto de desenvolvimento com base na agricultura familiar, cooperativa
ou não, em vez de tratá-la como resíduo do processo de modernização”.
(ARROYO, 2004, p. 48). Já que essa agricultura contribuirá com a geração de
empregos, no barateamento da comida e melhoria de condições de vida para a
população em geral, haja vista que o espaço para cultivar a lavoura não tem
necessariamente que ser extenso como os grandes pastos para a agropecuária.
Da mesma forma, a agricultura para os indígenas melhora suas condições de
vida, haja vista que cultivando seus alimentos para a subsistência, uma vez
que produzem o que necessitam.
Uma educação voltada para as necessidades dos povos do campo que se
refira aos seus valores, culturas e sociabilidade, os fará ver que são
cidadãos com direitos e deveres, conforme destacado na Primeira Conferência
Nacional Por uma Educação Básica do Campo
A educação do campo precisa ser uma educação específica e
diferenciada, isto é, alternativa. Mas sobretudo deve ser educação, no
sentido amplo de processo de formação humana, que constrói referências
culturais e políticas para a intervenção das pessoas e dos sujeitos sociais
na realidade, visando a uma humanidade mais plena e feliz.( MEC, 2004, p.
23):
Os povos do campo têm buscado melhorias através de movimentos
sociais, ou seja, agricultores, sem-terra e os povos da floresta, vem lutando
até mesmo com impaciência e atrevimento por seus direitos, cansados que estão
de serem tratados com tanto desprezo. Uma educação justa para todos, cada um
com suas necessidades especiais, é uma escada para o exercício da cidadania,
para que todos possam lutar, conforme lhes garantem a lei, por seus direitos,
conscientes de suas obrigações.
Com isso, os povos do campo terão amparo ao seu modo de vida sem que o
modismo imposto pela mídia e pelos meios de produção interessados no
consumismo, influenciem ou modifique seus costumes e tradições antigas
através de seu aprendizado, conforme ressaltam Gurgel e Parmigiani:
A aquisição do conhecimento da Leitura e da escrita tem suas raízes no
processo sócio-histórico, significa admitir que existe um processo de
construção social do conhecimento trazido dos nossos antepassados e que está
vinculada à apreensão individual e social do saber. (GURGEL; PARMIGIANI
2001, p. 153):
Esse resgate do passado através dos conhecimentos antigos é de suma
importância para os povos do campo, pois é através dele que terão amor à
terra e às suas origens. Toda essa tradição trazida pelos conhecimentos faz a
ponte para esses povos que precisam do seu pedaço para continuar seu modo de
vida e para sua auto-afirmação.Conforme colocado por Bof: “os problemas na
educação rural permanecem e a nova geração do campo está sendo ‘deseducada’
para viver no campo, perdendo, assim, sua identidade cultural e seu projeto
de futuro.” (BOF et all 2006, p. 77)
A nossa LDB estabelece no art. 28 “Na oferta da educação básica para a
população rural, os sistemas de ensino promoverão as adaptações necessárias à
sua adequação, às peculiaridades da vida rural e de cada região,
especialmente. Conteúdos curriculares e metodologias apropriadas às reais
necessidades e interesses e organização escolar própria, incluindo a
adequação do calendário escolar às fases do ciclo agrícola e às condições
climáticas, enfim que atentam as reais necessidades. Já no art. 26 da mesma
lei diz, que os currículos devem ser complementados quando exigido “pelas
características regionais e locais da sociedade, da cultura, da economia e da
clientela”. Ou seja, tanto os trabalhadores rurais e moradores do campo,
quanto os povos da floresta necessitam ser assistidos de forma que sejam
respeitados esses fatores. Além disso, a resolução CNE/CEB N°1, de 3 de
abril de 2002 institui diretrizes operacionais para a educação do campo onde
encontram-se inseridos os trabalhadores rurais e indígenas, além de pessoas
inseridas em movimentos sociais pela terra.
É urgente a necessidade dos povos do campo e da floresta receberem
mais atenção, antes que se percam suas culturas e costumes pelo caminho, e
isso é possível com uma educação que reafirme essa cultura, respeitando-a e
valorizando-a através de currículos específicos construídos pelos próprios
sujeitos do campo.
Sendo assim, é necessário se construir uma educação do campo, voltada
para as necessidades e interesses das populações que vivem nas zonas rurais,
assentamentos, acampamentos, regiões ribeirinhas, florestas quilombos, que
incentive a luta pela terra e pela permanência na terra que lhes é de
direito. Algo diferenciado do padrão urbano, já que os povos que vivem no
campo e do campo têm que preservar sua cultura e amor à terra para continuar
sua história e manter viva e existente sua identidade como sujeito com
direitos, deveres e liberdade de expressão. Só assim o campo sobreviverá,
preservando as pessoas que vivem do campo e no campo em cima de suas terras
em um modelo de desenvolvimento sustentável e uma relação de simbiose com a
natureza.
REFERÊNCIAS
ARROYO, Miguel Gonzalez (org.). Por uma Educação do Campo.
Petrópolis, RJ: Vozes, 2004.
BOF, Alvana Maria,(et al.). A Educação no Brasil Rural.
Brasília: Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio
Teixeira, 2006.
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. Diretrizes Operacionais para a
Educação Básica nas Escolas do Campo. Resolução CNE/CEB n.° 1, de 03
de Abril de 2002.
________. Referencial Curricular Nacional para as Escolas
Indígenas. Brasília, 2002.
** Acadêmica do
Curso de Pedagogia - Fundação Universidade Federal de Rondônia- UNIR Campus
de Ji-Paraná. Pesquisadora do GPEA – Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação
na Amazônia. Vanubia_sampaio@hotmail.com
[*] Pedagogo Especialista em
PROEJA e Técnico em Assuntos Educacionais da Fundação Universidade Federal de
Rondonia UNIR, campus Ji-paranádionesclei@unir.br.
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