A CONCEPÇÃO DE CRIANÇA NA ÓTICA DOS
EDUCADORES
RESUMO
O propósito desse trabalho consiste em investigar a concepção de criança,
na ótica dos educadores da Escola Municipal Professor Mateus Viana, em
Caicó/RN. Para a realização desse estudo utilizou-se A Ludicidade como
Coadjuvante ao Desenvolvimento e Aprendizagem da Criança.
Como técnica de pesquisa a abordagem qualitativa, desenvolvida através
de uma pesquisa de campo. Como suporte metodológico, utilizou-se o
questionário, contendo 05 questões abertas (subjetivas), aplicado in loco, onde
foram interrogados 06 educadores, sendo 04 professores do Ensino Infantil, 01
diretora e 01 supervisora, buscando aprofundar o estudo a cerca da temática em
questão. Através de observações, visitas in loco, da análise dos discursos
emitidos pelos educadores, bem como do vasto acervo literário, é que foi
possível a elaboração deste trabalho, destinado tanto às crianças de um modo em
geral, quanto aos profissionais de educação infantil. As informações obtidas
através dos relatos, bem como, das observações, permitiram perceber que a visão
que os professores de educação infantil têm sobre criança é fragmentada e/ou
conservadora, pois muitos não estão preocupados com a formação integral da
criança, sim com o “cuidar”. Um dado interessante que nos chamou a atenção é
que, apesar de as crianças estudarem no pré-escolar, sua rotina assemelha-se a
uma instituição de cunho assistencialista (creche) diferindo apenas no horário
de atendimento, posto que na creche é integral.
INTRODUÇÃO
A forma como a infância foi sendo concebida ao longo dos séculos, até os
dias atuais, é fruto de diversas críticas, debates e, conseqüentemente, de
estudos que vêm sendo aprofundados constantemente.
A infância é hoje tematizada em várias áreas do conhecimento, e é motivo
de discussão em diversos segmentos da sociedade civil. Mas, isso só foi
possível, graça às modificações ocorridas na sociedade na forma de se conceber
a criança.
A criança, atualmente, vive um momento fecundo se comparamos a forma
como essa era concebida no início dos séculos. Contudo, isso não significa
dizer que tal mudança represente sempre progresso, pois, apesar dos avanços em
termos de inclusão da criança na sociedade, observa-se que muita coisa ainda
precisa ser feita para que os direitos reservados a esse ser, desde a
Constituição Federal de 1988, tornem-se fato.
Apesar dos avanços e das conquistas adquiridas (como no caso do Estatuto
da Criança e do Adolescente e da nova LDB), a maioria das crianças no Brasil,
ainda vive em um meio bastante adverso, onde são excluídas socialmente,
violentadas, maltratadas física e psicologicamente, sem contar que muitas estão
fora da escola, pois não têm acesso aos bancos escolares, (falta de vagas nas
escolas), seja porque têm, que parar de estudar para ajudar no sustento da
família (trabalho infantil). O certo, é que a situação de grande parte das
crianças brasileiras é bastante caótica.
Debruçando o olhar mais especificamente para a educação infantil, objeto
deste estudo, verifica-se que, apesar do espaço social concebido a esta etapa,
como sendo o primeiro segmento do ensino básico, a educação oferecida à criança
de zero a seis anos não se encontra em comum acordo com o que dispõe a nova LDB
(lei n: 9394/96), pois é possível encontrar com grande facilidade escolas em
péssimas condições físicas, propostas pedagógicas ultrapassadas, sem falar, na
falta de profissionais qualificados para atender a essas crianças ativas,
curiosas, carentes de conhecimento, presentes no contexto atual.
É com essa preocupação que se buscou investigar as concepções de criança
sob o prisma dos educadores, mais especificamente, dos professores da educação
infantil, da Escola Municipal Professor Mateus Viana, em Caicó/RN, escolhida
como cenário e fonte de pesquisa deste estudo. O mesmo foi realizado através de
pesquisa bibliografia, visitas in loco e aplicação de questionário. Este foi
desenvolvido de janeiro a outubro de 2002.
O universo da pesquisa constou de 06 educadores: 04 professores do
ensino infantil, 01 diretora e 01 supervisora. A pretensão de investigar a
concepção da diretora e da supervisora da escola deve-se ao fato de
considerá-las como educadores, pois, a partir do momento que o sujeito passa a
interagir, participar e intervir na formação do indivíduo, ele é um educador.
A escolha dessa temática surge da inquietação e desconhecimento da
pesquisadora na forma como a criança é vista atualmente. Por conseguinte, a
escolha dessa escola ocorreu em virtude de residi no mesmo bairro, de conhecer
a clientela, manter contato a priore e, principalmente, por querer conhecer
mais a fundo a realidade da escola em questão.
Assim sendo, buscou-se desenvolver esse estudo em três capítulos, para
que se tenha uma visão mais acurada no objeto de investigação. Por essa razão
convida-se o leitor a prossegui conosco pelo seguinte percurso.
No primeiro capitulo, faz-se um breve resgate histórico da concepção de
criança, destacando-se os caminhos pelos quais estas foram sendo concebidas e
tratadas ao longo dos séculos, até os dias atuais, buscando e compreendendo a
criança na condição social de ser histórico e cultural, cabendo se salientar
que a analise das modificações votadas ao conceito de criança infância é feito
à luz das mudanças ocorridas na forma de organização da sociedade.
Seguindo o percurso histórico, enfatiza-se a criança no Brasil,
focalizando a forma como ela foi sendo concebida e tratada na sociedade
brasileira. Na ocasião, enfoca-se a criança na contemporaneidade brasileira,
destacando as conquistas e os percalços enfrentando por ela em nosso país.
Ainda neste capitulo, abordam-se as tendências pedagógicas e suas influências
nas concepções de crianças, mostrando como a mesma é concebida nas principais
tendências e/ou abordagens.
No segundo capítulo, pretende-se historiar o quadro de atendimento à
criança na educação infantil, buscando as origens das iniciativas destinadas à
criança de 0 a 6 anos. Nele encontra-se, também, a significação dos conceitos
creche, pré-escola e educação infantil.
No terceiro capítulo, e último desta obra, destaca-se a caracterização
da escola – objeto deste estudo – em seguida, apresentam-se os dados coletados
seguidos de suas respectivas analises, quando serão confortados com as teorias
vigentes acerca do tema exposto.
Por fim, destacam-se as considerações finais, onde se faz um apanhado
das principais questões que se destacaram ao longo desta obra, no caso deste
estudo, a concepção de infância.
Espera-se que este trabalho venha contribuir para uma reflexão (entre
educadores, estudantes, leigos e interessados) acerca do ser criança, por
conseguinte, na prática pedagógica dos educadores, enquanto agente de
transformação e transmissão de conhecimento.
O tema criança é inesgotável, “polêmico” e cheio de “controvérsias”,
pois a concepção de criança não se apresenta de forma homogênea em uma dada
sociedade, por essa razão não foi possível esgotá-lo nesse estudo, permitindo
que muitos aspectos venham a ser explorados/investigados em posteriores
pesquisa. Há muito que se aprende com a criança em sua relação de concretude
com o mundo. E os educadores, o que pensam sobre isso?
CAPÍTULO I
CRIANÇA: HISTÓRIA E CONCEITO
O propósito deste capítulo consiste em mostrar um breve histórico do
conceito de criança, focalizando-se o caminho pelo qual esta foi sendo
concebida e tratada, ao longo dos séculos, até os dias atuais, tendo como ponto
de referência às idéias de Philippe Ariès. Destaca-se também, a criança no
Brasil, quando serão enfatizadas as transformações ocorridas, por esta, dentro
de uma perspectiva histórica e cultural.
Logo após, enfoca-se a criança na contemporaneidade brasileira, ou seja,
como ela vem sendo tratada e/ou concebida no contexto atual.
Por fim, abordam-se as tendências pedagógicas e suas influências nas
concepções de criança.
Nossa pretensão, portanto, não é estudar a criança como um problema em
si, mas, sobretudo, entendê-la no seu contexto histórico, político, econômico e
cultural.
1.1 História cultural da criança.
A retrospectiva histórica e cultural do conceito de criança revela que
esta foi concebida e tratada de diferentes formas, dependendo da classe social
a qual pertencia e do grupo étnico do qual fazia parte, em diferentes momentos
e lugares da história da humanidade.
Nos séculos XII e XIII, não se afirmava, na iconografiada época, a representação positiva da idéia de “ser
criança”. Até mesmo as estátuas eram ornamentadas com o corpo de adulto.
Somente as iconografias profanas reservavam inscrições sobres às “idades da
vida” destacando a criança. (NUNES e SILVA, 2000).
De acordo com ARIÈS (1978), foi somente no século XIII que surgiram os
ícones de simbolização peculiar de alguns tipos de crianças um pouco mais
próximo do sentido moderno: o primeiro tipo de representação era religioso,
onde as crianças eram concebidas como um anjo com aparência de um rapaz. “O
segundo seria o modelo e o ancestral de todas as crianças da história da Arte:o
menino Jesus ou Nossa Senhora menina. O terceiro apareceu na fase gótica: a
criança nua, porém, sempre representada como assexuada”.
Até o fim do século XIII, não existiam crianças caracterizadas por uma
expressão particular, e sim homens de tamanho reduzido. As crianças eram
vestidas tais quais os adultos. (id)
Percebe-se que houve uma lenta mudança entre o século XII e XIV acerca
do ser criança, ou seja, há pouca diferença na forma como a sociedade concebe a
criança na passagem desse século (XII), como pode ser observado, no percurso da
história.
NUNES e SILVA, (op cit) comentando ARIÉS, informam que, no século XIV, a
iconografia acerca do ser criança se estabeleceu e fixou seus traços
essenciais, que permaneceram quase inalterados até o século XVIII.
Estes também acrescentam que no século XV as crianças ainda andavam
misturadas com os adultos e, com eles, participavam de festas, trabalhos e
reuniões, sempre correndo e dando saltos no ambiente supostamente reservado aos
negócios do adulto. Nessa fase da história, os limites entre infância e adolescência
eram incertos e mal percebidos.
Um século depois (XVI), pouca mudança houve na concepção de criança.
Nessa época, o sentimento de infância era de que a criança era uma coisa
“engraçadinha”, uma espécie de ser “exótico” e angelical. Tal sentimento não
deixava perceber a criança como um processo, ou seja, como sujeito de sua
própria história. (id)
Ainda comentando o século XVI, ARIÈS (op cit) revela que, ao analisar a
iconografia, os diários, túmulos, documento e vocabulário desse século,
percebeu que neles a criança é muito pouco representada e, quando é, aparece
como um adulto em escala menor. Antes dessa época, a criança não era
diferenciada do adulto e participava igualmente de várias manifestações
sociais.
Mas, é somente no final do século XVI e início do XVII que surge uma
radical mudança na pedagogia familiar e social. A criança havia conseguido um
lugar junto aos seus pais. Lugar este que, até então, não poderia ter ocupado,
uma vez que o costume mandava que a criança fosse confiada a estranhos. A
criança, nessa época, tornou-se um elemento indispensável à vida quotidiana,
além do que a vida familiar se estendeu a quase toda a sociedade. (NUNES e
SILVA, 2000).
Corroborando esse pensamento, SCORSATO (1998) destaca que é apenas no
início do século XVII que os adultos modificam sua concepção de infância e
concede uma visão nova à criança, o que significa ainda que se lhe reconheça um
lugar privilegiado na família e que se faça dela o seu centro. Havia, nesse
século,uma manifestação de medo da infância expressa através da filosofia e da
teologia. A criança aqui aparecia como símbolo da força do mal, do pecado
original, o que evidenciava o ponto de vista da natureza humana corrompida.
A partir do século XVII, sob a influência dos reformadores moralistas,
pouco a pouco se admitia que a criança não era preparada para a vida, cabendo
aos pais a responsabilidade pela formação moral e espiritual dos filhos,
gerando o aparecimento de novos sentimentos nas relações familiares. Os pais
passaram a enviar seus filhos à escola onde recebiam a sólida formação
proclamada pelo pensamento moralista da época. (ARIÈS apud MIRANDA, 1983)
Observa-se que nesse século a criança começa a adquirir mais espaço na
família e, conseqüentemente, na sociedade. Assim, NUNES e SILVA (op cit)
revelam que, no final do século XVII, já se observa o começo de uma separação
entre o mundo da criança e o mundo do adulto. Essa separação, segundo eles, é
irreversível, pois cresce até o fim do século XIX.
Contudo, KRAMER (In KRAMER e LEITE 1996) registra que a idéia de
infância aparece com a sociedade capitalista, urbano-industrial, na medida em
que mudam a inserção e o papel social da criança na comunidade. Se, na
sociedade feudal, a criança exercia um papel produtivo direto “de adulto”, na
sociedade burguesa ela passa a ser alguém que precisa ser cuidada, escolarizada
e preparada para uma atuação futura. Esse conceito de infância é determinado
historicamente pela modificação nas formas de organização da sociedade.
De acordo com PINHEIRO (1998), anteriormente à sociedade industrial, a
duração da infância se limitava à tenra idade em que ela necessita dos cuidados
físicos para sua sobrevivência, ou seja, tão logo seu desenvolvimento físico
fosse assegurado – aproximadamente aos sete anos -. Para ilustrar sua fala, a
autora cita ARIÈS (ibid, p. 43) quando comenta que a criança passava a conviver
diretamente com adultos, compartilhando do trabalho e dos jogos a todo o
momento, uma vez que a socialização acontecia no convívio com a sociedade, não
sendo determinada nem controlada pela unidade familiar.
KRAMER (op cit) mais uma vez se fundamenta em ARIÈS para informar que o
sentimento moderno de infância corresponde a duas atitudes contraditórias dos
adultos. Uma considera a criança como um ser ingênuo, inocente e puro e é
traduzida por aquilo que ele chamou de “paparicação”; reservada a criancinhas
em seus primeiros anos de vida. A segunda atitude, surge simultaneamente à
primeira, mas se contrapõe a ela, tomando a criança como um ser imperfeito e
incompleto, que necessita da “moralidade e da educação feita pelo adulto”.
Já para PINHEIRO (op cit), a idéia moderna de infância foi determinada
socialmente pela organização social capitalista, defendida pelos interesses de
uma classe ascendente, a burguesia. Entretanto, a idéia de infância que se
desenvolveu e chegou até nossos dias não exprime seu fundamento histórico. Ao
contrário, trata-se de um conceito interno, universal e natural, sendo
dissimulada a dimensão social da relação criança com o adulto e a sociedade.
AMARILHA (199_) coloca que – do ponto de vista histórico -, a infância
surge a partir do século XVIII. Até então, não se encontrava um corpus de
conhecimentos, nem tampouco um conceito formulado para esse período de
desenvolvimento humano entre as várias ciências. Nesse sentido, as crianças
participavam da vida da sociedade com cuidados especiais às suas necessidades.
1.2. Conceito de criança
Compilando a literatura existente, percebe-se que a palavra infância foi
concebida e tratada de diferentes maneiras em distintos momentos da história da
humanidade.
Até o século XVII, a criança tinha pouca importância para a sociedade,
por conseguinte para a família. De acordo com ARIÈS (ibid, p. 19), nesse
século, a criança ainda era vista como um ser frágil, indefeso, e a expressão
usada para designá-la era “petit enfant” que significava “criança pequena” ou “criancinha”.
AMARILHA (ibid) também comenta que não havia uma preocupação maior com
essa fase da vida, pois o período era marcado pelo alto índice de mortalidade.
Sendo seres tão transitórios, não valia a pena dedicar-lhes sentimentos mais
profundos e duradouros. As crianças eram deixadas para serem criadas por
serventes, amas-secas, até que pudessem ter certa autonomia para o convívio com
os adultos e chegasse a lhes ocupar o lugar.
De acordo com o dicionário Latino-Português de 1962, a palavra infância
advinda do latim infantia significava “incapacidade de falar, nudez”. Esse
conceito deriva do fato de se considerar que até os 7 anos a criança era
incapaz de falar, por conseguinte “incapaz de pensar”, “incapaz de expressar”,
gerando-se daí uma atitude condescendente do ponto de vista intelectual que
revela a condição subalterna a que eram submetidas às crianças.
LAJOLO (In FREITAS 2000) revela que a constante necessidade de recorte e
afirmação, de busca de precisão cada vez maior do conceito de infância fê-la
buscar o dicionário Aurélio, que navega rente à psicologia em seu verbete
relativo à infância, quando diz que esta significa: período de vida que vai do
nascimento à adolescência, no qual o crescimento se faz, concomitantemente, em
todos os domínios e, que, seguindo os caracteres anatômicos, fisiológicos e
psíquicos, divide-se em três estágios: primeira infância, de zero a três anos;
segunda infância, de três a sete anos; e terceira infância, de sete anos até a
puberdade.
Contudo, SCORSATO (id) nos mostra que, no século XVIII, a criança era
vista como um brinquedo. A palavra usada para designá-la era Poupart, que
significa boneca.
Para reforçar tal visão, a autora cita BANDINTE (apud SCORSATO,1998)
quando relata que: “… Poupart é considerado com muita freqüência pelos pais
como um brinquedo divertido do qual se gosta pelo prazer que proporciona, e não
pelo seu bem. É uma espécie de pequeno ser sem personalidade, um jogo nas mãos
do adulto… mas quando tem idade e se torna sério, não nos interessa mais. À familiaridade
excessiva sucede uma severidade exagerada, ou uma indiferença gélida”.
No outro extremo, situam-se as idéias de ROUSSEAU quando cita que a
criança é um ser com características próprias, não sendo admissível que
continuasse sendo encarada como um adulto em miniatura. A infância, para esse
filosofo, constituía uma fase da vida e não uma simples preparação para a vida.
A criança, segundo ele, teria que se comportar como ela é e não como os adultos
gostariam que ela fosse. ROUSSSEAU foi o primeiro a considerar a criança
enquanto tal, com sentimentos, desejos e idéias próprias, diferentes dos
adultos. (ROUSSEAU apud PINHEIRO, 1998).
No século XIX, a criança passa a ter novo significado. Surge assim um
novo termo para designá-la. Esta passa a ser chamada de “baby”, termo usado
para crianças de poucos meses de nascimento. NUNES E SILVA (ibid, 27)
PEREIRA e SOUZA (apud KRAMER e LEITE) acrescentam que, desde o final
desse século (XIX), percebe-se uma tendência crescente de separar o mundo das
crianças do mundo dos adultos. A educação das crianças, que acontecia
diretamente ligada à vida nas reuniões de trabalho e lazer, foi substituída
pela aprendizagem escolar. Começa, então, um longo processo de enclausuramento
de crianças, mas também dos adultos, que se estende até os dias atuais, que vai
desde a escolarização dos modos mais sofisticados e sutis de confinamento
espacial.
1. 3. Focalizando a Criança no Brasil
Numa breve incursão pela história da criança no Brasil. Observa-se que a
“preocupação” com esta, data somente do final do século XIX.
De acordo com NUNES e SILVA (op cit), o Brasil só reconhece a criança no
final do século XIX. Relegada aos escravos, desde o período colonial, e mantida
longe da cultura social, a criança brasileira tem uma história marcada pelo
silêncio e pela violência real e simbólica.
Os autores também citam que os jesuítas foram os primeiros a criarem um
espaço institucional, bem definido, para o tratamento das crianças brasileiras
que eram em sua maioria, formadas pelos filhos dos índios. Para os Jesuítas, a
infância era o momento oportuno para a assimilação das regras de disciplina e
da fé. Os jesuítas trouxeram da Europa a idéia da infância santa inspirada na
iconografia da infância do menino Jesus. Por isso, eles acreditavam na catequização
e na conversão dos indiozinhos, como caminho para atingir o grupo e toda a
sociedade indígena.
Ainda, conforme CHAMBOULEYRON (In PRIORE, 2000), a infância estava sendo
descoberta nesse momento no velho mundo. Resultado da transformação nas relações
entre indivíduo e grupo que ensejava o nascimento de novas formas de
afetividade e a própria “afirmação do sentimento da infância”, na qual a Igreja
e Estado tiveram um papel fundamental. Foi esse movimento também “que fez a
companhia escolher as crianças indígenas como “papel branco”, a cera virgem, em
que tanto se desejava escrever ou inscrever-se” a fé cristã..
A infância no Brasil foi marcada por uma longa história de exploração da
mão-de-obra infantil. As crianças pobres sempre trabalharam. Para quem? Para
seus donos, no caso das crianças escravas da Colônia e do Império. Para os
“capitalistas” do início da industrialização, como ocorreu com as crianças
órfãs, abandonadas ou desvalidas, a partir do final do século XIX; Para os
grandes proprietários de terras como bóias-frias; nas unidades domésticas de
produção artesanal ou agrícola; nas casas de família; e, finalmente, nas ruas
para manterem a si e as suas famílias. RIZZINI, (In PRIORE 2000)
Para PRIORE (2000), a dicotomia dessa sociedade, dividida entre senhores
e escravos gerou outras distorções, até hoje, presentes na sociedade. Tomemos o
exemplo do trabalho infantil. Dos escravos desembarcados no mercado do Valongo,
no Rio de Janeiro do início do século XIX, onde 4% destes eram crianças.
Destas, apenas um terço sobreviveu até os dez anos de idade. A partir dos
quatro anos muitas delas já trabalhavam com os pais ou sozinhas, pois se
“perder” de seus genitores era coisa comum.
No século XIX, a alternativa para os filhos dos pobres não seria a
educação, mas a transformação destes em cidadãos úteis e produtivos na lavoura.
Enquanto isso, os filhos de uma pequena elite eram ensinados por professores
particulares. No final desse século, o trabalho infantil continua sendo visto
pelas camadas subalternas como “a melhor escola”. O trabalho (explica uma mãe
pobre) é uma distração para a criança. Se não estivesse trabalhando, vai
inventar moda, fazer o que não presta. (id)
A pobreza e a falta de escolarização da criança brasileira, ao longo de
sua história, tornam as teses européias absolutamente inadequadas ante as
realidades de uma sociedade em que, como explica “uma menina de rua”: “Sonhos
não enchem barriga”! a estratificação da Sociedade velha divisão dos tempos da
escravidão, entre aqueles que muito possuem e os que nada têm só fez agravar a
situação das nossas crianças. Acrescenta PRIORE (op cit).
Com base nesse relato, RIZZINI (In PRIORI, 2000) acrescenta que a
história das crianças, mostra que em muitas regiões miseráveis do país,
incluindo os bolsões de pobreza nas grandes cidades, o estudo tem pouco valor
frente à necessidade de sobrevivência. Dentre as causas dessa desvalorização
estão: jornadas fatigantes de trabalho, escolas distantes e despreparadas para
lidar com seus alunos, mantendo as crianças longe das salas de aula.
Esse autor ainda relata que as crianças brasileiras são, em sua maioria,
geradoras de riqueza para o país, juntamente com suas famílias, mas, no
entanto, vivem do trabalho semi-escravo, com total falta de perspectiva de
vida.
ARIÈS (apud PERRENOUD, 2001) coloca que durante muito tempo, as crianças
não foram consideradas seres à parte, protegidas ao máximo das ameaças, das
relações de poder, da promiscuidade, do dinheiro, do trabalho. Elas formavam a
mão-de-obra familiar, agrícola e industrial; viviam com os adultos e, desde a
mais tenra idade, integravam-se às redes sociais complexas. Durante muito
tempo, os adultos utilizaram sem escrúpulos seus meios de dominação para reduzir
as crianças ao silêncio, para fazê-las obedecer e trabalhar.
Boa parte das crianças brasileiras enfrenta atualmente, um cotidiano
bastante adverso que as conduz desde muito cedo a precárias condições de vida,
ao trabalho infantil, ao abuso e exploração por parte de adultos. Entretanto,
existem crianças que são protegidas de todas as maneiras, recebendo de seus
familiares e da sociedade em geral todos os cuidados necessários ao seu
desenvolvimento. Essa dualidade revela a contradição e conflito de uma sociedade
que não resolveu ainda as grandes desigualdades sociais presentes na sociedade.
(RCNEI, 1998).
1. 4. A criança na contemporaneidade brasileira.
Analisando a história da criança e/ou a infância no Brasil, observa-se
que esta foi marcada pela repressão, marginalização e exploração nas mais
diferentes formas, tanto pela “família” como pela sociedade.
Para KRAMER (In KRAMER e LEITE, 1996), a infância hoje é tema de
discussão em várias áreas do conhecimento e motivo de mobilização de diversos
movimentos da sociedade civil, que reconhece a criança como cidadã e luta para
que os direitos sociais afirmados na letra da Constituição desde 1988 façam
valer, pois apesar dos “avanços” adquiridos no que dispõe a Lei, a criança
hoje, ainda, vem sendo excluída, violentada, abusada sexualmente e maltratada
física e psicologicamente.
A despeito disso, CRAIDY (In CRAIDY e KRAMER, 2001), comenta que a Lei
de Diretrizes e Bases da educação – LDB, assim como as outras Leis recentes a
respeito da infância no Brasil são fruto da Constituição Federal de 1988, que
definiu uma nova doutrina em relação à criança, que é a doutrina da criança
como sujeito de direitos. Desde essa Constituição (1988) ficou legalmente
definida que os pais, a sociedade e o poder público têm que respeitar e
garantir os direitos da criança. Direitos esses definidos no artigo 227 que
diz:
Art. 227 – É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à
criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à
alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade
e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda
forma de negligência, discriminação, exploração, violência e opressão.
Nesse sentido, nem os pais, nem as instituições de atendimento ou
qualquer membro da sociedade ou do governo poderão fazer com as crianças o que
bem entenderem e/ou considerarem válido. Assim sendo, todos são obrigados a
respeitar os direitos definidos na constituição brasileira que reconheceu a
criança como um cidadão em desenvolvimento. (CRAIDY, id).
Ainda comentando os direitos reservados às crianças, OLIVEIRA (2002)
informa que a década de 90 foi palco de novos marcos e/ou conquistas. Uma delas
foi a promulgação do Estatuto da Criança e do Adolescente, que caracterizou as
conquistas dos direitos das crianças promulgados pela Constituição. Essa
“conquista” preparou o ambiente para a provação da nova LDB – Lei nº 9394/96
que estabelece a educação infantil como etapa inicial da educação básica. Essa
foi uma conquista histórica, onde as crianças brasileiras são tiradas de seu
confinamento em instituições de cunho assistencialista.
Contudo, ainda assisti-se ao fato de muitas crianças ficarem fora da
escola, sem contar nos inúmeros casos de crianças estupradas, violentadas e
exploradas física e emocionalmente.
É com essa preocupação que KRAMER (id) relata: “a situação das crianças
é ‘gravíssima’. Há cerca de 60 milhões de brasileiros na faixa etária de 0 a 17
anos, seis em cada dez crianças com menos de um ano vivem em casas, sem
saneamento básico, mais de 15% das crianças e adolescentes pertencem a famílias
com renda per capita de até meio salário mínimo”.
Atualmente, quase 60% das crianças brasileiras são trabalhadores. No
Nordeste são analfabetos, e entre eles, a taxa de evasão escolar atinge 24%. No
Sul do país o cenário não é muito diferente. Trabalhando em lavouras, as
crianças interrompem seus estudos na época da colheita. O trabalho, como forma
de complementação salarial para famílias pobres miseráveis, sempre foi
priorizado em detrimento da formação escolar. (PRIORE, 2000).
No caso das crianças brasileiras, a lei já proíbe o trabalho infantil a
partir do Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei n.º 8.069, de 13 de junho
de 1990). Desde essa época o trabalho infantil foi proibido até os 14 anos.
Contudo, boa parte das crianças ainda enfrenta um cotidiano bastante adverso
que as conduz desde cedo a precárias condições de vida, ao trabalho infantil,
ao abuso e à exploração por parte de adultos.
A situação da criança no Brasil não pára por aí. De acordo com RIZZINI,
(In PRIORE, 2000) 40% das crianças de até 14 anos, no nosso país, vivem em
famílias cuja renda média é de sessenta reais por pessoa. No Nordeste, a
situação ainda é mais crítica, 63% das famílias não têm rendimento.
É com essa preocupação que GADOTTI (In FLEURY, 2000) faz o seguinte
desabafo: “vivemos um tempo em que a criança é vítima da crise geral da
sociedade. A violência generalizada não perdoa a infância, quase sempre
indefesa. Vivemos em um país onde a massa da população é menor de idade; no
entanto, ela é postergada, utilizada como canal de exploração do adulto, ou
simplesmente abandonada, quando se trata das classes subalternas. Um país onde
milhares de crianças morrem anualmente de fome”.
Tal visão assemelha-se a de SCORSATO (1998) quando revela que a ética da
nossa modernidade é ter sucesso e, para isso, convoca os filhos, as crianças
para satisfazerem certos objetivos predeterminados, que dêem resultados como as
máquinas.
Ainda relatando o problema da criança brasileira, GODOTTI (op cit)
afirma que este é quase universal. No âmbito do lar, há prêmios e castigos em
função dos valores instituídos, onde a criança é “indesejada”, assim como os
velhos, pois não produzem. É dito que se ama uma criança embora,
contrariamente, no cotidiano ela é apenas tolerada. Esta é a realidade para
grande parte das crianças no contexto atual.
Já para PEREIRA e SOUZA (In KRAMER e LEITE, 1998) as crianças,
atualmente, estão com agenda lotada. A televisão se transformou em babá. Pais
ausentes, carinhos transformados em objetos. Erotização da infância,
sexualidade, publicidade, individualismo desencadeado pela ausência do outro.
Criança sozinha, criança que manda nos pais. Esses são alguns dos fragmentos
que compõem o contexto da criança na sociedade contemporânea.
Segundo DAMAZIO (1994), a realidade urbana contemporânea impõe à criança
um ritmo de vida alucinante. De um lado, o convívio tenso das desigualdades
sociais e, do outro, um bombardeio múltiplo de informações. A subjetividade da
criança se tece no contato com tais realidades.
Nessa ótica, PEREIRA E SOUSA (1998), a criança no mundo moderno, também
veste asas de anjos da história. As asas abertas talvez não signifiquem
promessas de vôo. Seriedade. Sisudez. É preciso tornar-se um sujeito de razão.
Prontidão. Amadurecimento. Pressa. Judô. Informática. Natação. Criança vivendo
na rua. Trabalho infantil. Erotização. Prostituição. Objeto de consumo.
Apressamento da infância. Empurada, seduzida cada vez mais para o futuro mundo
adulto. Que imagens guardar de tudo isso? Que dialogo manter com um tempo que
se evapora, nos nossos pés sem deixar rastros ou marcas?
Para finalizar, JOBIM e SOUZA et al (apud KRAMER E LEITE, 1998) comentam
que os filhos já não se reconhecem como continuidade da história dos pais,
tornando-se estranhos na própria casa. Descoberta pelo mercado, a criança vive
o paradoxo de ser consumidora e objeto de consumo ao mesmo tempo. Transformada
por nós, sem qualquer piedade ou indignação, em mercadoria da época, a criança
contemporânea tem como destino flutuar erraticamente entre adultos que já não
sabem o que fazer com ela.
Enfim, a modernidade não trouxe “avanços” para a posição social da
criança e para elevação da compreensão do seu papel.
1. 5. Tendências pedagógicas: influências nas concepções de criança.
Segundo assinala MIRANDA (1983) podem-se distinguir duas concepções
distintas de criança na educação: uma na pedagogia tradicional e a outra na
pedagogia nova. Estas conservam a idéia de natureza infantil. Para se
compreender tal visão, a autora cita CHARLOT (apud MIRANDA, 1983) quando revela
que todas as duas abordam a criança do ponto de vista de sua “educabilidade e
sua corruptibilidade”, mesmo que essa idéia seja completamente diferente.
MIRANDA (id) ainda comenta que, na pedagogia tradicional, a idéia de
criança é a do que ela deverá ser se for adequadamente educada. Já a pedagogia
nova vê a criança como um ser pleno para a auto-realização em cada etapa do
desenvolvimento. A criança é, portanto, naturalmente boa e ingênua, podendo ser
corrompida se não protegida e respeitada. Nas duas pedagogias, a criança é,
portanto, definida como um tempo negativo (pedagogia tradicional) ou tempo
positivo (pedagogia nova) de uma natureza infantil.
Tomando-se a pedagogia como tema de análise, percebe-se nas duas opções
urgente determinada “tradicional” e “nova” estar presente a dupla concepção de
infância. Para a pedagogia tradicional, a natureza da criança é originalmente
corrompida, a tarefa da educação é discipliná-la e inculcar-lhes regras,
através de intervenção direta do adulto e da constante transmissão de
modelos.(KRAMER, 1992)
Para essa autora, a pedagogia “nova” ou “moderna”, ao contrário, concebe
a natureza da criança como inocente, original; a educação deve proteger o
natural infantil, preservando a criança da corrupção da sociedade do adulto,
mas na liberdade da criança e na expressão de sua espontaneidade. Na concepção
de infância elaborada pela pedagogia nova torna-se possível o surgimento de uma
psicologia científica da criança e de um método genético a partir do qual a
criança deve ser compreendida em função do seu passado individual. Ambas as
perspectivas tratam a criança como um ser abstrato. Tal quadro pedagógico
camufla ideologicamente a significação social da infância, quer seja,
filosófico ou pedagógico.
SILVA (2002) revela que após a Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional (Lei nº 9.394/90) passou-se a revalorizar as idéias de PIAGET,
VYGOTSKY E WALLON.
PIAGET (apud PINHEIRO, 1998) opõe-se claramente à concepção de criança
enquanto um adulto em miniatura. Para ele, há uma especificidade necessária à
característica, aos diferentes momentos do desenvolvimento da criança. Nesse
processo, a realidade percebida vai sofrendo um pouco de construção e de
reconstrução, até que se aproxima daquela aprendida pelo adulto.
Para PIAGET, diferentes estágios do desenvolvimento caracterizam formas
diversificadas, mediante as quais o indivíduo interage com a realidade e vai,
gradativamente, organizando seus conhecimentos e promovendo a sua adaptação.
As idéias de VYGOTSKY (apud MACHADO, 2000), assemelham-se as de PIAGET
quando contesta as teorias que descrevem a criança como um adulto em miniatura
ou como um ser que evolui acumulando e reproduzindo conhecimentos. A criança
para ele é um sujeito social criador e recriador de cultura.
Baseado na construção de uma epistemologia sócio-genética, ela chega à
conclusão de que ao mesmo tempo em que a criança é transformada pelos valores
culturais do seu ambiente, ela transforma esse ambiente. Para esse autor, o
conhecimento é fruto das interações sociais que se estabelecem pela mediação
dos signos culturais construídos na coletividade.
WALLON (apud OLIVEIRA, 2002), tal como VYGOSTSKY, considera o desenvolvimento
humano resultante de uma dupla história que envolve as condições do sujeito e
suas sucessivas situações que o envolve. Para ele a atividade da criança só é
possível graças aos recursos oferecidos tanto pelo instrumental quanto pela
linguagem utilizada ao seu redor, sendo a mediação feita por outras pessoas
particularmente fundamental na construção do pensamento e da consciência de si.
CAPÍTULO II
A CRIANÇA NA EDUCAÇÃO INFANTIL: PANORAMA HISTÓRICO
Há algumas décadas a família era responsável por tida à formação moral e
ética da criança, cabia à escola a tarefa de transmitir conhecimentos.
Atualmente a situação é completamente distinta. Com o avanço tecnológico e a
ascensão profissional da mulher, as crianças são levadas à escola cada vez mais
cedo. Se antigamente apenas algumas deixavam o ambiente doméstico aos quatro
anos para brincar no “jardim de Infância”, agora várias freqüentam as creches
desde bebês.
Atualmente, a educação infantil, é considerada a etapa mais importante
na escolarização da criança de zero a seis anos, uma vez que ela é o alicerce
do processo educativo, cuja finalidade é desenvolver a criança integralmente em
todos os níveis: sociais, psicológicos, emocionais e cognitivos.
Partindo dessa premissa, pretende-se neste capítulo historiar o quadro
do atendimento à criança na educação infantil, buscando as origens do tipo de
atendimento destinado a esta, em cada época, quando serão focalizados os
aspectos políticos, sociais e educacionais contidos nessa abordagem.
2. 1. Traçando os caminhos da criança na educação infantil.
Para compreender o atual contexto da educação infantil no Brasil, faz-se
necessário conhecer a história do atendimento à criança na faixa etária de zero
a seis anos de idade, ou seja, buscam-se aqui as origens dos diversos tipos de
iniciativas destinadas à infância, ao longo da história do país, procurando
compreender seu significado em cada época.
Conforme cita BUJES (In CRAIDY e KAERCHER, 2001) a educação da criança,
durante muito tempo, foi considerada uma responsabilidade das famílias ou do
grupo social ao qual pertencia. Por um bom período da história da humanidade,
não houve nenhuma instituição responsável por compartilhar essa
responsabilidade pela criança com seus pais e com a comunidade da qual faziam
parte.
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Nos séculos XV e XVI, foram criados modelos educacionais para responder
aos desafios estabelecidos pela maneira como a sociedade européia então se
desenvolvia. Com o surgimento do desenvolvimento científico, da expansão
comercial e das atividades artísticas ocorridas no período Renascentista
estimulou-se o surgimento de novas visões sobre a criança e como ela deveria
ser educada. (OLIVEIRA, 2002)
BUJES (op. cit) nos informa que o surgimento das instituições de
educação infantil esteve de certa forma, relacionado ao nascimento da escola e
do pensamento pedagógico moderno, que pode ser localizado entre os séculos XVI
e XVII. A escola muito parecida com a que conhecemos hoje, organizou-se porque
ocorreu um conjunto de possibilidades: a sociedade na Europa mudou muito com a
descoberta de novas terras, novos mercados, com o desenvolvimento científico e
também com a invenção da imprensa, que permitiu que muitos tivessem acesso à
leitura.
Na concepção de OLIVEIRA (op. cit), as instituições de educação infantil
nasceram no século XVIII, em resposta à situação de pobreza, abandono e
maus-tratos das crianças pequenas, cujos pais trabalhavam em fábricas,
fundições e minas criadas pela Revolução Industrial que se implantava na
Europa.
Nesse contexto, ABRAMOVAY e KRAMER (1985) acrescentam que a necessidade
por pré-escola surge como reflexo direto das grandes transformações sociais,
econômicas e políticas que ocorreram na Europa, mais precisamente, na França e
Inglaterra a partir do século XVIII. As creches, nessa época, surgem com
caráter assistencialista, visando afastar as crianças pobres do trabalho servil
que o sistema capitalista em expansão lhes impunha.
De acordo com PINHEIRO (1998), é na França que se esboça a primeira
tentativa de trazer para os estabelecimentos filantrópicos, responsáveis pelas
crianças carentes a preocupação com as questões de natureza pedagógica.
A discussão sobre a escolaridade obrigatória, que se intensificou em
vários países europeus nos séculos XVIII e XIX, enfatizou a importância da
educação para o desenvolvimento social. Nessa época, a criança passou a ser o
centro do interesse educativo dos adultos começando a ser vista como sujeito de
necessidades, objetivos com expectativas, e que precisa de cuidados. A escola,
para os que podiam freqüentá-la, tornava-se nesse momento um instrumento
fundamental. (OLIVEIRA, op. cit)
Com os primeiros movimentos desencadeados no século XIX,
convencionalmente chamados de Revolução Industrial, instala-se na Europa um
gradual processo de transformação. Em decorrência dessas transformações,
aumenta a participação da mulher no mercado de trabalho. A incorporação da mulher
à força de trabalho faz com que a função de cuidar e educar as crianças com
menos de 7 anos fique a cargo de instituições. Dessa forma, surge a oferta de
asilos e de creches. Instituições de cunho meramente assistencialista. (KRAMER,
1992).
Contudo, FREITAS e KUHLMANN Jr. (2002) relatam que as primeiras
iniciativas relacionadas com o que chamaríamos de “pré-escola” ou “educação
infantil” surgem em Portugal, com as instituições educativas denominadas “casas
de Asilo da Infância dos desvalidos”. Essas instituições surgiram ainda no
século XIX, mais precisamente em 1834, pouco depois do término da guerra entre
liberais e miguelitas.
ABRAMOVAY e KRAMER (op cit) ainda nos mostram que, no final do século
XIX, uma nova função passa a ser atribuída à pré-escola, mais relacionada à
idéia de educação do que à de assistência. São criados os jardins de infância
nas favelas alemães por Froebel; nas favelas Italianas por Montessori e nas
favelas Americanas por Rebody. A função da pré-escola, nessa época, era a de compensar
as deficiências das crianças, sua miséria, pobreza e a negligência de suas
famílias.
Comentando o final do século XIX, KUHLMANN Jr .(apud SOUZA, 1996) revela
que nessa época as creches, asilos e jardins-de-infância eram propostos como
parte de um conjunto de iniciativas destinadas à população pobre, que compunha
uma nova concepção assistencial.
Já no Brasil, o atendimento massivo de crianças pequenas em creches e
pré-escola tem uma história relativamente recente. Segundo assinala PINHEIRO
(1998), o surgimento histórico da pré-escola no Brasil não se deu como num
passe de mágica. Sua institucionalização foi precedida por um longo processo,
no qual a preocupação com a educação da criança foi gradativamente assumindo
formas cada vez mais sistematizadas, como se pode perceber acompanhando o
percurso da história.
De acordo com OLIVEIRA (op cit), a história da educação infantil, de
certa forma, tem acompanhado a história de outras partes do mundo – com
características que lhes são próprias -. Até meados do século XIX, o
atendimento de crianças pequenas em instituições como creches ou parques
infantis, praticamente não existia no Brasil.
A despeito disso, FILHO (apud KRAMER, 1992) informa que durante o 1º
período do descobrimento do Brasil, por volta de 1874, pouco se fazia no país
pela infância “desditosa” tanto do ponto de vista da proteção jurídica, quanto
das alternativas de atendimentos existentes.
Na ótica de KRAMER (1992), as primeiras iniciativas voltadas à criança
partiram de higienistas que se dirigiram contra o alarmante número de
mortalidades infantis, atribuídas por eles a duas causas: uma dizia respeito
aos nascimentos ilegítimos, fruto da união entre escravos, ou dos senhores. A
outra, referia-se à falta de “educação física, moral e intelectual das mães”,
ou melhor, a sua negligência na medida em que permitiam o aleitamento
mercenário (escrava de aluguel)
FILHO (apud KRAMER, 1992) ainda relata que de 1874 até 1889,
aproximadamente, caracteriza-se pela existência de vários projetos elaborados
por grupos particulares, em especial médicos, que tratavam do atendimento à
criança.
Nesse contexto, KRAMER (op cit) comenta que a idéia de proteger a
infância começava a despertar, contudo, o atendimento restringia-se a
iniciativas isoladas que tinham um caráter localizado. Mesmo aquelas
instituições dirigidas às classes desfavorecidas, como os três Institutos de
Menores Artífices, fundados em Minas Gerais, em 1876 ou mesmo os colégios e
associações de amparo à infância, além do 1º Jardim de Infância do Brasil, eram
insuficientes frente à situação de saúde e educação da população brasileira.
OLIVEIRA (op cit) registra que, em 1885, os jardins de infância foram
confundidos com as salas de asilos franceses, ou entendidos como início
perigoso da escolaridade precoce.
De acordo com GEIB (1998), a educação infantil no Brasil assumiu
diferentes funções e concepções. Nas primeiras décadas do século XX,
predominaram a concepção médico-higienista, com o objetivo de proteger a
criança do risco de doenças e mortes, intenções essas inseridas em um projeto
maior de saneamento básico que pudesse conduzir o país à civilização e à
modernidade.
JÚNIOR (apud GEIB, 1998) comenta que, no início desse século, foram
implantadas as primeiras instituições pré-escolares nas indústrias, por força
da necessidade de regulamentar as relações trabalhistas das mulheres,
emergentes no sistema capitalista que se impunha.
Mas, é somente em 1908, que se institui a primeira escola infantil em
Belo Horizonte e, em 1909, o primeiro jardim-de-infância municipal no Rio de
Janeiro. (OLIVEIRA, op cit)
KISHIMOTO (apud SOUZA, 1996), comentando uma pesquisa sobre a pré-escola
no Brasil, relata que as primeiras creches instaladas em São Paulo, no início
da república, por volta de 1920, confundem-se com asilos infantis, por atender
basicamente crianças órfãos, em regime de internato. Conhecidas por absorver
funções de guarda das crianças, estas não merecem atenção do governo.
Em 1922, ocorreu no Rio de Janeiro, o Primeiro Congresso Brasileiro de
Proteção à Infância, onde foram discutidos temas como a educação moral e
higiênica, com ênfase no papel da mulher. Nesse congresso surgiram as primeiras
regulamentações do atendimento às crianças pequenas em escolas maternais e
jardins-de-infância. Acrescenta OLIVEIRA (ibid)
KRAMER (1992) comenta que a década de 30 é considerada como limite pelas
modificações políticas, econômicas e sociais ocorridas no cenário nacional, que
refletiram na configuração de instituições voltadas às questões de educação e
saúde.
Em 1937, Gertúlio Vargas implanta o Estado Novo e a educação passa a se
encarada como um instrumento que poderia garantir as novas gerações uma
formação de acordo com os valores e normas preconizados pelo ideário daquela
época.
KISHIMOTO (apud SOUZA, 1996) menciona que as novas unidades
assistenciais que surgiram ao longo dos anos trinta contavam com professores
normalistas subsidiados pelo governo. Essas unidades utilizavam o termo
Jardim-de-infância, invés de escolas maternais. Seu objetivo era atender
crianças das camadas populares, prestando assistência médica e atendimentos
educativos, ao mesmo tempo.
OLIVEIRA (op cit) comenta que apesar da década de 30 ter sido criada
algumas instituições oficiais voltadas à proteção à criança, foi na década de
40 que prosperaram iniciativas governamentais na área da saúde, previdência e
assistência. O atendimento fora da família aos filhos que ainda não
freqüentavam o ensino primário era vinculado à questão de saúde. Entendidas
como mal necessário, as creches eram planejadas como instituições de saúde, com
rotinas de triagem, lactário, peso, dentre outras.
Seguindo o percurso da história, a autora menciona que em 1943, com a
consolidação das Leis do trabalho, o acesso a creches pelos trabalhadores foi
ganhando novos contornos, pois a criação de creches por parte dos empregados
nos locais de trabalho até então era considerado um ato de benemerência.
PINHEIRO (1998) revela que sob o ponto de vista da prática pedagógica
propriamente dita, verificou que até 1945, uma situação de equilíbrio entre as
concepções humanista tradicional e humanista moderna. Nesse período, no qual
está englobando o escolanovismo, a criança é valorizada na sua autonomia e
respeitada quanto aos seus interesses.
Até a década de 1950, as poucas creches que existiam, eram de
responsabilidade de entidades filantrópicas laicas. O trabalho com as crianças
nas creches tinha um caráter assistencial. A preocupação era alimentar, cuidar
da higiene e da segurança física. Havia pouca valorização do trabalho orientado
à educação e ao desenvolvimento intelectual e afetivo das crianças.(KRAMER,
1992)
Foi nessa época também que, o Ministério do Trabalho, passou a
desaconselhar a instalação de creches pelas empresas, por considerar inadequada
nas indústrias e muito dispendiosa a sua instalação. (OLIVEIRA, 2002)
Na década de 60, a pré-escola começa a ser configurada com a finalidade
pedagógica de minimizar o alto índice de repetência, tornando-se um mecanismo
preparatório que poderia garantir o sucesso escolar futuro. (PINHEIRO, 1998)
SOUZA (1996) revela também, que nessa década, uma mudança importante
havia ocorrido na educação, onde a Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional, aprovada em 1961, Lei nº 4024/61 aprofundou a perspectiva apontada
desde a criação dos jardins-de-infância, incluindo-a no sistema de ensino como
pode ser observado no que dispunha os artigos desta a Lei:
Art. 23. A educação pré-primária destina-se aos menores de até 7 anos, e
será ministrado em escolas maternais ou jardins-de-infância.
Art. 24. As empresas que tenham a seu serviço mães de menores de sete
anos serão estimulados a organizar e manter, por iniciativa própria ou em
cooperação com os poderes públicos, instituições de educação pré-primária.
É somente a partir da década de 70 que a importância da educação da
criança é reconhecida e as políticas governamentais começam a ampliar o
atendimento em especial das crianças de 4 a 6 anos. Entretanto, essa educação
ainda não estava assegurada pela legislação, o que dificultou sua expansão para
esse nível de ensino. (KRAMER, 1992).
CAMPUS citado por ABRAMOVAY e KRAMER (1985), relata que nessa época a
pré-escola no país se tornou um mito, sendo subitamente considera a “solução de
todos os males, compensadora de todas as deficiências educacionais,
nutricionais e culturais de uma população”.
OLIVEIRA (op cit) acrescenta que foi ainda nessa época aumenta da
demanda por pré-escola, fato esse ocasionado pelo processo de municipalização
da educação pré-escolar enquanto instituição pública, pois com a diminuição de
vagas nas redes estaduais de ensino e sua ampliação nas redes Municipais, o
percentual das receitas municipais passou de 25% dos gatos com o ensino.
Contudo, KRAMER (op cit) informa que foi a partir de 1971, com a Lei
5692/71, que a educação básica foi prolongada de 4 para 8 anos de duração,
passando o ensino de 1º grau, dirigido as crianças de 7 a 14 anos, a ser
obrigatório em todo o estado Nacional. Contudo, essa Lei não definiu nenhum
termo para designar a educação da criança na faixa etária anterior, aos sete
anos:
Art. 19- Os sistemas de ensino velarão para que as crianças de idade
inferior a sete anos recebam conveniente educação em escolas maternais,
jardins-de-infância e instituições equivalentes.
A despeito disso, PINHEIRO (1998) relata que do ponto de vista legal, é
a Lei 5692/71, o primeiro documento que normatiza a ação do poder público em
relação à pré-escola. A partir de então, a educação infantil em creches e
pré-escolas passou a ser, um dever do estado e um “direito” da criança.
Entretanto, SOUZA (1996) revela que, apesar dessa Lei (5692/71) ter
apresentado esse artigo sobre a educação infantil, este se apresenta de maneira
genérica, em nada contribuído para estimular sua expansão pelos organismos
públicos, ficando sua prática restrita a algumas poucas escolas dos grandes
centos urbanos do país.
De acordo com OLIVEIRA (op cit), em 1972 houve um aumento na demanda por
pré-escola chegando a 460 mil matriculas em todo país. Dois anos depois (1974),
o Ministério da educação e Cultura criou o serviço de Educação Pré-Escolar, e,
em 1975 a Coordenadoria de Ensino Pré-Escolar.
E em 1977 é criado um programa de educação Pré-escolar de massa,
intitulado Projeto Casulo o qual foi organizado em muitos brasileiros, com o
objetivo de atender um número gigantesco de crianças. (id)
A partir da década de 80, o processo de democratização vivido no país
impulsionou muitos debates acerca da educação infantil. Uma intensa mobilização
pelos direitos da infância, envolvendo entidades especialistas, igrejas e
diferentes organizações da sociedade civil provocando desdobramentos
importantes que influenciaram na elaboração do novo texto constitucional. Além
disso, muitos questionamentos foram feitos por técnicos e professores acerca
dos programas de cunho compensatório. (HORN e FARENZENA, 2002).
Entretanto, GEIB (Ibid) comenta que foi somente, em 1981, que o Programa
Nacional de Educação Pré-Escolar negou a função de compensação de carências e
seu ensino preparatório de 1º grau. Mantendo, contudo, o princípio anterior.
Essa foi a primeira manifestação oficial contra a educação compensatória. Tal
proposta tentou incorporar algumas críticas feitas pelos teóricos sobre a
educação compensatória, pois esta continha contradições e ambigüidades.
OLIVEIRA (2002), nos mostra que em 1985, novas políticas para as creches
quando foram incluídas no plano Nacional de Desenvolvimento. Plano esse
elaborado somente em 1986. começam a ser admitida a idéia de que a creche não
dizia respeito apenas à mulher ou à família, mas também ao Estado e às
empresas. Em função disso, retoma-se as discussões sobre as funções das creches
e pré-escolas no país.
Em função disso, retoma-se a discussão das funções da creche e
pré-escola e a elaboração de novas programações pedagógicas que buscavam romper
com as concepções meramente assistencialista e/ou compensatória a cerca das
instituições, propondo-lhes uma função pedagógica que enfatizasse o
desenvolvimento lingüístico e cognitivo das crianças. (id).
Em 1988, o Brasil saiu na frente de todo mundo! Antes mesmo da Convenção
sobre os Direitos da Criança ser aprovada pela ONU em 1989 e virar uma lei
internacional.Surge a constituição de 1988, marco para a (re)definição das
políticas públicas para a educação infantil. Pela primeira vez, a Constituição explicita
a educação de zero a seis anos de idade, como sendo um dos deveres do Poder
Público (Estado) para com a educação, definido claramente no art.. 208 incisos
IV, quando diz que:
Art. 208 – O dever do Estado com a educação será efetivado mediante a garantia
de:
IV. atendimento em creche e pré-escolas às crianças de zero a seis anos
de idade.
A partir de então, a educação infantil em creches e pré-escolas passou a
ser, ao menos do ponto de vista legal, um dever do estado e um direito da
criança. Além disso, o art. 7, incisos XXV garante o direito dos trabalhadores,
homens e mulheres à assistência gratuita aos seus filhos, dependente e de
pré-escola. Vale ressaltar que foi essa constituição que definiu eminentemente
a função educativa que a creche deveria assumir ao colocá-la no capítulo da
educação.(HORN e FARENZENA, 2002).
Com essa Constituição ficou definido que os pais, a sociedade e o poder
público têm de respeitar e garantir os direitos das crianças definido no artigo
227.
Em 1990, foi criado um conjunto de leis admirado em muitos países.Uma
delas foi à promulgação do ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente), Lei
8.969/90 que determinou o atendimento em creches e pré-escolas como parte dos
direitos da criança quando mecanismo de exigibilidade legal desse direito,
promulgados pela Constituição de 1988. (id).
O Estatuto da Criança e do Adolescente, em seu artigo 4º dispõem que é
dever do Poder Público assegurar o direito das crianças e adolescentes à
educação. O artigo 54 do ECA, inciso IV, expressa que é dever do Estado
assegurar atendimento em creche e pré-escola às crianças de zero a seis anos de
idade. de acordo o ECA, o acesso à criança na educação infantil é universal não
havendo obrigatoriedade dos pais em colocá-los na escola até os seis anos de
idade. O ECA foi um grande avanço. Surge, portanto, um novo marco na educação
infantil. (CRAIDY, 2001)
Apesar do Estatuto criar condições de verdade para que o governo e a
sociedade trabalhem juntos por uma infância melhor,os direitos da criança no
Brasil são desrespeitados diariamente.
Contudo, CRAIDY (2001) registra que foi a LDB Lei nº 9394/96, de 20 de
dezembro de 1996, que “garantiu” o atendimento gratuito em creches e
pré-escolas às crianças de três a seis anos de idade, considerando a educação
infantil como a primeira etapa da educação básica, destacada nos artigos 29 e
30:
Art. 29- A educação infantil, primeira etapa da educação básica tem por
finalidade o desenvolvimento integral da criança até seis anos de idade, em
seus aspectos físicos, psicológicos, intelectual e social, complementando a
ação da família e da comunidade.
Art. 30- A educação infantil será oferecida:
I.
em creches, ou entidades equivalentes, para crianças de até três anos de
idade;
II.
em pré-escolas, para crianças de quatro a seis anos de idade.
A LDB reconhece nesses artigos a necessidade de uma proposta cujo
objetivo seja claramente integrado a criança. Nela os direitos da criança, no
que diz respeito à educação, assegurado tanto na Constituição federal, como no
Estatuto da Criança e do Adolescente, transforma-se em diretrizes e normas que
deverão que ser regulamentadas em uma série de procedimentos. É um grande
avanço se analisarmos que a educação infantil não havia recebido nenhum destaque
como estes nas legislações anteriores.
Pela primeira vez na história do nosso país, a educação infantil é
considerada como a primeira etapa da educação básica. Uma conquista histórica
que tira as crianças pequenas e pobres do seu confinamento em instituições
vinculadas a órgãos de assistência social. A educação infantil, conquistou,
portanto, um novo espaço social.
Para BARBOSA (2002), a LDB de 1996 procurou romper com esta divisão
entre instituições educativas e de cuidado, criando novos modelos onde os dois
aspectos: cuidado e educação estivessem unidos. Essas mudanças trouxeram
consigo as responsabilidades de cuidar e educar para a área
educacional,buscando atingir o objeto principal da Educação Infantil.
Nesse sentido, a educação infantil passou a constituir um segmento
importante do processo educativo. Seu crescimento alcançou um significado
social de maior relevância, como se pode constatar, analisando as políticas
sociais voltadas para essa área de ensino. Esse reconhecimento traz, tanto para
os municípios, quanto para as instituições, educadores e familiares, um aumento
na responsabilidade na educação das crianças com menos de 7 anos.
Um ponto fundamental a destacar diante dessa nova configuração da
educação infantil é sem dúvida, a formação docente. Conforme os artigos 67, 69
e 70 da nova LDB, diz-se que os profissionais que atuam em creches e
pré-escolas que não possuem a escolaridade mínima exigida por lei possam
concluí-la, em serviço, complementando a formação específica para o exercício profissional.
Em médio prazo, todos os docentes da Educação Infantil devem ser formados em
cursos de nível superior (licenciatura de graduação plena), admitida, como
formação mínima. Em outras palavras, o professor de educação infantil, no
contexto atual, precisa ter formação superior, de preferência em pedagogia.
Além disso, novas concepções acerca do desenvolvimento, da cognição e da
linguagem modificaram a maneira como as propostas pedagógicas eram pensadas.
Entre elas destaca-se o RCNEI (Referencial Curricular Nacional para a Educação
Infantil), formulado pelo MEC em 1998, com o intuito de apontar metas de
qualidade que contribuam para que as crianças tenham um desenvolvimento
integral de suas identidades, capazes de crescerem como cidadãos cujos direitos
lhes são reconhecidos. O documento também serve de base para a elaboração de
projetos pedagógicos.(OLIVEIRA, op cit).
Em 1999, o Conselho Nacional da Educação, institui as Diretrizes
Curriculares Nacionais para a educação. Iniciativa pioneira no cenário educacional
brasileiro. De acordo com a Resolução I de sete de março de 1999, em seu artigo
2º, essas diretrizes constituem doutrinas sobre princípios, fundamentos e
procedimentos da educação básica do Conselho Nacional de Educação Infantil e
dos Sistemas Brasileiros de Ensino, na organização, articulação,
desenvolvimento e avaliação de suas propostas pedagógicas. (DIAS E FARIAS,
2001)
Mas, apesar das conquistas, PINHEIRO (Ibid) comenta que a situação atual
da Pré-escola, no Brasil, ainda merece atenção, uma vez que a criança
brasileira, menor de 7 anos, na sua maioria, está fora da Pré-escola, pois,
apesar da difusão dos pressupostos teóricos, quanto à importância da proposta
educativa voltada à criança, a instituição escolar ainda é marcada pelas
funções custódias e compensatórias.
OLIVEIRA (Id) ainda acrescenta que esses pontos, contudo, estão longe de
representar uma transformação das práticas didáticas nas creches e pré-escolas.
Uma nova trajetória orientada para a formação e aperfeiçoamento dos educadores se
apresenta para ser coletivamente trilhada.
Nesse contexto, CARVALHO (1988) informa que a educação infantil tem sido
relegada ao abandono em termos de uma política educacional, cuja evidência está
na falta de uma orientação pedagógica, na inadequada formação dos profissionais
que atuam nessa área, nas precárias instalações e, ainda, na controvérsia sobre
o que seja alfabetizar na educação infantil.
2.2. Definindo conceitos.
ao longo do retrospecto histórico da educação infantil no Brasil,
percebe-se que essa passou por várias definições desde seu surgimento, por essa
razão considera-se necessário discutir os termos creche, pré-escola e educação
infantil.
KRAMER (apud SOUZA, 1996), distingue creche de pré-escola quando diz
que: “Defini-se creche por incluir crianças de zero a três anos, já a
pré-escola por incluir crianças de quatro a seis anos. Enquanto, a creche se
caracteriza por uma atuação diária em horário integral, a pré-escola funciona
em “meio período”, semelhante ao funcionamento da escola”.
A autora ainda acrescenta que “a creche se subordina aos órgãos de
caráter médico ou assistencial e a Pré-escola ao sistema educacional”.
CAMPOS et al (apud SOUZA, 1996) traz a seguinte definição para os termos
creche e pré-escola:
“Creche é denominada para toda instituição, com o objetivo de educação,
guarda e assistência, que atende crianças de 0 a 03 anos e 11 meses”.
“A denominação pré-escola é usada para toda instituição, com os mesmos
objetivos da creche, porém atendem a crianças na faixa etária de 04 a 06 anos e
11 meses”.
Esses dois termos foram, por muito tempo, usados para designar a
educação da criança de 0 a 6 anos. Contudo, em 1993, o Ministério da Educação e
do Desporto preocupado com o compromisso de acompanhar os acontecimentos
ocorridos na educação, voltada à criança com idade inferior a 7 anos, propôs
mudanças na política nacional de educação. Em face disso, surge o termo
educação infantil cujo, significado é assim explicitado:
“A Educação Infantil é a primeira etapa da Educação Básica, destinada à
criança de zero a seis anos de idade; as instituições que oferecem Educação
Infantil integrante dos sistemas de Ensino, incluindo as creches e pré-escola,
dividindo-se a clientela entre ele pelo critério exclusivo da faixa etária de
zero a três anos na creche e de quatro a seis anos na pré-escola”.
CAPÍTULO III
CONCEPÇÕES DE CRIANÇA ESTABELECIDAS PELOS EDUCADORES
DA EDUCAÇÃO INFANTIL DA ESCOLA MATEUS VIANA.
Este capítulo constitui o núcleo da pesquisa. Nele será focalizada a
escola alvo deste estudo, bem como, a concepção dos educadores de educação
infantil da escola Municipal Professor Mateus Viana, em Caicó/RN, acerca do ser
criança, tendo como pano de fundo as idéias de KRAMER e LEITE, 1991; RECNEI,
1998; OLIVEIRA, 1994; et al.
A criança, no contexto atual, em ganhado cada vez mais espaço no cenário
social, familiar e escolar. Contudo, observa-se que existem educadores que não
têm consciência do seu papel na sociedade e porque não dizer na sala de aula..
É com essa preocupação que surgiu a necessidade de investigar o
conhecimento dos educadores a respeito da criança em seus múltiplos aspectos,
ou seja, o que pensam e como a concebem na atualidade. Além disso, pretende-se
fazer uma analogia das teorias existentes com a prática cotidiana dos docentes.
Nesse sentido, o estudo foi realizado com 06 educadoras, sendo 04
professoras do ensino infantil, a diretora e a supervisora da escola ora
citada. Procurou-se, no presente estudo, fazer uma pesquisa qualitativa com
pressupostos teóricos metodológicos permitindo interpretar os dados coletados.
MINAYO (1997), analisa a pesquisa qualitativa como “um espaço mais profundo das
relações dos processos e dos fenômenos que não podem ser reduzidos à
operacionalização de variáveis.”
Para fazer uma descrição mais apurada do objeto de estudo, utilizou-se
como técnica de pesquisa o questionário, contendo 5 questões abertas
(subjetivas), quando foram aplicados no próprio local de trabalho e respondidos
anominamente, respeitando a individualidade dos investigados. Esta foi
desenvolvida de janeiro a outubro de 2002.
Ao tentar compreender as falas dos educadores apresentadas nesse estudo,
buscou-se fundamentação teórica na pesquisa bibliográfica. A tônica desta
pesquisa gira em torno da hipótese de que conhecendo as concepções de criança
poder-se-á levar os professores a trilhares novos caminhos em busca de uma
prática pedagógica satisfatória.
3.1 Contextualização da Escola
Contextualizar a escola significa contar um pouco de sua história, de
sua gente e de sua comunidade escolar a qual se constitui o marco principal,
onde se deu a realização da pesquisa. Pretende-se, com isso, conhecer a
realidade da instituição e dos sujeitos sociais que as compõem e constroem a
sua base de sustentação histórica, econômica e social.
A Escola Municipal Professor Mateus Viana, situada à rua José Maria
Gonçalves Vale, 175, Bairro João XXIII, Caicó/RN, escolhida como cenário de
investigação e fonte de pesquisa será contextualizada levando em consideração
os seguintes aspectos: infra-estrutura e situação sócio-econômica e cultural na
qual está inserida.
As origens da escola datam de 18 de setembro de 1996, ano que foi
inaugurada. Criada através do decreto 0001/81 – (1981), na gestão
administrativa do Prefeito Inácio Bezerra de Araújo, para atender às
necessidades da clientela escolarizável da comunidade. Iniciaram-se suas
atividades com um número de 27 alunos na 1ª série do primeiro grau.
Fazia parte do corpo docente na época, 04 professores que durante três
anos enfrentaram sozinhos todo o trabalho escolar. Atualmente, sua área física
consta de 1.340m.
Sendo uma instituição de pequeno porte, tem uma estrutura física
composta de 06 salas de aula, 01 secretaria onde funciona a direção da escola,
01 cozinha, 03 banheiros, 01 pequeno pátio com a metade da área coberta a qual
chama-se refeitório, onde as crianças merendam. Não existe sala de vídeo, porém
a televisão é ambulante, indo a sala de aula conduzida por uma educadora que
trabalha com a TV escola, de acordo com as necessidades dos alunos e
professores.
A escola atende uma clientela de 412 alunos distribuídos em três (03)
turnos, sendo 109 alunos do Ensino Infantil: “Pré-Escola”, Jardim II e
Alfabetização (turno matutino) e 254 no Ensino Fundamental, de 1ª a 4ª série
(matutino e vespertino) e 49 na Educação de Jovens e Adultos (noturno).
Tendo em vista que a área específica da pesquisa é a “Pré-Escola”,
verificou-se que as turmas estão distribuídas da seguinte forma: Alfabetização
“A” 26 alunos; Alfabetização “B” 19 alunos todos com idade de 05 a 06 anos. E o
jardim II com 64 alunos matriculados com a idade variando entre 03 e 04 anos de
idade. Faz-se necessário frisar que as crianças do jardim II freqüentam a aula
todos numa mesma sala, com a presença de três (03) professores para cuidar e
educar as crianças.
No que se remete à formação ou grau de escolaridade dos professores da
“Pré-Escola” este apresenta a seguinte realidade: dois (02) professores são
leigos; um (01) tem o magistério; um (01) tem formação em pedagogia, e outro em
geografia. No setor administrativo a formação é a seguinte: a diretora é
formada em geografia, já a vice-diretora é supervisora, tem pedagogia.
As crianças do Ensino Infantil são, em sua maioria, oriundas do bairro
João XXIII, onde fica localizada a escola, mas também, encontram-se alunos de
bairros circunvizinhos.
Esses alunos são filhos de mães e pais carentes, de famílias de baixa
renda onde sua maioria sofre com o desemprego, e a exclusão social. Já os que
trabalham, exercem as seguintes profissões: bordadeira, doméstica, costureira,
ASG, lavadeira de roupa, pasteleira, agricultor, servente de pedreiro, artesão,
pintor, mecânico, sapateiro, boneleiro, pescador, motoqueiro. Porém, essas
profissões não garantem renda fixa, uma vez que grande parte destes,em
determinada época, fica desempregada ou vive de pequenos biscates com renda
inferior a um salário mínimo ou apenas um salário.
De acordo com os dados coletados nas (fichas individuais dos alunos),
verificou-se o nível de escolaridade dos pais das crianças da educação
infantil. Na sua minoria chega ao 2º grau completo, enquanto que a maioria das
mães e pais pesquisados têm o primeiro grau incompleto referentes às categorias
de 2ª, 3ª e 4ª série e de 5ª a 8ª série. Portanto, os demais que estão em nível
de 1ª série e alfabetização, são analfabetos.
Pode-se perceber que os alunos estão inseridos em uma cultura popular
que lhe é peculiar do modo de viver de suas famílias e da comunidade a qual
eles pertencem, do contexto social e histórico, herdado de seus antepassados.
As crianças participam de festas folclóricas, quadrilha, dança e brincadeiras.
Em seu quadro funcional, a escola conta com 22 funcionários e 16
professores para atender a sua clientela,
3.2. Concepções de criança na visão dos educadores: apresentação e
análise dos dados.
Busca-se aqui extrair dos educadores (professores, diretora e
supervisora), a concepção que estes detém, acerca do ser criança. É neste nível
de investigação, portanto, que se procura desvelar o sentido de criança na
visão dos profissionais da educação infantil. Dessa forma, o presente estudo
tem como preocupação primordial conhecer a opinião dos educadores nos seguintes
aspectos.
A análise dos dados coletados a partir da fala dos educadores da Escola
Mateus Viana acerca da concepção da criança nos mostra que a maioria dos
investigados tem uma visão abstrata de infância/criança. Estes as concebem como
seres de natureza infantil, onde a criança é vista como um ser inocente e
frágil. Como se pode ver na fala destes:
“A criança é um ser inocente que merece carinho, afeto e compreensão”
(Professora 1).
“Tenho um pouco de conhecimento mas para fazer um bom trabalho
precisa-se de muito mais”. (Professora 2).
“A criança é um ser social” que está diretamente ligado ao meio em que
vive para se desenvolver saudavelmente (Professora 3).
“Uma pessoa que está aberta a adquirir novos conhecimentos e que para
isso precisa de orientações. Mas que também precisa de lazer e de uma boa
estrutura familiar” (Professora 4).
Com base nesses relatos, verifica-se que uma pequena parcela, ou melhor,
apenas uma professora (3), tem uma concepção diferente das demais, quando diz
que a criança é um ser social, enquanto sujeito que age, interage e modifica a
sociedade. Mas, apesar dessa professora apresentar uma visão mais próxima da
concepção defendida atualmente por alguns teóricos, de que a criança é um ser
social…tal visão esta é incompleta, pois não deixa explícita a classe social a
qual, acriança pertence, bem como a cultura a qual está inserida, como postula
o RECNEI para a educação infantil.
Contudo, sua visão assemelha-se a de KRAMER (1991) quando aponta a
criança como um ser social, histórico, não mais percebida apenas como sujeito
em crescimento, em processo. Assim ela cita:
Ela é alguém, em sua casa, na rua, no trabalho, no clube, na igreja, na
creche, na pré-escola ou na escola, construindo-se a partir das relações que
estabelece em cada uma dessas instâncias ou em todas elas. Geradas por homem e
mulheres que pertencem a classes sociais, tem e produzem cultura, vinculam-se a
uma dada religião, possuem laços étnicos e perspectiva diversas segundo seu
sexo: as crianças já nascem com uma história. Assim, elas fazem e se fazem na
cultura, pertencem a uma classe social, e vão se fazendo nessa história,
cidadãos de pouca idade que são, muito mais do que exemplos de fases de uma
escala de desenvolvimento.
É importante ressaltar que ainda existe, entre os educadores com uma
visão “conservadora” a respeito da criança, como é o caso da professora 1, que
concebe a criança como ser inocente, frágil. Concepção esta apresentada por
ARIÈS (1978), no século XVII. Vale frisar também que duas educadoras não
responderam a questão, isso nos leva a crer que essas não têm conhecimento do
conceito de criança, no contexto atual, do contrário, a questão não ficou clara
para elas.
A despeito disso, procurou-se investigar, também, o depoimento da
diretora e da supervisora escolar, quando citam que:
“A criança é um ser natural que pensa, ela sente, cria idéias, tem
opiniões. A criança cria um mundo de fantasia” (diretora da escola).
“A criança é um ser social histórico que faz parte da organização
familiar, com direitos e deveres. É um pouco de tudo ou seja, ela é criativa,
espontânea, questionadora e que sempre encontra soluções para os problemas, é
preciso apenas encaminhá-la e lhe dar chances”. (Supervisora).
Percebe-se uma discrepância em seus pontos de vista. Enquanto a diretora
acha a criança um ser natural, fantasioso e pensante. A supervisora a concebe
como um ser que age, interage e modifica a sociedade.
O pensamento da supervisora, portanto, está de acordo com o RECNEI
(1998) quando informa que: “A criança como todo ser humano, é um sujeito social
e histórico e faz parte de uma organização familiar que está inserida em uma
sociedade, com determinada cultura em um determinado momento histórico. É
profundamente marcada pelo meio social em que se desenvolve, mas também o
marca”.
Já concepção da diretora está em conformidade com o pensamento de PIAGET
(apud, OLIVEIRA 1994), quando destaca que “o organismo e o meio exercem ações recíprocas.
Um influencia o outro e essa interação acarreta mudanças sobre o indivíduo.
“Ele diz: É, pois na interação da criança com o mundo físico e social que as
características e peculiaridades desse mundo vão sendo conhecidas. Para cada
criança, a construção desse conhecimento exige elaboração, ou seja, uma ação
sobre o mundo”.
No que diz respeito ao papel da criança, objeto de trabalho em sala de
aula, as professoras pesquisadas demonstraram não entendimento da pergunta,
pois apenas 1 deixa explicito que “o papel da criança é, antes de tudo, o de
aprender e que esta aprendizagem se dar na interação com os professores e
colegas”. Veja os depoimentos:
“Como uma pessoa dotada de inteligência, capaz de aprender e por em
prática, os ensinamentos adquiridos” (Professora 1).
“A criança de hoje é melhor de se trabalhar, pois elas são mais ativas e
muito criativas” (Professora 2).
“O papel da criança em sala de aula é antes de tudo o de aprender. Essa
aprendizagem não se dar só entre professor e aluno, mas também na interação
como os outros colegas” (Professora 3).
“Um ser muito ativo e difícil de se trabalhar, principalmente se essa
criança não estiver alfabetizada” (Professora 4).
Com base nos depoimentos, pode-se disser que apesar da “preocupação” das
educadoras com aprendizagem das crianças, a maioria não responderam a questão,
com exceção da professora 3 que denota conhecimento a cerca do papel da
criança.
A concepção desta professora assemelha-se ao pensamento de VYGOTSK (apud
OLIVEIRA, 1994) quando revela que “a construção do conhecimento está disponível
na sociedade em que a criança nasceu. Ele afirma: É preciso que a criança
aprenda e integre em sua maneira de pensar o conhecimento da sua cultura”.
Nessa ótica, MACHADO (2000) informa que: “é na interação social que a
criança entrará em contato e utilizará instrumentos mediadores, desde a mais
tenra idade. a necessidade e o desejo de decifrar o universo de significados
que a cerca leva acriança a coordenar idéias e ações a fim de solucionar os
problemas que se apresentam”.
É importante ressaltar a visão da diretora sobre o papel criança,
enquanto objeto de trabalho:
“Assume um papel importantíssimo pois toda atividade desenvolvida em
sala de aula é planejada para o aluno, ele é a peça fundamental na sala de aula”.
(diretora da escola).
Por conseguinte a da supervisora:
“Na sala de aula a criança é sujeito principal. Todos os direcionamentos
são dirigidos ao seu crescimento pessoal e intelectual” (Supervisora).
A visão da diretora é semelhante a da supervisora, quando afirmam que a
criança é a peça principal na sala de aula. contudo. estas não explicitam que
papel a criança desempenha na sala de aula, se é de mero expectador, ou de um
sujeito que participa e interagem com colegas professores, ou seja, um ser em constante
transformação, pois como cita OLIVEIRA (2002) “a criança, na interação com
parceiros diversos, busca construir sua identidade dentro de um clima de
segurança, exploração e autonomia. Não é mera receptora elaborada pela
sociedade de consumo, mas alguém que se pergunta sobre o mundo”,
No que se remete ao tipo de comportamento que valorizam no
desenvolvimento da criança, as professoras indagadas respondem:
“A criança é influenciada pela sociedade, pelos meios de comunicação e,
principalmente pelo convívio familiar”. (Professora 1)
“Conhecer e respeitar os limites de cada um, propor atividades que faça
os mesmos sempre avançar”. (Professora 2).
“Atitudes de participação na aula com interferência para perguntar algo
sobre outro assunto que auxiliam na sua formação” (Professora 3)
Cabe fazer aqui algumas considerações a respeito da fala dos
professores, pois estas não deixam explicito o que valorizam no desenvolvimento
da criança, deixando obscura a atitude dos alunos. Com exceção de uma
professora que considera a participação do aluno em sala de aula como uma
atitude positiva na construção do conhecimento.
Entretanto OLIVEIRA (2002) revela que “em geral, os comportamentos dos
estudantes são avaliados como adequados ou inadequados a partir da lógica
adulta, cabendo ao professor recompensar a conduta “certa” e punir a “errada”.
Prevalece, na escola a crença de que “é de pequenino que se torce o pepino”.
Quando se perguntou a diretora e a supervisora da escola sobre o tipo de
comportamento que valorizam no desenvolvimento da criança, Constatou-se que as
mesmas têm pontos de vistas diferentes:
“A integração é fundamental para se constatar como a criança aprende a
socializar e a descobrir sua própria identidade” (diretora).
“O comportamento afetivo, emocional e ético que favorecerão o
crescimento interpessoal e socializador do adulto futuro” (supervisora).
É interessante, observar que a diretora fala da importância da
integração que pode ser considerado como uma atitude positiva. Contudo, esquece
de mencionar com quem essa integração desse acontecer? Com o professor? Com os
colegas? Ou seria professor e aluno e aluno e aluno?. Além disso, ela deixou de
comentar que comportamento considera relevante para a formação do indivíduo.
Por outro lado, a supervisora cita como importante o comportamento e esquece de
comenta sobre as atitudes.
Indagadas a responderem sobre em que contexto a criança está inserida na
educação infantil, as professoras fizeram as seguintes declarações:
“No desenvolvimento, cognitivo, afetivo e social” (professora 1).
“Na educação infantil precisa de muitas coisas” (professora 2)
“A educação infantil parece ser uma válvula de escape das escolas para
atender a normas burocráticas do MEC. Percebe-se pelo discurso dispensado a
essa categoria. É como se o objetivo desse ensino não fosse o desenvolvimento
da criança e sim alimentar essas crianças, hipocritamente os professores
dizerem que ensinam. Não acredito que sem um ambiente próprio com um número
específico e com profissionais qualificados essas crianças aprendam o
suficiente para desenvolver de acordo com sua fase. Hoje o ensino infantil é
mais “despensa” de meninos e restaurante infantil, que aqui não posso chamar de
creche pois não possue (sic) estrutura física para a mesma”. (professora 3)
“Especificamente na sala em que trabalho, algumas crianças não recebem
apoio familiar para a orientação do trabalho escolar valorizado em casa.
Algumas reclamam da falta de estrutura familiar, como: pais separados ou mesmo
pelo fato de algumas crianças terem irmãos, cada um de um pai diferente. Mas há
também aquelas crianças cujos pais freqüentam a escola para saber como anda sua
aprendizagem” (professora 4).
Mais uma vez as professoras em sua maioria demonstraram não ter
conhecimento sobre a educação das crianças de zero a seis anos, é essa a
impressão que se tem, pois apenas a resposta de educadora 1, se aproximou do
que postulam os Referenciais Curriculares para a educação infantil. Essa
discrepância de pontos de vistas, ou melhor, esse “desconhecimento do assunto”
é resultado da falta de um espaço para discussões, estudos e trocas de
experiência. A fala das professoras demonstra que falta leitura, discussões, na
escola (poder ser até que a escola se preocupe em promover debates e estudos na
escola, mas o que ficou explicito diante dos depoimentos das professoras é que
não há).
Como se pode observar, a professora 1 foi a que mais demonstrou
conhecimento do assunto, quando enfatiza que a criança está inserida em um
contexto social, contudo esta esqueceu de acrescenta que a criança também se
insere no contexto cultural, histórico, pois acriança faz parte da sociedade,
portanto está inserida em todos os contextos.
De acordo com BUJES (2001), “as crianças na educação infantil, estão
inseridas em um contexto cultural e histórico em permanente transformação,
podemos concluir que as crianças participam igualmente desta transformação
pelas experiências que vivem neste mundo extremamente dinâmico”.
Contudo, é importante destacar que apesar das demais professoras
investigadas, não terem comentado sobre as atitudes e comportamentos que
consideram importantes, estas relatam dados relevantes como é o caso das
professoras 3 e 4, quando citam a situação na qual se encontra a educação
infantil na instituição que trabalham, pois através de visitas e conversas
informas, detectou-se que na escola alvo deste estudo, existe uma sala de aula
com cerca de 54 crianças em idade pré-escola freqüentando, regulamente a escola
(foram matriculados 64). Um verdadeiro absurdo, se
compara com o que postula o RCNEI (1998), quando enfatiza que cada sala de aula
deve ser composta por 25 alunos. Assim, ele cita:
Tão importante quanto pesar nos agrupamento por faixa etária é refletir
sobe o número de crianças por grupos e a propagação de adultos por criança.
Quanto menores as crianças, mais aconselhável são os grupos muito grandes, pois
há uma demanda de atendimento individualizado. (….) Quando as crianças adquirem
maior autonomia em relação aos cuidados e interagem de forma mais independente
com seus pares, entre 3 e 6 anos, é possível pensar em grupos maiores,
mas que não ultrapassem 25 crianças por professor.[grifo nosso].
O depoimento da diretora e da supervisora, difere das professoras,
quando relatam que:
“Está inserida no sistema educacional e social pois é na escola onde a
criança inicia uma socialização com outro, desenvolvendo os limites de seu
corpo e seu potencial crítico”. (diretora).
“Em contexto de interação social e cultural que proporcionam a criança,
o contato com as mais diversas linguagens, ampliando seu conhecimento, seus
conhecimentos prévios”. (supervisora).
A diretora e a supervisora denotam ter “conhecimento” sobre o contexto no
qual está inserida a criança na educação infantil atualmente. Entretanto faz-se
necessário destacar que não é somente na escola que a criança se socializa,
como diz a diretora, mas na interação como o meio em que vive, seja na escola,
em casa, na rua.
Por outro lado, a visão da supervisora, está em comum acordo com o que
diz o RCNEI (1998), quando enfatiza que “a criança como todo ser humano, é um
sujeito social e histórico e faz parte de uma organização familiar que está
inserida numa sociedade com uma determinada cultura, em um determinado momento
histórico”.
Ao questionar as professoras sobre as características das crianças com
as quais trabalham atualmente, estas foram categóricas ao responder que:
“Como uma criança capaz de criar, refletir e construir o próprio
raciocino” (professora 1)
“As crianças são boas para trabalhar, com algumas dificuldades, tem umas
que são um pouco rebelde” (professora 2).
“São crianças que pelo convívio e pelo ambiente em que vivem assim como
o tratamento recebido mas parece “adultos anões”. Adultos pois a maioria estão
na idade de ter limite e são ilimitados, desprovidos de um menino de regras que
garantam a boa convivência com o grupo. O nosso papel é deixar que na escola
eles possam a ser (sic) criança com todas as glórias da infância”. (professora
3).
“Atualmente, algumas crianças não tem muito interesse em aprende.
Acredito que boa parte delas, freqüenta a escola pela merenda oferecida. Pois a
brincadeira é constante em sala de aula. no presente, essa situação não interfere
em sua vida, mas no futuro isso se tornará um grande problema, pois o mercado
de trabalho não está interessado em oferecer emprego a pessoas que não possuem
qualificação” (professora 4).
De acordo com as falas apresentadas, pode-se concluir que apenas uma
professora descrever a criança com a qual trabalha atualmente, quando diz que a
criança é um ser capaz de criar, refletir e construir seu próprio raciocínio. A
criança é isso e muito mais, a criança hoje é vista como um ser pensante,
ativo, histórico.
Nesse contexto, OLIVEIRA (2002) revela: a criança hoje é vista como um
ser ativo curioso, com direitos e necessidades que precisam de um espaço
diferente tanto no ambiente familiar, onde os objetos do afeto (os adultos) em
geral são muitos confusos, como no ambiente escolar.
As demais caracterizam a criança, como sendo um ser difícil de se
trabalhar, sem tem limites, sem interesse de aprender, sem um futuro promissor
(professora 4), enfim, as crianças na visão destas professoras são um problema.
É com visão, que mais uma vez OLIVEIRA (id) vem nos informar que: “as
crianças são vistas como “problemas” pelo professor menos em virtude de
julgamentos fundados em avaliações objetivamente orientadas e mais em
conseqüência da dificuldade do meio pedagógico em geral para lidar com
comportamentos que divirjam de um modelo ideal de infância. Ao estigmatizar a
criança, pela sua maneira de tratá-la, o professor termina por obscurecer suas
interações com ela.
Já a diretora e a supervisora da escola, tem uma visão positiva das
crianças com as quais convivem, ou melhor, das crianças no contexto atual.
“São crianças inteligentes sendo que gradativamente vai construindo
(sic) suas idéias, também são afetivas, podendo assim termos um relacionamento
de amizade. São participativas nas atividades desenvolvidas na sala de aula que
são concretizadas por suas apresentações nos eventos escolares.”(diretora da
escola).
“É um ser altamente imperativo com ansiedade e desejos de aprender. E
que precisa de pessoas habilitadas com conhecimentos especiais para medir o
processo de transformação pessoal” (supervisora).
Os depoimentos acima nos fazem inferir que ambas denotam ter
conhecimento das crianças com as quais convivem. A supervisora vai mais além,
quando cita que essas crianças precisam de pessoas habilitadas com
conhecimentos. Seu pensamento comunga com o da nova LBD, quando frisa que os
professores de educação infantil devem ter formação em nível superior. A
colocação da supervisora é muito pertinente, pois duas professoras que trabalha
na com a educação infantil (da escola alvo da pesquisa) são leigas.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Nessa perspectiva de olhar de pesquisadora, ressalta-se a importância
deste valioso trabalho monográfico, o qual nos possibilitou observar como
funciona a escola Municipal Mateus Viana, objeto de estudo e fonte de
investigação desta pesquisa, bem como a visão dos professores a cerca do ser
criança.
A experiência que as crianças vivem na educação infantil é muito
complexa, além do que se pode imaginar. Dentre as salas de aula destinadas ao
ensino infantil, pode ser encontrada na instituição, alvo deste estudo, uma
sala de aula (Jardim II) superlotada, com mais de 50 crianças freqüentando
regulamente esse ambiente. Esta forma de agrupamento estar relacionada muito
mais a uma forma de necessidade do trabalho do adulto do que as necessidades
das crianças.
Esse fato contradiz o que reza o Referencial Curricular Para a Educação
Infantil. Considera-se essa realidade como sendo um descaso para com a criança,
diante do que prever a Lei de Diretrizes e Bases sobre os direitos da mesma.
Essa situação reflete as precárias condições de vida a que são submetidas esses
pequenos seres da classe menos favorecida. Sabe-se que os problemas enfrentados
pela escola, repercutem na vida do aluno.
Essa falta de espaço físico provoca uma certa fragilidade no
desenvolvimento de trabalhos acadêmicos direcionados às crianças. É como se a
função da educação infantil fosse apenas a de “cuidar” e alimentar as crianças,
pelo menos é dessa forma professoras investigadas a concebem.
No que se remete às concepções que as educadoras detêm sobre a criança,
estas divergem muito de educadora para educadora. Acredita-se que isso se deva
ao fato de que nem todas têm formação acadêmica (curso superior ou uma formação
mínima), pois a formação das educadoras investigadas é bem variada, indo desde
pedagogia/geografia à leiga. Mais uma vez, Constata-se que a LDB não se faz
valer nesta instituição de ensino.
Com base nos dados que nos foram apresentados e das visitas à escola,
observa-se que é necessário que ocorra uma mudança urgente nessa escola, a
começar pela própria sala de aula onde está esse amontoado de crianças. Por
conseguinte, é preciso, que ocorram cursos de formação de professores (formação
profissional continuada), e mais ainda, que estes educadores revejam suas
práticas, pois as crianças não podem ficar a mercê de professores sem a
formação mínima exigida na Lei.
Em síntese é preciso que os educadores percebam que a escola é um lócus
de informação, troca de experiências, conhecimento, e que seu papel é
proporcionar um ensino satisfatório.
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SOUZA, A. M. C. de. Educação infantil: uma proposta de gestão municipal.
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QUESTIONÁRIO
SECRETÁRIO
1. NOME DA
ESCOLA______________________________________________________________
1.1 ENDEREÇO:___________________________________________________________
MUNICÍPIO:__________________ESTADO_________________FONE:__________
2. NÍVEIS DE ENSINO:
( ) Ensino Infantil (Pré-escola)
( ) Ensino Fundamental (1ª a 4ª série)
( ) Educação de Jovens e Adultos (Supletivo)
3. Dados complementares da escola (dependência administrativa).
( ) Estadual ( ) Municipal ( ) Conveniada
4. Horário de funcionamento:
( ) Matutino ( ) Vespertino ( ) Noturno
5. Números de alunos e turmas:
Número de alunos por turno__________________________
Número de turmas por turno__________________________
Total geral de alunos________________________________
6. Equipe técnico-pedagógica-administrativa (número de integrantes).
Diretor ___________________ Vice-diretor__________________
Supervisor_________________ Coordenador_________________
7.Númerode professores que não possuem licenciatura
plena:_______________________
8.Área específica da
pesquisa:________________________________________________
QUESTIONÁRIO
PROFESSORES DE EDUCAÇÃO INFANTIL.
1.
Enquanto educadora, qual a sua concepção de criança?
2.
Como você analisa o papel da criança, enquanto objeto de seu trabalho em
sala de aula?
3.
Que tipo de atitudes e comportamentos valoriza no desenvolvimento da
criança?
4.
Na sua opinião, em que contexto está inserido, a criança, na educação
infantil?
5.
Como você caracteriza a criança, a qual trabalha atualmente?
QUESTIONÁRIO
DIRETORA E SUPERVISORA
1. Qual a sua concepção de criança, enquanto educadora?
2. Como você analisa o papel da criança, enquanto objeto de trabalho?
3. Que tipo de atitudes e comportamentos valoriza no desenvolvimento da
criança?
4. Na sua opinião, em que contexto está inserido, a criança, na educação
infantil?
5. Como você caracteriza a criança, atualmente?
Iconografia. Conhecimento e descrição
de imagens, gravuras, fotografias. Representação pictórica
estudada por Áries.
Autor: Marluce
Fonte: https://pedagogiaaopedaletra.com/a-concepcao-de-crianca-na-otica-dos-educadores/
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