A questão do
tempo deve ser o assunto que mais preocupa alunos e professores da Educação de
Jovens e Adultos.
No nosso
sistema educacional, a duração da EJA é exatamente a metade da do ensino
regular. Cada ano do sistema convencional corresponde a um semestre na EJA.
Isso
significa que todos os aprendizados que os estudantes do ensino regular
conquistam em um ano têm que ser alcançados por nossos alunos em apenas seis
meses. O Ensino Fundamental, que é percorrido normalmente em nove anos, deveria
ser concluído por nossos alunos em quatro anos e meio. Nesse período, o aluno
deveria alfabetizar-se, aprender procedimentos matemáticos fundamentais,
apropriar-se de uma variedade de conteúdos de História, Geografia, Ciências…
Isso soa
como uma contradição, pois muitos alunos da EJA precisam, na realidade, de mais
tempo que os do ensino regular para aprender tantos conteúdos.
Tudo isso é
agravado se imaginarmos que, na rotina da maioria dos estudantes da EJA, não há
tempo para fazer lição de casa ou qualquer atividade fora da escola. E pior: a
vida que eles levam, em muitos casos, os obriga a faltar nas aulas, reduzindo
ainda mais o tempo que temos com a turma.
O
tempo é pouco. O que fazer?
Não tenho uma resposta definitiva. Mas quero dividir com vocês alguns cuidados que procuro tomar para aproveitar da melhor maneira o tempo em que estou junto com os alunos.
Não tenho uma resposta definitiva. Mas quero dividir com vocês alguns cuidados que procuro tomar para aproveitar da melhor maneira o tempo em que estou junto com os alunos.
Planeje-se
com cuidado - Se isso é importante para o ensino regular, é fundamental na
EJA. Pense nas aulas que irão acontecer e determine o tempo que cada etapa
tomará. Isso não quer dizer que as aulas devam ser engessadas, sem espaços para
mudanças. Quer dizer que nós temos que estar atentos ao andamento do trabalho
no dia a dia e acompanhar de perto tudo o que acontece. Uma dica é organizar um
calendário detalhado com as atividades que acontecem a cada aula.
Evite
atividades desnecessárias - Se os seus alunos já dominam certo tipo de
atividade que serviria apenas como meio para eles aprenderem um novo conteúdo,
evite-a. Um exemplo: copiar textos que já estão em um livro. Os alunos
aprenderão pouco copiando e seria mais produtivo investir o tempo na análise do
conteúdo do texto. Outro exemplo: desenhar uma tabela quando o objetivo central
é que os alunos saibam preenchê-la com dados. Muitas vezes, eles gastarão tempo
precioso desenhando a tabela e poderia ser mais produtivo entregar as folhas
com as tabelas para serem preenchidas.
Seja
pontual e exija pontualidade - Com o tempo escasso, não há margem para
tomar aquele café depois que o sinal já tocou nem para acabar a aula dez
minutos antes. Procure chegar à sala precisamente no horário e cobre isso dos
alunos. Todos nós professores sabemos que um exemplo vale mais que mil
discursos.
Escolha
o essencial - Use o seu “faro” de professor para selecionar, dentro do
oceano de assuntos ensinados na escola, o que é realmente estruturante e
ajudará os alunos a terem um melhor entendimento sobre o mundo.
Vou dar um
exemplo da minha área: Ciências. No Ensino Fundamental, é muito comum abordar
em detalhes os filos animais (Poríferos, Cnidários, etc.). Em minha opinião, é
muito mais interessante que os alunos entendam a lógica da classificação dos
seres vivos (ou seja, que os grupos são definidos com base em critérios, que
existe uma hierarquia entre os grupos), em vez de conhecer exaustivamente cada
um dos filos. Entender um sistema de classificação pode ser útil para outras
disciplinas, como Matemática e Geografia, e em várias atividades do dia a dia.
Então, em vez de tratar de cada filo, escolho um grupo interessante de seres
vivos e, a partir dele, abordo com detalhes aspectos fundamentais da
classificação.
Escolher o
que é essencial não é uma tarefa fácil. Depende muito de cada área do
conhecimento e da visão que cada professor tem sobre ela. Espero discutir
melhor esse assunto em outro post.
Você também
vive esse problema do tempo escasso na EJA? Como você conseguiu minimizar esse
problema? Compartilhe conosco as suas dicas!
COMO TRABALHAR
RELAÇÕES RACIAIS COM CRIANÇAS DAS SÉRIES INICIAIS: UMA PESQUISA – AÇÃO EM UMA
ESCOLA DA PERIFERIA DO RECIFE
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INTRODUÇÃO:
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Muitos problemas presentes na
sociedade, como o racismo, também se manifestam dentro da escola assumindo
configurações próprias que afetam a vida de toda comunidade escolar. Escola e
sociedade estão intimamente relacionadas. O que ocorre fora da escola causa
impacto nela e a maneira como estas questões são tratadas no seu interior
pode influenciar o contexto social mais amplo. Na escola o racismo se
manifesta através do comportamento discriminatório de alunos, professoras/es,
pais e funcionários e através dos materiais pedagógicos, mais especificamente
dos livros didáticos. Como resultado temos, o baixo rendimento das crianças
negras que por causa dessa discriminação se sentem
inferiorizadas. Levando em consideração estas questões realizamos uma
pesquisa-ação em uma escola pública da periferia da cidade do
Recife. O objetivo deste trabalho foi realizar uma intervenção
pedagógica em uma turma da referida escola sobre discriminação racial e a
partir da análise dessa experiência apontar caminhos para uma educação que
respeite a diversidade étnico-racial, refletindo sobre qual a melhor maneira
de abordar esse tema com crianças das séries iniciais. Este trabalho tem sua
importância na medida em que ao promover discussão sobre a temática com as
crianças concomitantemente se propõe a refletir sobre as estratégias
didáticas utilizadas contribuindo assim para a reflexão sobre a prática
docente e formação de professores.
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METODOLOGIA:
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Numa primeira etapa do trabalho realizamos um estudo sobre a
comunidade em que a escola está inserida através de visitas, conversas com
moradores e consulta aos dados sobre o bairro divulgados pelos órgãos
públicos. Num segundo momento, realizamos uma diagnose com algumas turmas da
escola através de observação do comportamento dos alunos no que se refere à
questão racial e do depoimento de professores. Em seguida, partimos para o
trabalho pedagógico que foi realizado em uma turma com vinte e oito crianças
com idade entre nove e dez anos, estudantes da quarta série do Ensino
Fundamental da escola Municipal Professor José da Costa Porto. O trabalho com
as crianças incluiu pesquisas, utilização de literatura infantil, análise
coletiva de situações do cotidiano onde a discriminação se manifestava,
debates e dinâmicas de grupo. Neste momento coletamos o depoimento das
crianças através das rodas de conversa, dos textos produzidos e de uma
entrevista estruturada que foi gravada com parte da turma contendo as
seguintes questões: o que é preconceito? O que é discriminação? Qual a
diferença entre os dois conceitos? E o que fazer para acabar com o
preconceito e a discriminação?Numa última etapa nos debruçamos sobre o
material coletado, onde analisamos o discurso das crianças expresso através
dos textos orais e escritos produzidos no decorrer das atividades. Para
tanto, foi feita definição de categorias e realizada a análise a luz do
referencial teórico pesquisado.
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RESULTADOS:
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A comunidade onde o trabalho foi realizado, o Coque, é uma das maiores
favelas da periferia urbana do Recife. A escola Municipal Professor José da
Costa Porto é a maior escola da localidade e nela as crianças passam boa
parte do seu dia, porém a situação de discriminação perdura mesmo dentro do
ambiente escolar. A partir dos textos escritos pelas crianças foi
possível perceber que estas reconheciam ter vivenciado a discriminação racial
tanto como agressoras quanto como vítimas emitindo juízos de valor a cerca
desta experiência. Nas entrevistas todas as crianças utilizaram
exemplos para conceituar preconceito e discriminação, fazendo referência aos
apelidos. Todos afirmaram que preconceito e discriminação são coisas
diferentes, mas não souberam explicar a diferença. Ao serem perguntados sobre
o que fazer para acabar com o preconceito e a discriminação algumas crianças
reconheceram que a discriminação racial é um crime precisando ser punido.
Outras crianças apontaram que o caminho é orientar as pessoas para que não
discriminem. No que se refere ao comportamento, as crianças
passaram a valorizar mais a cultura afro-brasileira se auto-afirmando. As
situações imediatas de conflito por causa dos apelidos também foram
minimizadas. Com isso compreendemos que através de um trabalho contínuo e
planejado é possível promover boas discussões entre as crianças, contribuindo
para a diminuição da discriminação e elevação da auto-estima destas.
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CONCLUSÕES:
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A escola não é neutra. Ela é capaz de
reproduzir a discriminação racial de várias maneiras, mas também é capaz de
contribuir para uma convivência pacífica entre as várias etnias. Os nossos
objetivos foram realizar uma intervenção pedagógica e refletir sobre essa
experiência de maneira a contribuir para a ação de outros educadores. Com
esta reflexão percebemos que trabalhar os conceitos de discriminação e
preconceito é importante, mas é preciso associar estes a exemplos do
cotidiano. Ultrapassando, assim o viés dos apelidos, muito enfatizado pelas
crianças e tentando mostrar que a discriminação racial gera desigualdades.
Constatamos a importância de partir das experiências vivenciadas pelas
crianças, pois a partir do discurso elas expõem suas concepções, suas
vivencias e se posicionam sobre o assunto. Com a realização deste trabalho
compreendemos que é possível trabalhar sobre o racismo com
atividades diversificadas, desde que alguns eixos temáticos não deixem de ser
abordados tais como, identidade étnico-racial, história da África, os
africanos no Brasil e o que é preconceito e discriminação racial no contexto
brasileiro e mundial. Por fim, o trabalho com este tema nos coloca
diante do compromisso que cada um de nós assumimos com a luta pela igualdade,
pois, como diz Paulo Freire pensar certo é a rejeição mais decidida a
qualquer forma de discriminação e isso só é possível quando não nos omitimos
e fazemos da sala de aula um campo de pesquisa.
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