segunda-feira, 20 de fevereiro de 2017

Texto introdutório

Onde está a noite?

Todo dia era dia,
Pois a noite não existia.

Viviam presos
Os bichinhos.

Cri...cri...cri...
Ninguém ouvia!

Nem a luz dos vaga-lumes
Nem o pio das corujas.

Nem as estrelas do céu,
Nem a lua cor de prata

Nada...nada de breu!

Só o dia existia!

Só o sol brilhava eterno.

Nem descansar ele podia!
Quem será que a linda noite
Vai conseguir libertar?
Só ouvindo esta história
Que agora vou contar!



O curumim que libertou a noite

         Muito, muito tempo atrás, a noite foi roubada e escondida dentro de uma grande cabaça pelo velho índio Jurupari.
         Ele levou a noite para um lugar distante e desconhecido.
         Sem a noite, as pessoas não podiam dormir, por isso viviam cansadas e tristes.
         Certo dia, um pequeno curumim chamado Aquitã disse ao cacique:
         - Vou sair pelo mundo a fora para encontrar a noite e libertá-la.
         Todos da aldeia riram do pequeno curumim. Então, o grande cacique perguntou-lhe:
         - Aquitã, como você acha que libertará a noite se nem mesmo eu, que sou o grande cacique, consegui?
         - Por favor, deixe-me tentar. Será a minha prova para me tornar um guerreiro forte e valente como você.
         Percebendo a determinação do pequeno curumim, o cacique decidiu deixá-lo partir.
         A aldeia reuniu-se para despedir-se de Aquitã. Cada um levou um presente.  
         As mulheres lhe deram uma cesta cheia de frutas frescas e um grande pedaço de carne seca.
         O guerreiro mais forte deu-lhe uma lança e disse:
         - Para partir a cabaça e libertar a noite, você deve dizer: Tupã.guie minha lança até a cabaça para que a noite se faça!
         O pajé deu-lhe uma borduna mágica e disse:
         - Valente Aquitã, quando a escuridão tomar conta de tudo, bata essa borduna três vezes no chão e diga:
         -Borduna, borduna mágica.
         Três vezes bato você no chão.
         Agora, faça um forte clarão.
         O cacique deu-lhe uma canoa encantada e disse:
         -Quando quiser voltar para a aldeia, diga a essa canoa:
         -Minha canoa, cheguei agora. Não perca tempo, leve-me embora.
         E, assim, o pequeno curumim partiu determinado a encontrar a noite. Ele seguiu o seu caminho dizendo:
         -Sou pequenino, mas muito valente!
         Vou buscar a noite que com o dia irá se casar
         Para todo o meu povo
         Vou dar estrelas de presente
         E o frescor da noite
         Para a gente descansar!
         Aquitã entrou em sua canoa, remou por vários dias até chegar à outra margem do rio.,
         Passou várias semanas caminhando até chegar ao pé da montanha. Ele a escalou até chegar ao topo, de onde podia avistar toda a Terra.
         Aquitã desceu a montanha, chegou mais perto e viu Jurupari sentado numa pedra, com a grande cabaça bem segura nos braços. Ao seu lado, para protegê-lo havia uma enorme e gorda onça.
         Aquitã pegou o ultimo pedaço de carne seca e jogou na frente do animal, que imediatamente começou a comê-la.
         O velho Jurupari levantou-se desconfiado, deixando a cabaça em cima da pedra, e correu justamente na direção do curumim.
         Percebendo o perigo, Aquitã pegou sua lança e disse as palavras mágicas:
         - Tupa~,. Guie minha lança até a cabaça para que a noite se faça!
         Logo em seguida, arremessou a lança, e a cabaça foi partida ao meio. Imediatamente, a noite, com toda a sua ,magia, começou a se espalhar. As estrelas, a lua, os vaga-lumes, os morcegos, os sapos, as corujas e todas as criaturas da noite foram libertas.
         A escuridão tomou conta do mundo, e Jurupari, tentando encontrar o pequeno curumim, acabou caindo numa moita de espinhos, ficando cego para sempre.
         Aquitã, sem saber que direção tomar, lembrou-se da borduna e disse:
         -Borduna, borduna mágica, três vezes bato você no chão, agora faça um forte clarão!
         No mesmo instante, na ponta da borduna, apareceu uma chama que iluminou a escuridão.
         Foi assim, que o pequeno curumim encontrou a canoa às margens do rio e, quase sem fôlego, disse as palavras mágicas:
         -Minha canoa, cheguei agora, não perca tempo, leve-me embora.
         Em seguida, pulou dentro da canoa, mas tão fraco e cansado estava que acabou adormecendo.
         Quando acordou, viu que estava na aldeia cercado pelo seu povo.
         A alegria foi tamanha que fizeram uma grande festa para comemorar a volta de Aquitã e celebrar a beleza da noite.
         Aquitã, o pequeno curumim, foi transformado no mais novo guerreiro de sua aldeia. E esta história entrou pelo nariz do jacaré e saiu pela boca de uma mulher. Conte outra quem quiser!



Nenhum comentário: