IDEOLOGIA SEGUNDO KARL MARX
Filosofia: Política
Tema: a ideologia
Questão Central: Como a ideologia mascara a divisão do
trabalho e gera a alienação?
Filósofo: Karl Marx (1818 – 1883)
Obra: A Ideologia Alemã (1846)
Biografia
Karl Heinrich Marx (1818 – 1883) foi fundador de uma das grandes
teorias que iria influenciar os séculos dezenove e vinte, intelectual alemão,
economista, sendo considerado um dos fundadores da Sociologia e militante da
Primeira e Segunda Internacional.
Também é possível encontrar a influência de Marx em várias outras áreas,
tais como: Filosofia e História. Teve participação como intelectual e como
revolucionário no movimento operário, escrevendo o Manifesto Comunista.
Atualmente é bastante difícil analisar a sociedade humana sem se
referenciar, em maior ou menor grau, à produção de Karl Marx, apesar da
polêmica causada por suas afirmações.
A Ideologia Alemã (1846)
(…)
A produção de idéias, de representações e da consciência está em
primeiro lugar direta e intimamente ligada à atividade material e ao comércio
material dos homens; é a linguagem da vida real. As representações, o
pensamento, o comércio intelectual dos homens surge aqui como emanação direta
do seu comportamento material. O mesmo acontece com a produção intelectual
quando esta se apresenta na linguagem das leis, política, moral, religião,
metafísica, etc., de um povo. São os homens que produzem as suas representações,
as suas idéias, etc., mas os homens reais, atuantes e tais como foram
condicionados por um determinado desenvolvimento das suas forças produtivas e
do modo de relações que lhe corresponde, incluindo até as formas mais amplas
que estas possam tomar. A consciência nunca pode ser mais do que o ser
consciente e o ser dos homens é o seu processo da vida real. E se em toda a
ideologia os homens e as suas relações nos surgem invertidos, tal como acontece
numa câmera obscura, isto é apenas o resultado do seu processo de vida
histórico, do mesmo modo que a imagem invertida dos objetos que se forma na
retina é uma conseqüência do seu processo de vida diretamente físico.
Contrariamente à filosofia alemã, que desce do céu para a terra, aqui
parte-se da terra para atingir o céu. Isto significa que não se parte daquilo
que os homens dizem, imaginam e pensam nem daquilo que são nas palavras, no
pensamento na imaginação e na representação de outrem para chegar aos homens em
carne e osso; parte-se dos homens, da sua atividade real. É a partir do seu
processo de vida real que se representa o desenvolvimento dos reflexos e das
repercussões ideológicas deste processo vital. Mesmo as fantasmagorias
correspondem, no cérebro humano, a sublimações necessariamente resultantes do
processo da sua vida material que pode ser observado empiricamente e que
repousa em bases materiais. Assim, a moral, a religião, a metafísica e qualquer
outra ideologia, tal como as formas de consciência que lhes correspondem,
perdem imediatamente toda a aparência de autonomia. Não têm história, não têm
desenvolvimento; serão antes os homens que, desenvolvendo a sua produção
material e as suas relações materiais, transformam, com esta realidade que lhes
é própria, o seu pensamento e os produtos desse pensamento. Não é a consciência
que determina a vida, mas sim a vida que determina a consciência. Na primeira
forma de considerar este assunto, parte-se da consciência como sendo o
indivíduo vivo, e na segunda, que corresponde à vida real, parte-se dos próprios
indivíduos reais e vivos e considera-se a consciência unicamente como sua
consciência. (…)
Com efeito, cada nova classe no poder é obrigada, quanto mais não seja
para atingir os seus fins, a representar o seu interesse como sendo o interesse
comum a todos os membros da sociedade ou, exprimindo a coisa no plano das
ideias, a dar aos seus pensamentos a forma da universalidade, a representá-los
como sendo os únicos razoáveis, os únicos verdadeiramente válidos.
Os pensamentos da classe dominante são também, em todas as épocas, os
pensamentos dominantes, ou seja, a classe que tem o poder material dominante
numa dada sociedade é também a potência dominante espiritual. A classe que
dispõe dos meios de produção material dispõe igualmente dos meios de produção intelectual,
de tal modo que o pensamento daqueles a quem são recusados os meios de produção
intelectual está submetido igualmente à classe dominante.
O Estado não é mais do que a forma de organização que os burgueses
constituem pela necessidade de garantirem mutuamente a sua propriedade e os
seus interesses.
1. Ideologia no pensamento Marxista (materialismo dialético) é um
conjunto de proposições elaborado, na sociedade burguesa, com a finalidade de
fazer aparentar os interesses da classe dominante com o interesse coletivo,
construindo uma hegemonia daquela classe. A manutenção da ordem social requer
dessa maneira menor uso da violência. A ideologia torna-se um dos instrumentos
da reprodução do status e da própria sociedade. O método precípuo da ideologia é
a utilização do discurso lacunar (Althusser). Nesse, uma série de proposições,
nunca falsas, sugere uma série de outras, que são. Desse modo, a essência do
discurso lacunar é o não dito (porém sugerido). Exemplo: ‘Todos são iguais
perante a lei’ (verdade, numa sociedade burguesa) sugere que todos são iguais
no sentido de terem oportunidades iguais (o que é falso, devido à propriedade
privada dos meios de produção). Formas ideológicas correspondentes aos estágios
de desenvolvimento: estágio extensivo <–> liberalismo estágio intensivo
<–> social democracia capitalismo contemporâneo (ou tardio, ou crise
atual) <–> neoliberalismo A ideologia surge na produção intelectual e
acadêmica, é consolidada nas instituições e divulgada na imprensa especializada
e diária (Exemplo). * * * A sociedade de elite não produz sua ideologia,
‘importa’ elementos da ideologia liberal, sem as condições concretas em que
aquela foi produzida. A ideologia da elite adquire suas feições peculiares em
decorrência desse processo.
2. ideologia e conjunto das ideias e
convicções próprias de uma epoca, uma sociedade, uma classe ETC…
3. Ideologia é um termo usado no
senso comum contendo o sentido de “conjunto de idéias, pensamentos, doutrinas e
visões de mundo de um indivíduo ou de um grupo, orientado para suas ações
sociais e, principalmente, políticas”. A ideologia, segundo Karl Marx, pode ser
considerada um instrumento de dominação que age através do convencimento (e não
da força), de forma prescritiva, alienando a consciência humana e mascarando a
realidade. A origem do termo ocorreu com Destutt de Tracy, que criou a palavra
e lhe deu o primeiro de seus significados: ciência das idéias. Posteriormente,
esta palavra ganharia um sentido pejorativo quando Napoleão chamou De Tracy e
seus seguidores de “ideólogos” no sentido de “deformadores da realidade”. No
entanto, os pensadores da antiguidade clássica e da Idade Média já entendiam
ideologia como o conjunto de idéias e opiniões de uma sociedade. Karl Marx,
pensador alemão, desenvolveu uma teoria a respeito da ideologia, na qual
concebe a mesma como uma consciência falsa, proveniente da divisão do trabalho
manual e intelectual. Nessa divisão, surgem os ideólogos ou intelectuais que
passam através de idéias impostas a dominar através das relações de produção e
das classes que esses criam na sociedade. Contudo a ideologia (falsa
consciência) gera inverte ou camufla a realidade, para os ideais ou vontades da
classe dominante. (Fonte: Marx, Karl e Engels, Friedrich. A Ideologia Alemã
(Feuerbach). São Paulo: Hucitec, 2002.) Depois de Marx, vários outros
pensadores abordaram a temática da ideologia. Muitos mantiveram a concepção
original de Marx (Karl Korsch, Georg Lukács), outros passaram a abordar
ideologia como sendo sinônimo de “visão de mundo”, inclusive alguns pensadores
que se diziam marxistas, tal como Lênin. Alguns explicam isto graças ao fato do
livro A Ideologia Alemã, de Marx, onde ele expõe sua teoria da ideologia, só
tenha sido publicado em 1926, dois anos depois da morte de Lênin. Vários pensadores
desenvolveram análises sobre o conceito de ideologia, tal como Karl Mannheim,
Louis Althusser, Paul Ricoeur, Nildo Viana. Espero ter ajudado
4. Ideologia é a sua forma de pensar
sob algum assunto. Exemplo: existem ideólogos capitalistas e socialistas.
Traços biográficos:
Economista, filósofo e socialista alemão, Karl Marx nasceu em Trier em 5
de Maio de 1818 e morreu em Londres a 14 de Março de 1883. Estudou na
universidade de Berlim, principalmente a filosofia hegeliana, e formou-se em
Iena, em 1841, com a tese Sobre as diferenças da filosofia da natureza
de Demócrito e de Epicuro. Em 1842 assumiu a chefia da redação do Jornal
Renano em Colônia, onde seus artigos radical-democratas irritaram as
autoridades. Em 1843, mudou-se para Paris, editando em 1844 o primeiro volume
dos Anais Germânico-Franceses, órgão principal dos hegelianos
da esquerda. Entretanto, rompeu logo com os líderes deste movimento, Bruno
Bauer e Ruge.
Em 1844, conheceu em Paris Friedrich Engels, começo de uma amizade
íntima durante a vida toda. Foi, no ano seguinte, expulso da França,
radicando-se em Bruxelas e participando de organizações clandestinas de
operários e exilados. Ao mesmo tempo em que na França estourou a revolução, em
24 de fevereiro de 1848, Marx e Engels publicaram o folheto O Manifesto
Comunista, primeiro esboço da teoria revolucionária que, mais tarde,
seria chamada marxista. Voltou para Paris, mas assumiu logo a chefia do Novo
Jornal Renano em colônia, primeiro jornal diário francamente
socialista.
Depois da derrota de todos os movimentos revolucionários na Europa e o
fechamento do jornal, cujos redatores foram denunciados e processados, Marx foi
para Paris e daí expulso, para Londres, onde fixou residência. Em Londres,
dedicou-se a vastos estudos econômicos e históricos, sendo freqüentador assíduo
da sala de leituras do British Museum. Escrevia artigos para jornais
norte-americanos, sobre política exterior, mas sua situação material esteve
sempre muito precária. Foi generosamente ajudado por Engels, que vivia em
Manchester em boas condições financeiras.
Em 1864, Marx foi co-fundador da Associação Internacional dos Operários,
depois chamada I Internacional, desempenhando dominante papel de direção. Em
1867 publicou o primeiro volume da sua obra principal, O Capital.
Dentro da I Internacional encontrou Marx a oposição tenaz dos anarquistas,
liderados por Bakunin, e em 1872, no Congresso de Haia, a associação foi
praticamente dissolvida. Em compensação, Marx podia patrocinar a fundação, em
1875, do Partido Social-Democrático alemão, que foi, porém, logo depois,
proibido. Não viveu bastante para assistir às vitórias eleitorais deste partido
e de outros agrupamentos socialistas da Europa.
Primeiros trabalhos:
Entre os primeiros trabalhos de Marx, foi antigamente considerado como o
mais importante o artigo Sobre a crítica da Filosofia do direito de
Hegel, em 1844, primeiro esboço da interpretação materialista da dialética
hegeliana. Só em 1932 foram descobertos e editados em Moscou os Manuscritos
Econômico-Filosóficos, redigidos em 1844 e deixa-os inacabados. É o
esboço de um socialismo humanista, que se preocupa principalmente com a alienação do homem;
sobre a compatibilidade ou não deste humanismo com o marxismo posterior, a
discussão não está encerrada. Em 1888 publicou Engels as Teses sobre
Feuerbach,redigidas por Marx em 1845, rejeitando o materialismo teórico e
reivindicando uma filosofia que, em vez de só interpretar o mundo, também o
modificaria.
Marx e Engels escreveram juntos em 1845 A Sagrada Família, contra
o hegeliano Bruno Bauer e seus irmãos. Também foi obra comum A
Ideologia alemã (1845-46), que por motivo de censura não pôde ser
publicada (edição completa só em 1932); é a exposição da filosofia marxista.
Marx sozinho escreveu A Miséria da Filosofia (1847), a
polêmica veemente contra o anarquista francês Proudhon. A última obra comum de
Marx e Engels foi em 1847 O Manifesto Comunista, breve resumo
do materialismo histórico e apelo à revolução.
O 18 Brumário de Luís Bonaparte foi publicado em 1852 em jornais e em
1869 como livro. É a primeira interpretação de um acontecimento histórico no
caso o golpe de Estado de Napoleão III, pela teoria do materialismo histórico.
Entre os escritos seguintes de Marx Sobre a crítica da economia
política em 1859 é, embora breve, também uma crítica da civilização
moderna, escrito de transição entre o manuscrito de 1844 e as obras
posteriores. A significação dessa posição só foi esclarecida pela publicação
(em Moscou, 1939-41, e em Berlim, 1953) de mais uma obra inédita: Esboço
de crítica da economia política, escritos em Londres entre 1851 e 1858
e depois deixados sem acabamento final.
Em 1867 publicou Marx o primeiro volume de sua obra mais importante: O
Capital. É um livro principalmente econômico, resultado dos estudos no
British Museum, tratando da teoria do valor, da mais-valia, da
acumulação do capital etc. Marx reuniu documentação imensa para continuar esse
volume, mas não chegou a publicá-lo. Os volumes II e III de O Capital foram
editados por Engels, em 1885 e em 1894. Outros textos foram publicados por Karl
Kautsky como volume IV (1904-10).
A FILOSOFIA DE MARX
MATERIALISMO DIALÉTICO
Baseado em Demócrito e Epicuro sobre o materialismo e em Heráclito sobre
a dialética (do grego, dois logos, duas opiniões divergentes), Marx
defende o materialismo dialético, tentando superar o pensamento de Hegel e
Feuerbach.
A dialética hegeliana era a dialética do idealismo (doutrina filosófica
que nega a realidade individual das coisas distintas do “eu” e só lhes admite a
idéia), e a dialética do materialismo é posição filosófica que considera a
matéria como a única realidade e que nega a existência da alma, de outra vida e
de Deus. Ambas sustentam que realidade e pensamento são a mesma coisa: as leis
do pensamento são as leis da realidade. A realidade é contraditória, mas a
contradição supera-se na síntese que é a “verdade” dos momentos superados.
Hegel considerava ontologicamente (do grego onto + logos; parte
da metafísica, que estuda o ser em geral e suas propriedades transcendentais )
a contradição (antítese) e a superação (síntese); Marx considerava
historicamente como contradição de classes vinculada a certo tipo de
organização social. Hegel apresentava uma filosofia que procurava demonstrar a
perfeição do que existia (divinização da estrutura vigente); Marx apresentava
uma filosofia revolucionária que procurava demonstrar as contradições internas
da sociedade de classes e as exigências de superação.
Ludwig Feuerbach procurou introduzir a dialética materialista,
combatendo a doutrina hegeliana, que, a par de seu método revolucionário
concluía por uma doutrina eminentemente conservadora. Da crítica à dialética
idealista, partiu Feuerbach à crítica da Religião e da essência do
cristianismo.
Feuerbach pretendia trazer a religião do céu para a Terra. Ao invés de
haver Deus criado o homem à sua imagem e semelhança, foi o homem quem criou Deus
à sua imagem. Seu objetivo era conservar intactos os valores morais em uma
religião da humanidade, na qual o homem seria Deus para o homem.
Adotando a dialética hegeliana, Marx, rejeita, como Feuerbach, o
idealismo, mas, ao contrário, não procura preservar os valores do cristianismo.
Se Hegel tinha identificado, no dizer de Radbruch, o ser e o dever-ser (o Sen e
o Solene) encarando a realidade como um desenvolvimento da razão e
vendo no dever-ser o aspecto determinante e no ser o
aspecto determinado dessa unidade.
A dialética marxista postula que as leis do pensamento correspondem às
leis da realidade. A dialética não é só pensamento: é pensamento e realidade a
um só tempo. Mas, a matéria e seu conteúdo histórico ditam a dialética do
marxismo: a realidade é contraditória com o pensamento dialético. A contradição
dialética não é apenas contradição externa, mas unidade das
contradições, identidade: “a dialética é ciência que
mostra como as contradições podem ser concretamente (isto é, vir-a-ser)
idênticas, como passam uma na outra, mostrando também porque a razão não deve
tomar essas contradições como coisas mortas, petrificadas, mas como coisas
vivas, móveis, lutando uma contra a outra em e através de sua luta.” (Henri
Lefebvre, Lógica formal/ Lógica dialética, trad. Carlos N. Coutinho, 1979,
p. 192). Os momentos contraditórios são situados na história com sua parcela de
verdade, mas também de erro; não se misturam, mas o conteúdo, considerado como
unilateral é recaptado e elevado a nível superior.
Marx acusou Feuerbach, afirmando que seu humanismo e sua dialética eram
estáticas: o homem de Feuerbach não tem dimensões, está fora da sociedade e da
história, é pura abstração. É indispensável segundo Marx, compreender a
realidade histórica em suas contradições, para tentar superá-las
dialeticamente. A dialética apregoa os seguintes princípios: tudo relaciona-se
(Lei da ação recíproca e da conexão universal); tudo se transforma (lei
da transformação universal e do desenvolvimento incessante); as mudanças
qualitativas são conseqüências de revoluções quantitativas; a contradição é
interna, mas os contrários se unem num momento posterior: a luta dos contrários
é o motor do pensamento e da realidade; a materialidade do mundo; a
anterioridade da matéria em relação à consciência; a vida espiritual da
sociedade como reflexo da vida material.
O materialismo dialético é uma constante no pensamento do
marxismo-leninismo (surgido como superação do capitalismo, socialismo,
ultrapassando os ensinamentos pioneiros de Feuerbach).
MATERIALISMO HISTÓRICO
Na teoria marxista, o materialismo histórico pretende a explicação da
história das sociedades humanas, em todas as épocas, através dos fatos
materiais, essencialmente econômicos e técnicos. A sociedade é comparada a um
edifício no qual as fundações, a infra-estrutura, seriam representadas pelas
forças econômicas, enquanto o edifício em si, a superestrutura, representaria
as idéias, costumes, instituições (políticas, religiosas, jurídicas, etc). A
propósito, Marx escreveu, na obra A Miséria da filosofia (1847)
na qual estabelece polêmica com Proudhon:
As relações sociais são inteiramente interligadas às forças produtivas.
Adquirindo novas forças produtivas, os homens modificam o seu modo de produção,
a maneira de ganhar a vida, modificam todas as relações sociais. O moinho a
braço vos dará a sociedade com o suserano; o moinho a vapor, a sociedade com o
capitalismo industrial.
Tal afirmação, defendendo rigoroso determinismo econômico em todas as
sociedades humanas, foi estabelecida por Marx e Engels dentro do permanente
clima de polêmica que mantiveram com seus opositores, e atenuada com a
afirmativa de que existe constante interação e interdependência entre os dois
níveis que compõe a estrutura social: da mesma maneira pela qual a
infra-estrutura atua sobre a superestrutura, sobre os reflexos desta, embora,
em última instância, sejam os fatores econômicos as condições finalmente
determinantes.
“O que Marx mais critica é a questão de como compreender o que é o
homem. Não é o ter consciência (ser racional), nem tampouco ser um animal
político, que confere ao homem sua singularidade, mas ser capaz de produzir suas
condições de existência, tanto material quanto ideal, que diferencia o homem.”
Numa leitura existencialista do marxismo, segundo Jean-Paul Sartre, a
essência do homem é não ter essência, a essência do homem é algo que ele
próprio constrói, ou seja, a História. “A existência precede a essência”;
nenhum ser humano nasce pronto, mas o homem é, em sua essência, produto do meio
em que vive, que é construído a partir de suas relações sociais em que cada
pessoa se encontra. Assim como o homem produz o seu próprio ambiente, por outro
lado, esta produção da condição de existência não é livremente escolhida, mas
sim, previamente determinada. O homem pode fazer a sua História mas não pode
fazer nas condições por ele escolhidas. O homem é historicamente determinado pelas
condições, logo é responsável por todos os seus atos, pois ele é livre para
escolher. Logo todas as teorias de Marx estão fundamentadas naquilo que é o
homem, ou seja, o que é a sua existência.
O Homem é condenado a ser livre.
As relações sociais do homem são tidas pelas relações que o homem mantém
com a natureza, onde desenvolve suas práticas, ou seja, o homem se constitui a
partir de seu próprio trabalho, e sua sociedade se constitui a partir de suas
condições materiais de produção, que dependem de fatores naturais (clima,
biologia, geografia…) ou seja, relação homem-Natureza, assim como da divisão
social do trabalho, sua cultura. Logo, também há a relação
homem-Natureza-Cultura.
POLÍTICA E ECONOMIA
Se analisarmos o contexto histórico do homem, nos primórdios,
perceberemos que havia um espírito de coletivismo: todos compartilhavam da
mesma terra, não havia propriedade privada; até a caça era compartilhada por
todos. As pessoas que estavam inseridas nesta comunidade sempre se preocupavam
umas com as outras, em prover as necessidades uns dos outros. Mas com o passar
do tempo, o homem, com suas descobertas territoriais, acabou tornando
inevitável as colonizações e, portanto, o escravismo, por causa de sua ambição.
O escravo servia exclusivamente ao seu senhor, produzia para ele e o seu viver
era em função dele.
O coletivismo dos índios acabou; e o escravismo se transformou numa nova
relação: agora o escravo trabalhava menos para seu senhor, e por seu trabalho
conquistava um pedaço de terra para sua subsistência, ou seja, o servo
trabalhava alguns dias da semana para seu senhor e outros para si. O
feudalismo, então, começava a ser implantado e difundido em todo o território
europeu. Esta relação servo-senhor feudal funcionou durante um certo período na
história da humanidade, mas, por causa de uma série de fatores e
acontecimentos, entre eles o aumento populacional, as condições de comércio
(surgia a chance do servo obter capital através de sua produção excessiva), o
capitalismo mercantilista, o feudalismo decaiu; e assim, deu espaço a um novo
sistema econômico: o capitalismo industrial (que teve seu desenvolvimento por
culminar durante a revolução industrial, com o surgimento da classe
proletária). Assim, deve-se citar a economia inglesa como ponto de partida para
as teorias marxistas.
Como todo sistema tem seu período de crise, ocasionando uma necessidade
de mudança, Adam Smith (o primeiro a incorporar ao trabalho a idéia de riqueza)
desenvolve o liberalismo econômico.
Do latim liberalis, que significa benfeitor, generoso, tem
seu sentido político em oposição ao absolutismo monárquico. Os seus principais
ideais eram: o Estado devia obedecer ao princípio da separação de poderes
(executivo, legislativo e judiciário); o regime seria representativo e
parlamentar; o Estado se submeteria ao direito, que garantiria ao indivíduo
direitos e liberdades inalienáveis, especialmente o direito de propriedades. E
foi isto que fez com que cada sistema fosse modificado.
Sobretudo também deve-se mencionar David Ricardo, que, mais interessado
no estudo da distribuição do que produção das riquezas, estabeleceu, com base
em Malthus, a lei da renda fundiária(agrária), segundo a qual os produtos das
terras férteis são produzidos a custo menor mas vendidos ao mesmo preço dos
demais, propiciando a seus proprietários uma renda fundiária igual à diferença
dos custos de produção. A partir da teoria da renda fundiária, Ricardo elaborou
a lei do preço natural dos salários, sempre regulada pelo preço da alimentação,
vestuário e outros itens indispensáveis à manutenção do operário e seus
dependentes.
Pois, como foi dito anteriormente, com a Revolução Industrial surgiu a
classe do proletariado.
A LUTA DE CLASSES
Pretendendo caracterizar não apenas uma visão econômica da história, mas
também uma visão histórica da economia, a teoria marxista também procura
explicar a evolução das relações econômicas nas sociedades humanas ao longo do
processo histórico. Haveria, segundo a concepção marxista, uma permanente
dialética das forças entre poderosos e fracos, opressores e oprimidos, a
história da humanidade seria constituída por uma permanente luta de classes,
como deixa bem claro a primeira frase do primeiro capítulo d’O Manifesto
Comunista: A história de toda sociedade passado é a história da luta de
classes.
Classes essas que, para Engels são “os produtos das relações econômicas
de sua época”. Assim apesar das diversidades aparentes, escravidão, servidão e
capitalismo seriam essencialmente etapas sucessivas de um processo único. A
base da sociedade é a produção econômica. Sobre esta base econômica se ergue
uma superestrutura, um estado e as idéias econômicas, sociais, políticas,
morais, filosóficas e artísticas. Marx queria a inversão da pirâmide social, ou
seja, pondo no poder a maioria, os proletários, que seria a única força capaz
de destruir a sociedade capitalista e construir uma nova sociedade, socialista.
Para Marx os trabalhadores estariam dominados pela ideologia da classe
dominante, ou seja, as idéias que eles têm do mundo e da sociedade seriam as
mesmas idéias que a burguesia espalha. O capitalismo seria atingido por crises
econômicas porque ele se tornou o impedimento para o desenvolvimento das forças
produtivas. Seria um absurdo que a humanidade inteira se dedica-se
a trabalhar e a produzir subordinada a um punhado de grandes empresários. A
economia do futuro que associaria todos os homens e povos do planeta, só
poderia ser uma produção controlada por todos os homens e povos. Para Marx,
quanto mais o mundo se unifica economicamente mais ele necessita de socialismo.
Não basta existir uma crise econômica para que haja uma revolução. O que
é decisivo são as ações das classes sociais que, para Marx e Engels, em todas
as sociedades em que a propriedade é privada existem lutas de classes (senhores
x escravos, nobres feudais x servos, burgueses x proletariados). A luta do
proletariado do capitalismo não deveria se limitar à luta dos sindicatos por
melhores salários e condições de vida. Ela deveria também ser a luta ideológica
para que o socialismo fosse conhecido pelos trabalhadores e assumido como luta
política pela tomada do poder. Neste campo, o proletariado deveria contar com
uma arma fundamental, o partido político, o partido político revolucionário que
tivesse uma estrutura democrática e que buscasse educar os trabalhadores e
levá-los a se organizar para tomar o poder por meio de uma revolução
socialista.
Marx tentou demonstrar que no capitalismo sempre haveria injustiça
social, e que o único jeito de uma pessoa ficar rica e ampliar sua fortuna
seria explorando os trabalhadores, ou seja, o capitalismo, de acordo com Marx é
selvagem, pois o operário produz mais para o seu patrão do que o seu próprio
custo para a sociedade, e o capitalismo se apresenta necessariamente como um
regime econômico de exploração, sendo a mais-valia a lei
fundamental do sistema.
A força vendida pelo operário ao patrão vai ser utilizada não durante 6
horas, mas durante 8, 10, 12 ou mais horas. A mais-valia é constituída pela
diferença entre o preço pelo qual o empresário compra a força de trabalho (6
horas) e o preço pelo qual ele vende o resultado (10 horas por exemplo). Desse
modo, quanto menor o preço pago ao operário e quanto maior a duração da jornada
de trabalho, tanto maior o lucro empresarial. No capitalismo moderno, com a
redução progressiva da jornada de trabalho, o lucro empresarial seria
sustentado através do que se denomina mais-valia relativa (em oposição à
primeira forma, chamada mais-valia absoluta), que consiste em aumentar a
produtividade do trabalho, através da racionalização e aperfeiçoamento
tecnológico, mas ainda assim não deixa de ser o sistema semi-escravista, pois
“o operário cada vez se empobrece mais quando produz mais riquezas”, o que faz
com que ele “se torne uma mercadoria mais vil do que as mercadorias por ele
criadas”. Assim, quanto mais o mundo das coisas aumenta de valor, mais o mundo
dos homens se desvaloriza. Ocorre então a alienação, já
que todo trabalho éalienado, na medida em
que se manifesta como produção de um objeto que é alheio ao sujeito criador. O
raciocínio de Marx é muito simples: ao criar algo fora de si, o operário se
nega no objeto criado. É o processo de objetificação. Por
isso, o trabalho que éalienado (porque
cria algo alheio ao sujeito criador) permanece alienado até que o
valor nele incorporado pela força de trabalho seja apropriado integralmente
pelo trabalhador. Em outras palavras, a produção representa uma negação,
já que o objeto se opõe ao sujeito e o nega na medida em que o pressupõe e até
o define. A apropriação do valor incorporado ao objeto graças à força de
trabalho do sujeito-produtor, promove a negação da negação. Ora,
se a negação é alienação, a negação da
negação é a desalienação. Ou seja, a
partir do momento que o sujeito-produtor dá valor ao que produziu, ele já não
está mais alienado.
Pausa para um desabafo pessoal
A esta altura da leitura você, esmagado muito mais pela propaganda do
que pela verdade científica ou histórica, deve estar se perguntando: “Mas
peraí, o comunismo não acabou? O comunismo não deu certo?” Caso seja o caso,
remeto ao magnífico trabalho do comunista peruano (que teve a vida tristemente
ceifada cedo demais) O
Homem e o Mito, particularmente no trecho em que ele
explica porque motivos a Fé num Futuro Humanista para a Sociedade do Homo
Sapiens jamais se abala: “A cada experiência frustrada, recomeçam.
Não encontraram a solução: a encontrarão. Jamais os assalta a idéia de que a
solução não exista. Eis aí sua força”. Por outro lado e na mesma
linha – talvez mal comparando, poder-se-ia dizer que o Cristianismo
fracassou rotundamente. Imagine que o personagem histórico Jesus de Nazaré – se
é que ele existiu mesmo, há quem duvide, como Brian Fleming… – tivesse
oportunidade de verificar de perto as inúmeras e bárbaras atrocidades
perpetradas em seu nome pelos anos afora e fosse hoje procurar uma Igreja em
que sentisse seu pensamento e seus ensinamentos sendo respeitados e praticados.
As atrocidades perpetradas diuturnamente pelos cristãos constitui prova cabal
de que as idéias de Jesus estavam erradas? Pois é…
A mim causa enorme espanto que os seguidores de um homem capaz de
vergastar de azorrague, sem compaixão, os banqueiros de sua época (ainda hoje
os críticos do Capital e com muito mais motivo chamamos os mercadores do
Capital – parasitas que lucram enormes quantidades de dinheiro com o fruto do
trabalho alheio, como banqueiros e jogadores das bolsas de valores de
“vendilhões do templo”, por sinal). Mas, com o passar dos séculos os que se
dizem seguidores de Jesus modificaram tanto as teses e ensinamentos iniciais
que há até teorias mirabolantes sobre o quanto o sujeito deve ser rico e estar
de bem com o Capital para se sentir e ser tratado como um “vaso de bênção”. É
evidente que estes criminosos que lucram fábulas vendendo suas religiões em
templos luxuosos são ainda mais ateus do que aqueles que ousamos assim nos
pronunciar. Se acreditassem, minimamente, am alguma forma de “Juízo Final” se
aliariam tão entusiasticamente aos vendilhões do templo humilhando todos os
“profetas”? Pronto, fim da pausa para o desabafo, voltemos à seriedade do
texto.
CONCEITOS:
CAPITALISMO, SOCIALISMO, COMUNISMO E ANARQUISMO
O CAPITALISMO tem seu início na Europa. Suas
características aparecem desde a baixa idade média (do século XI ao XV) com a
transferência do centro da vida econômica social e política dos feudos para a
cidade. O feudalismo passava por uma grave crise decorrente da catástrofe
demográfica causada pela Peste Negra que dizimou 40% da população européia e
pela fome que assolava o povo. Já com o comércio reativado pelas Cruzadas(do
século XI ao XII), a Europa passou por um intenso desenvolvimento urbano e
comercial e, conseqüentemente, as relações de produção capitalistas se
multiplicaram, minando as bases do feudalismo. Na Idade Moderna, os reis
expandem seu poderio econômico e político através do mercantilismo e do
absolutismo. Dentre os defensores deste temos os filósofos Jean Bodin(“os reis
tinham o direito de impor leis aos súditos sem o consentimento deles”), Jacques
Bossuet (“o rei está no trono por vontade de Deus”) e Niccòlo Machiavelli(“a
unidade política é fundamental para a grandeza de uma nação”).
Com o absolutismo e com o mercantilismo o Estado passava a controlar a
economia e a buscar colônias para adquirir metais(metalismo) através da
exploração. Isso para garantir o enriquecimento da metrópole. Esse
enriquecimento favorece a burguesia – classe que detém os meios de produção –
que passa a contestar o poder do rei, resultando na crise do sistema
absolutista. E com as revoluções burguesas, como a Revolução Francesa e a
Revolução Inglesa, estava garantido o triunfo do capitalismo.
A partir da segunda metade do século XVIII, com a Revolução Industrial,
inicia-se um processo ininterrupto de produção coletiva em massa, geração de
lucro e acúmulo de capital. Na Europa Ocidental, a burguesia assume o controle
econômico e político. As sociedades vão superando os tradicionais critérios da
aristocracia (principalmente a do privilégio de nascimento) e a força do
capital se impõe. Surgem as primeiras teorias econômicas: a fisiocracia e o
liberalismo. Na Inglaterra, o escocês Adam Smith (1723-1790), percursor do liberalismo
econômico, publica Uma Investigação sobre Naturezas e Causas da Riqueza
das Nações, em que defende a livre-iniciativa e a não-interferência do
Estado na economia.
Deste ponto, para a atual realidade econômica, pequenas mudanças
estruturais ocorreram em nosso fúnebre sistema capitalista.
SOCIALISMO
A História das Idéias Socialistas possui alguns cortes de importância. O
primeiro deles é entre os socialistas Utópicos e os socialistas Científicos,
marcado pela introdução das idéias de Marx e Engels no universo das propostas
de construção da nova sociedade. O avanço das idéias marxistas consegue dar
maior homogeneidade ao movimento socialista internacional.
Pela primeira vez, trabalhadores de países diferentes, quando pensavam
em socialismo, estavam pensando numa mesma sociedade – aquela preconizada por
Marx – e numa mesma maneira de chegar ao poder.
COMUNISMO
As idéias básicas de Karl Marx estão expressas principalmente no livro O
Capital e n’O Manifesto Comunista, obra que escreveu com
Friedrich Engels, economista alemão. Marx acreditava que a única forma de
alcançar uma sociedade feliz e harmoniosa seria com os trabalhadores no poder.
Em parte, suas idéias eram uma reação às duras condições de vida dos
trabalhadores no século XIX, na França, na Inglaterra e na Alemanha. Os
trabalhadores das fábricas e das minas eram mal pagos e tinham de trabalhar
muitas horas sob condições desumanas.
Marx estava convencido que a vitória do comunismo era inevitável.
Afirmava que a história segue certas leis imutáveis, à medida que avança de um
estágio a outro. Cada estágio caracteriza-se por lutas que conduzem a um
estágio superior de desenvolvimento. O comunismo, segundo Marx, é o último e
mais alto estágio de desenvolvimento.
Para Marx, a chave para a compreensão dos estágios do desenvolvimento é
a relação entre as diferentes classes de indivíduos na produção de bens.
Afirmava que o dono da riqueza é a classe dirigente porque usa o poder
econômico e político para impor sua vontade ao povo. Para ele, a luta
de classes é o meio pelo qual a história progride. Marx achava que a
classe dirigente jamais iria abrir mão do poder por livre e espontânea vontade
e que, assim, a luta e a violência eram inevitáveis.
O ANARQUISMO foi a proposta revolucionária
internacional mais importante do mundo durante a segunda metade do século XIX e
início do século XX, quando foi substituído pelo marxismo (comunismo). Em suma,
o anarquismo prega o fim do Estado e de toda e qualquer forma de governo, que
seriam as causas da existência dos males sociais, que devem ser substituídos
por uma sociedade em que os homens são livres, sem leis, polícia, tribunais ou
forças armadas. A sociedade anarquista seria organizada de acordo com a
necessidade das comunidades, cujas relações seriam voltadas ao
auto-abastecimento sem fins lucrativos e à base de trocas. A doutrina, que teve
em Bakunin seu grande expoente teórico, organizou-se primeiramente na Rússia,
expandindo-se depois para o resto da Europa e também para os Estados Unidos. O
auge de sua propagação deu-se no final do século XIX, quando agregou-se ao
movimento sindical, dando origem ao anarco-sindicalismo, que pregava que os
sindicatos eram os verdadeiros agentes das transformações sociais. Com o
surgimento do marxismo, entretanto, uma proposta revolucionária mais adequada
ao quadro social vigente no século XX, o anarquismo entrou em decadência. Sem,
contudo, deixar de ter tido sua importância histórica, como no episódio em que
os anarquistas italianos Nicola Sacco e Bartolomeo Vanzetti foram executados
por assassinato em 1921, nos EUA, mesmo com as inúmeras evidências e
testemunhos que provavam sua inocência.
REVISIONISMO
Depois da morte de Marx e Engels, a rápida industrialização da Alemanha
e o fortalecimento do partido social-democrata e dos sindicatos melhoraram
muito as condições de vida dos trabalhadores alemães, ao mesmo tempo em que ser
tornou cada vez mais improvável a esperada crise fatal do regime capitalista.
Eduard Bernstein em seu livro Os pressupostos do socialismo e as
tarefas da social-democracia, recomendou abandonar utópicas esperanças
revolucionárias e contentar-se, realisticamente com o fortalecimento do poder
político e econômico das organizações do proletariado, considerando-se que as
previsões marxistas de depauperamento progressivo(esgotar as forças de forma a
tornar-se muito pobre) das massas não se tinham verificado.
Esse “revisionismo” de Bernstein foi combatido pela ortodoxia marxista,
representada por Karl Kautsky. Mas praticamente o revisionismo venceu de tal
maneira, que a social-democracia alemã abandonou, enfim, o marxismo.
Ficou isolada a marxista Rosa Luxemburg, que em uma de suas obras
adaptou a teoria de Marx às novas condições do imperialismo econômico e
político do séc. XX.
NEOMARXISTAS:
Fora da Rússia, houve e há várias tentativas de dar ao marxismo outra
base filosófica que o materialismo científico do séc. XIX, que já não se
afigura bastante sólido a muitos marxistas modernos. Georges Sorel apoiando-se
na filosofia do élan vital de Henri Bergson, postulou um
movimento antiparlamentar, de violência revolucionária, inspirado pelo “mito”
de uma irresistível greve geral.
O MANIFESTO COMUNISTA
O Manifesto Comunista fez a humanidade caminhar. Não em
direção ao paraíso, mas na busca (raramente bem sucedida, até agora) da solução
de problemas como a miséria e a exploração do trabalho. Rumo à concretização do
princípio, teoricamente aceito há 200 anos, diz que “todos os homens são
iguais”. E sublinhando a novidade que afirmava que os pobres, os pequenos, os
explorados também podem ser sujeitos de suas vidas.
Por isso é um documento histórico, testemunho da rebeldia do seres
humanos. Seu texto, racional, aqui e ali bombástico e, em diversas passagens
irônico, mal esconde essa origem comum com homens e mulheres de outros tempos:
o fogo que acendeu a paixão da Liga dos Comunistas, reunida em Londres no ano
de 1847, não foi diferente do que incendiou corações e mentes na luta contra a
escravidão clássica, contra a servidão medieval, contra o obscurantismo
religioso e contra todas as formas de opressão.
A Liga dos Comunistas encomendou a Marx e a Engels a elaboração de um
texto que tornasse claros os objetivos dela e sua maneira de ver o mundo. E
isto foi feito pelos dois jovens, um de 30 e o outro de 28 anos. Portanto, o Manifesto
Comunista é um conjunto afirmativo de idéias, de “verdades” em que os
revolucionários da época acreditavam, por conterem, segundo eles, elementos
científicos – um tanto economicistas – para a compreensão das transformações
sociais. Nesse sentido, o Manifesto é mais um monumento do que
um documento… Pétreo, determinante, forte: letras, palavras, e frases que
queriam Ter o poder de uma arma para mudar o mundo, colocando no lugar “da
velha sociedade burguesa uma associação na qual o livre desenvolvimento de cada
membro é a condição para o desenvolvimento de todos.”
O Manifesto tem uma estrutura simples: uma breve
introdução, três capítulos e uma rápida conclusão.
A introdução fala com um certo orgulho, do medo que o
comunismo causa nos conservadores. O “fantasma” do comunismo assusta os
poderosos e une, em uma “santa aliança”, todas as potências da época. É a velha
“satanização” do adversário, que está “fora da ordem”, do “desobediente”. Mas o
texto mostra o lado positivo disso: o reconhecimento da força do comunismo. Se
assusta tanto, é porque tem alguma presença. Daí a necessidade de expor o modo
comunista de ver o mundo e explicar suas finalidades, tão deturpadas por aqueles
que o “demonizam”.
A parte I, denominada “Burgueses e Proletários“, faz um resumo da
história da humanidade até os dias de então, quando duas classes sociais
antagônicas (as que titulam o capítulo) dominam o cenário.
A grande contribuição deste capítulo talvez seja a descrição das enormes
transformações que a burguesia industrial provocava no mundo, representando “na
história um papel essencialmente revolucionário”.
Com a argúcia de quem manejava com destreza instrumentos de análise
socioeconômica muito originais na época, Marx e Engels relatam (com sincera
admiração !) o fenômeno da globalização que a burguesia implementava,
mundializando o comércio, a navegação, os meios de comunicação.
O Manifesto fala de ontem mas parece dizer de hoje. O
desenvolvimento capitalista libera forças produtivas nunca vistas, “mais
colossais e variadas que todas as gerações passadas em seu conjunto”. O poderio
do capital que submete o trabalho é anunciado e nos faz pensar no agora do
revigoramento neoliberal: nos últimos 40 anos deste século XX, foram produzidos
mais objetos do que em toda a produção econômica anterior, desde os primórdios
da humanidade.
A revolução tecnológica e científica a que assistimos, cujos ícones são
os computadores e satélites e cujo poder hegemônico é a burguesia, não passa de
continuação daquela descrita no Manifesto , que “criou
maravilhas maiores que as pirâmides do Egito, que os aquedutos romanos e as
catedrais góticas; conduziu expedições maiores que as antigas migrações de
povos e cruzadas”. Um elogio ao dinamismo da burguesia ?
Impiedoso com os setores médios da sociedade – já minoritários nas
formações sociais mais conhecidas da Europa – , o Manifestochega a
ser cruel com os desempregados, os mendigos, os marginalizados, “essa escória
das camadas mais baixas da sociedade”, que pode ser arrastada por uma revolução
proletária mas, por suas condições de vida, está predisposta a “vender-se à
reação”. Dá a entender que só os operários fabris serão capazes de fazer a
revolução.
A relativização do papel dos comunistas junto ao proletariado é o
aspecto mais interessante da parte II, intitulada “Proletários e Comunistas“.
Depois de quase um século de dogmatismos, partidos únicos e “de
vanguarda” portadores de verdade inteira, é saudável ler que “os comunistas não
formam um partido à parte, oposto a outros partidos operários, e não têm
interesses que os separem do proletariado em geral”.
Embora, sem qualquer humildade, o Manifesto atribua aos
comunistas mais decisão, avanço, lucidez e liderança do que às outras frações
que buscam representar o proletariado, seus objetivos são tidos como comuns: a
organização dos proletários para a conquista do poder político e a destruição
de supremacia burguesa.
O “fantasma” do comunismo assombrava a Europa e o livro procura
contestar, nessa parte, todos os estigmas que as classes poderosas e influentes
jogavam sobre ele. Vejamos alguns desses estigmas, bastante atuais, e a
resposta do Manifesto:
Os comunistas querem acabar com toda a propriedade, inclusive a pessoal
!
Você já deve ter ouvido isso… Em 1989, no Brasil, quando Lula quase
chegou lá, seus adversários espalharam o boato de que as famílias de classe
média teriam que dividir suas casas com os sem-teto… A bobagem é velha, de 150
anos. Marx e Engels responderam que queriam abolir a propriedade burguesa,
capitalista. Para os socialistas, a apropriação pessoal dos frutos do trabalho
e aqueles bens indispensáveis à vida humana eram intocáveis. Ao que se sabe,
roupas, calçados, moradia não são geradores de lucros para quem os possui… O Manifesto a
esse respeito, foi definitivo, apesar de a propaganda anticomunista e burra não
ter lhe dado ouvidos: “O comunismo não retira a ninguém o poder de apropriar-se
de sua parte dos produtos sociais, tira apenas o poder de escravizar o trabalho
de outrem por meio dessa apropriação.”
Os comunistas querem acabar com a família e com a educação !
Sempre há alguém pronto para falar do comunista “comedor de criancinha”.
Ao ouvir isso, não deixe de indagar se uma família pode viver com o salário
mínimo, o pai e mãe desempregados e uma moradia sem fornecimento de água e sem
luz. E se uma criança pode ser educada para a vida numa escola pública
abandonada pelo governo, que finge que paga aos professores e funcionários. Na
sociedade capitalista a educação é, ela própria, um comércio, uma atividade
lucrativa…
Os comunistas querem socializar as mulheres !
Essa fazia parte do catecismo de “satanização” das idéias socialistas.
“Para o burguês, sua mulher nada mais é que um instrumento de produção. Ouvindo
dizer que os instrumento de produção serão postos em comum, ele conclui
naturalmente que haverá comunidade de mulheres. O burguês não desconfia que se
trata precisamente de dar à mulher outro papel que o de simples instrumento de
produção.” É bom lembrar que alguns socialistas, até hoje, não conseguiram
aceitar essa nova compreensão da mulher. O machismo nega o marxismo…
A parte III, denominada “Literatura Socialista e Comunista” faz
fortes críticas às diferentes correntes socialistas da época.
O Manifesto corta com a afiada faca da ironia
três tipos de socialismo da época: o “socialismo reacionário” (subdividido em
socialismo feudal, socialismo pequeno-burguês e socialismo alemão, o
“socialismo conservador e burguês” e o “socialismo e comunismo crítico-utópico”.
Nesse capítulo a obra mostra seu caráter temporal, quase local. Revela
sua profunda imersão na efervescência das idéias e combates daquela época,
quando a aristocracia, para salvar os dedos já sem seus ricos anéis, condena a
burguesia e, numa súbita generosidade, tece loas a um vago socialismo.
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A conclusão, “Posição dos Comunistas Diante dos Diferentes Partidos
de Oposição” é um relato das táticas adotadas naquele momento pelos
comunistas, na França, na Suíça, na Polônia e na Alemanha. Estados Unidos e
Rússia, que viviam momentos de alta tensão social e política, não são
mencionados, como reconheceu Engels em maio de 1890, ao destacar com
sinceridade “o quanto era estreito o terreno de ação do movimento proletário no
momento da primeira publicação do Manifesto em fevereiro de
1848″.
O Manifesto Comunista como não poderia deixar de ser,
termina triunfalista e animando. Não quer espiritualizar e sim emocionar para a
luta. Curiosamente, retoma a idéia do “fantasma”, ao desejar que “as classes
dominantes tremam diante da idéia de uma revolução comunista”. Os proletários,
que têm um mundo a ganhar com a revolução, também são, afinal, conclamados, na
célebre frase, que tantos sonhos, projetos de vida e revoluções sociais já
inspirou:
“PROLETÁRIOS
DE TODOS OS PAÍSES, UNI-VOS !”
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