Produção de Texto na Escola
Ao tentar integrar a
disciplina de Português às outras áreas disciplinares através de uma redação,
logo nos acode a idéia de pedir que os alunos façam uma narrativa ou uma
dissertação. Neste caso, o processo inicia-se com a escolha do tema ou do
título, lançado ao aluno como motivação inicial para começar a escrever. Na
falta de um título, pede-se um resumo, uma opinião ou simplesmente um breve
comentário sobre qualquer texto lido ou sobre o tema em debate nas diferentes
disciplinas. Surgem então, inúmeros textos para o professor corrigir,
desenhando neles sinais, cobrinhas, pontos de interrogação, em busca da
correção gramatical para adequá-los às convenções mais visíveis da escrita. A
redação menos marcada com estas intromissões é sorteada para uma possível
exposição. As outras, voltam para seus autores e são devidamente engavetadas,
quando não jogadas fora, contribuindo para o aumento do lixo.
Este parece ser o
enredo de uma história que todos nós conhecemos, com pequenas variações, desde
a mais tenra idade, seja como alunos, seja como professores, não importa a
posição, incômoda em qualquer dos casos.
Se observássemos mais
cuidadosamente o uso da escrita nas diferentes instâncias sociais, desde
situações mais informais até aquelas que exigem um texto com certa
padronização, talvez o princípio e o destino dos exercícios de escrita fossem
outros. Pensemos em diários, poemas, bilhetes, panfletos, cartas de leitores
aos jornais, anúncios classificados, declarações, relatórios, ofícios,
procurações, planejamentos. Não nos esqueçamos de textos presentes em
diferentes meios culturais e artísticos como romances, roteiros de filmes e vídeos,
histórias em quadrinhos. Pensemos, ainda, em textos que circulam no cotidiano,
lidos por apenas uma pessoa (o amado, a filha, o chefe) ou por um público
vasto. Pensemos, por fim, nos diferentes propósitos ou objetivos dos mesmos
textos: confessar, emocionar, informar, documentar, criticar, elogiar,
persuadir.
Ao lermos os textos à
nossa volta, veremos o quanto as condições em que são escritas as redações na
sala de aula estão distantes da situação real de interlocução social, através
da escrita. Se considerarmos os tipos e objetivos do texto, bem como os
interlocutores, elementos que fazem parte da interação verbal, talvez o
princípio e o destino dos textos dos alunos possam ser outros, possam deixar de
ser um faz-de-conta, para se tornarem de fato textos significativos, com
autores e leitores efetivos.
Nas situações
efetivas de interação estabelece-se uma equação entre os objetivos do texto,
elaborados a partir do projeto de dizer do locutor, o assunto tratado dentro de
um conjunto de interesses e os tipos textuais existentes. Como um texto
produzido é sempre dirigido a interlocutores, estes também contribuem para a
construção deste texto significativo. Dentro deste espaço constituído
lingüística e socialmente, os alunos passam a se comprometer com o processo de
construção de sentidos e de conhecimento.
A produção textual na
escola pode ocorrer a partir de necessidades reais surgidas durante a
aprendizagem, como forma de registros, documentações, expressões de visão de
mundo e divulgação. Pode ter como destino a sua circulação, dentro ou fora da
escola, dependendo dos propósitos dos Projetos de Trabalho desenvolvidos.
As convenções da
escrita passam a ser articuladas dentro do texto levando em conta a situação de
comunicação, isto é, as adequações às normas serão necessárias na medida em que
estes textos são produtos a serem socializados dentro de uma comunidade que tem
seus padrões. Nesta perspectiva, não há mais uma correção com o fim em si mesma
ou apenas para uma avaliação escolar, mas o trabalho com a linguagem terá como
objetivo, além do aprendizado das normas em função das exigências da modalidade
escrita, o aprendizado da melhor forma de explorar os recursos lingüísticos e
expressivos da língua.
Dentro desta
concepção de trabalho com a escrita, as produções textuais na escola passam a
ter sua origem na real necessidade de interação com os colegas e com a
comunidade. Diante disto, o texto, como unidade de comunicação interativa, não
necessita ter uma extensão, um tamanho definido, podendo ir desde uma única
palavra (por exemplo, placa de trânsito com a inscrição "Cuidado")
até um volumoso livro. A articulação do texto será realizada tendo como
critérios os objetivos que norteiam a sua produção e o contexto no qual está
inserido. Estas práticas podem promover reflexões não apenas sobre o trabalho
lingüístico que permeia a produção, como também sobre as diversas funções
sociais e comunicativas da escrita.
Dentro de Projetos de
Trabalho que visam integrar diferentes áreas de conhecimento na escola, a produção
de texto é um instrumento importante no tratamento das informações, na
organização e divulgação do trabalho entre os parceiros que estão em processo
de construção de conhecimento, a partir dos temas eleitos. A escrita deixa de
ser um acessório para tornar-se um lugar de organização, sistematização e
socialização durante o processo de aprendizagem.
A seguir, são dadas sugestões de tipos
de textos que podem ser trabalhados nos Projetos de diferentes campos de
conhecimento, apresentados no Caderno de Atividades:
Índice
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As entrevistas buscam
conhecer os saberes, a visão de mundo, o modo de viver do entrevistado, com o
objetivo de ter acesso às informações que possam contribuir para a construção
de um conhecimento mais amplo de um tema e de ações que daí decorram. Em função
dos objetivos, da situação, do assunto e dos interlocutores, as questões são
formuladas, mas não podem ser totalmente fixas, já que, provavelmente, há
necessidade de reformulações durante o diálogo com o entrevistado, levando em
conta as características específicas e as razões da escolha de determinado
interlocutor.
O processo da
entrevista, portanto, deve ser circular e reflexivo. Depois de algumas
entrevistas, tanto o tema guia, como a seleção dos entrevistados, pode mudar. A
análise deve ser integrada ao processo da realização das entrevistas.
Em seguida serão
dadas algumas ações a serem realizadas com os respectivos grupos ou alunos
responsáveis pela entrevista, não significando que elas devam ter uma seqüência
linear:
1.prepare o TEMA GUIA;
2. selecione o método da entrevista: individual, grupal ou uma
combinação dos dois;
3. prepare uma estratégia para a seleção dos entrevistados;
4. realize as entrevistas;
5. transcreva as entrevistas;
6. analise o conteúdo das entrevistas.
Caso as entrevistas
sejam gravadas e depois transcritas, o trabalho lingüístico poderá estar
focalizado nas diferenças entre as modalidades oral e escrita da linguagem e no
processo de transposição de uma modalidade para outra, o que envolve,
principalmente, uma reflexão sobre modos distintos de coesão, de coerência e de
contextualização nas mesmas modalidades. Por meio da entrevista, ainda é
possível trabalhar com diferentes tipos de discurso, principalmente o direto e
o indireto, no momento de decidir a forma de apresentação para o público
escolhido. Para se ter uma noção mais clara das diferentes possibilidades de
articulação desses textos, é interessante que se analisem as entrevistas que
aparecem em revistas ou jornais.
Após este trabalho de
reflexão e de organização da linguagem, os conteúdos servirão de base para
análise ao retornarem aos campos de conhecimento que promoveram esta forma de
acesso às informações.
As legendas são
pequenos textos que acompanham as imagens (fotos, desenhos, figuras, pinturas
etc.), como uma complementação, realizada através de descrição ou explicação.
Podem também orientar o olhar do leitor e, até mesmo, interagir com a imagem,
alterando o significado que ela teria, caso estivesse sem o suporte textual. Assim,
mais do que explicar, a legenda passa a interpretar e a interagir com a imagem.
Nesta interação pode ocorrer uma espécie de confirmação, de valorização da
informação visual ou pode haver o estabelecimento de uma contraposição. No
diálogo texto e imagem, uma terceira mensagem, não limitada nem a uma, nem a
outra, pode ainda ser produzida. Algumas destas articulações entre texto e
imagem podem ser analisadas em legendas de fotos nas diferentes produções da
mídia impressa.
Assim, as legendas
que acompanham as imagens, ou mesmo objetos ( por ex.: maquetes), devem ser
trabalhadas em função dos objetivos, do contexto e dos interlocutores
previstos, apresentando-se como descrição, interpretação ou, ainda, como
narração.
Os relatórios cumprem
diversas funções, dependendo da situação em que se inserem (relatório de
trabalho, relatório de experiência, de pesquisa etc.) O que há de comum é o
fato de serem documentos que procuram registrar um processo, uma transformação
ou ainda, uma investigação.
Embora haja algumas
particularidades, dependendo da área de conhecimento e dos objetivos
específicos, os relatórios podem ter a seguinte organização:
·
introdução ao assunto tratado, que pode ser articulado como respostas às
questões O que, onde, quando;
·
breve histórico do problema ou contextualização do assunto dentro de um
tema mais amplo;
·
descrição do processo (etapas de uma experiência, de ações) ou listagem
de informações coletadas;
·
apoio de gráficos, tabelas, exemplos que servem de evidências da
pesquisa;
·
conclusões;
·
bibliografia e fontes de pesquisa.
O relatório serve de
base para a organização e sistematização de algumas atividades do Projeto e,
posteriormente, será utilizado como documento a ser consultado e socializado
pelos colegas, sendo um importante instrumento de informação para a escolha e a
fundamentação de ações.
Os títulos, assim
como as legendas, têm a função de orientar a leitura e, ao mesmo tempo, chamar
a atenção do leitor para algum aspecto saliente dos textos que os seguem. Em
trabalho de leitura é interessante comparar as diferentes formas de
apresentação dos títulos de acordo com os contextos (manchetes de jornal,
títulos de reportagens, artigos, textos expositivos). Estas diferenças podem
ser lingüisticamente analisadas no uso de verbos (notícias), nas nominalizações
(textos dissertativos), nas expressões conotativas, dentre outros recursos da
língua que são agenciados em função da situação comunicativa: interlocutores, o
perfil dos veículos e a formalidade do contexto. Tanto na leitura como no
processo de produção dos textos, estes recursos podem ser trabalhados junto ao
alunos. Assim, o título deixa de ser o ponto de partida de um texto e torna-se
a sua síntese e o primeiro elemento orientador para a leitura.
Os folhetos são
textos cuja função principal é esclarecer algum problema ao leitor, promovendo
ações transformadoras. A sua organização textual consiste basicamente em:
·
definições básicas sobre o assunto;
·
explicações ou esclarecimentos para evitar falsas crenças ou mitos;
·
instruções de procedimento para resolver ou evitar um problema
(opcional, dependendo do assunto e do objetivo do folheto);
·
desenhos , caricaturas, que personifiquem algum elemento de destaque do
assunto;
·
esquemas explicativos facilitadores da compreensão.
Os folhetos
caracterizam-se por uma linguagem didática que visa a conscientização ou a
promoção de mudanças de posturas. Geralmente, estes textos são uma das ações de
uma campanha maior e procuram atingir pessoas que têm pouco acesso às
informações ou que estão expostas às informações ou crenças errôneas. Folhetos
sobre Dengue, Aids, vacinação, amamentação, são alguns exemplos.
Nos Projetos de
Trabalho, os folhetos podem ser um meio de divulgação das informações obtidas
nas pesquisas dos alunos e de conscientização, colocados à disposição da escola
e da comunidade.
Neste texto estão
dispostas todas as ações necessárias para atingir os objetivos que norteiam o
trabalho, promotoras da construção de um conhecimento compartilhado por todos
os envolvidos. O roteiro de trabalho pode ser produzido coletivamente e estar
em constante reconstrução e rearticulação, de acordo com o andamento das ações:
·
o estabelecimento do tema, a partir da avaliação de diferentes enfoques
possíveis;
·
estabelecimento dos objetivos;
·
articulação das etapas das ações necessárias;
·
escolha das pessoas a serem entrevistadas e fontes a serem pesquisadas;
·
seleção e ordenação das ações possíveis, dentro da disponibilidade do
grupo e das condições materiais;
·
distribuição das tarefas para os grupos ou para os elementos de cada
grupo;
·
estabelecimento de momentos destinados às discussões e reavaliações do
andamento do projeto (momento da própria reestruturação do roteiro);
·
organização das diferentes formas de compilação das informações e dados;
·
avaliação final do projeto como um todo, procurando analisar se os
objetivos foram alcançados.
O RAP "é a
abreviação para rhythm and poetry (ritmo e poesia). Gênero musical criado por
negros-norte-americanos que se caracteriza por ritmo acelerado e a quase
inexistência de melodia e harmonia.(...) As letras, em geral longas, são quase
recitadas e utilizam gírias dos guetos e das gangues que habitam os bairros
pobres das metrópoles norte-americanas(...) O Rap chega ao Brasil no início dos
anos 80, mas só ganha espaço na indústria fonográfica em 1993, com o lançamento
do primeiro disco de Gabriel, o pensador" (conferir verbete Rap, Almanaque
Abril Multimídia). O Rap tem sido uma forma de protesto contra a opressão e a
exclusão de determinados grupos sociais, assumindo assim um caráter denunciador
e político.
Como pode ser
utilizado? - Os próprios alunos apresentam interessantes propostas de
atividades, relacionadas à composição de Raps, que poderão ser realizadas em
sala de aula.
GERALDI, J. W. Portos de passagem. São
Paulo, Martins Fontes, 1993. (Org). O texto na sala de aula. São Paulo, Ática,
1997. KAUFMAN, A. e RODRIGUEZ. M. H. Escola, leitura e produção de textos.
Porto Alegre, 1995. KLEIMAN, Angela. Oficina de leitura; teoria e prática. Campinas,
SP, Pontes/Editora da Unicamp,1992. VAL, M. G. C. Redação e textualidade. São
Paulo, Martins Fontes, 1991.
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