sábado, 2 de março de 2013

CARACTERÍSTICAS DE ALGUMAS TEORIAS DE APRENDIZAGEM

(MAIS MARCANTES, ATÉ À NOSSA ERA)

Teoria da Assimilação de Ausubel

D.P. Ausubel é um psicólogo educacional contemporâneo e, como tal, a sua teoria aborda não só as características da aprendizagem, como também os meios efectivos para tornar estáveis, de forma deliberada, as mudanças cognitivas com valor social.

Alguns aspectos relevantes desta teoria:

-          é uma teoria de aprendizagem centrada na natureza dos conceitos e na sua aprendizagem na sala de aula;

-          o conhecimento, para um determinado indivíduo, tende a organizar-se de forma sequencial e hierárquica;

-          o mais importante factor que influencia a aprendizagem é o que o aluno já sabe.

  1.      Princípios básicos

·          A “estrutura cognitiva” organiza-se hierarquicamente no que respeita a abstracção, generalização e abrangência de ideias (inclusibilidade).

·          A emergência de uma nova “estrutura cognitiva” reflecte uma relação subordinativa do novo conhecimento à estrutura pré-existente (ideia mais geral e inclusiva).

·          O indivíduo que aprende recorre a uma  estartégia cognitiva – subsunção ou ancoragem, que consiste na inclusão dos novos conhecimentos (conceitos, proposições) na estrutura cognitiva pré-existente. As “ideias” pré-existentes, claras e estáveis, designam-se por subsunsores, âncoras ou esteios, e constituem uma sólida base de apoio às “ideias” recém-aprendidas.

2.      Estrutura cognitiva

Para este autor, a “estrutura cognitiva” é um conjunto organizado de ideias pré-existentes relativamente à aprendizagem que se vai processar, e deve ser entendida como:

-          conteúdo substantivo da estrutura do conhecimento de um indivíduo;

-          propriedades organizacionais principais num campo de conhecimento particular.

3.      Aprendizagem significativa/ Aprendizagem automática

A essência do processo de aprendizagem significativa é que as ideias expressas simbolicamente são relacionadas com as informações previamente adquiridas pelo aluno, através de uma relação não arbitrária e substantiva (não literal). Uma relação deste tipo significa que as ideias são relacionadas com alguns aspectos relevantes existentes na estrutura cognitiva do aluno (por exemplo, uma imagem, um símbolo, um conceito ou uma proposição).

       A aprendizagem significativa pressupõe que:

-          o aluno manifeste uma disposição para a aprendizagem significativa, ou seja, uma disposição para relacionar o novo conhecimento, de forma não arbitrária e substantiva, com a sua estrutura cognitiva;

-          o novo conhecimento seja potencialmente significativo – seja passível de incorporação na sua estrutura de conhecimento através de uma relação não arbitrária e não literal.

A aprendizagem automática ocorre se a tarefa de aprendizagem consistir em associações puramente arbitrárias (associações de pares, quebra-cabeças, ...), se faltar ao aluno o conhecimento prévio relevante e/ou se o aluno adopta uma estratégia que consiste em relacionar de forma arbitrária e literal os novos conhecimentos com os pré-existentes.

4.      Aprendizagem por descoberta/ Aprendizagem por recepção

Na aprendizagem por recepção (seja automática ou significativa) todo o conteúdo que vai ser aprendido é apresentado ao aluno na forma final.

A característica essencial da aprendizagem por descoberta é que o conteúdo principal não é dado, mas deve ser “descoberto” pelo aluno antes que possa ser incorporado significativamente na sua estrutura cognitiva.

Para Ausubel, o objectivo do ensino é proporcionar aos alunos uma aprendizagem significativa (por recepção ou, de preferência, por descoberta). Ele aponta cinco processos mentais (cognitivos) que conduzem a uma aprendizagem significativa.

5.      Processos mentais

Subsunção ou ancoragem – quando surgem “novos” conceitos, estes são subordinados à estrutura cognitiva pré-existente do aluno, pois o sistema nervoso actua como um mecanismo de processamento de dados.

Assimilação – durante a aprendizagem estabelece-se uma interacção profunda entre a “nova ideia” a ser incorporada e o conceito subsunsor (esteio ou âncora); tanto um como outro devem possuir um sentido lógico (e psicológico) diferente, de modo a que a ideia a ser aprendida (assimilada), embora ainda esteja ligada ao subsunsor, possua “discriminabilidade” para se destacar do material já existente.

Diferenciação progressiva – desde o início da infância, os conceitos que possuímos estão em constante modificação e elaboração (construção), tornando-se mais precisos e simultaneamente mais exclusivos e mais inclusivos; os novos conhecimentos introduzidos devem ser trabalhados através do estabelecimento de discriminações sucessivas, para que seja atingida a “consolidação” (não confundir com mecanização ...).

Aprendizagem superordenada ou de ordem superior – a maior parte da aprendizagem significativa envolve integração (subsunção), mas, às vezes, conceitos mais gerais e inclusivos são aprendidos providenciando também relações significativas entre dois ou mais conceitos já existentes.

Exemplo: quando os alunos estudam a lei fundamental da Dinâmica, relacionam força e aceleração; se forem bem sucedidos, o conceito de massa adquire um novo significado, através da relação com os outros dois conceitos.

Reconciliação integrativa – quando dois ou mais conceitos parecem relacionáveis de um “novo” modo, ocorre uma “reconciliação integrativa” dos conceitos, surgindo um princípio unificador mais inclusivo que cria um nível superior de ordenação conceptual.

6.      Variáveis de Aprendizagem

Ausubel considera dois grandes grupos de variáveis de aprendizagem. São eles:

6.1. Variáveis intrapessoais

·                Variáveis da estrutura cognitiva

-          disponibilidade (dos subsunsores – mais relevante num nível elevado de inclusividade, generalização e abstracção);

-          extensão (através da qual os subsunsores são discrimináveis de conceitos similares).

·                Desenvolvimento da prontidão (reflecte o estádio de desenvolvimento do aluno)

·                Aptidão intelectual (inteligência geral, aptidões numéricas e verbais, ...)

·                Factores motivacionais e atitudinais (atenção, vontade de saber, interesse no assunto)

·                Factores da personalidade (nível de ansiedade, ajustamento pessoal, ...)

6.2. Variáveis situacionais

·                Prática (métodos, frequência, feed-back, ...)

·                Factores sociais e grupais (clima da sala de aula, status social e cultural,...)

·                Características do professor (conhecimento da matéria, competência pedagógica, personalidade, comportamento)

7.      Tipo de ensino e estímulos exteriores que favorecem a aprendizagem significativa

«Como ensinar eficazmente em termos de aprendizagem significativa que conduz à retenção e transferência de conhecimentos?»

Para responder a esta questão, Ausubel dá relevância aos materiais usados pelo professor, os quais devem:

Ø                  ter sentido lógico

Ø                  ser claros, relevantes e estáveis

Ø                  ser substantivos

Ø                  ser introduzidos por “organizadores avançados” (ideias que vão sendo lançadas ao longo do processo de ensino/ aprendizagem, que “antecipam” e facilitam a introdução posterior do conceito)

Ø                  ser programado em séries hierárquicas

Uma das estratégias de ensino proposta por Ausubel (e Novak) consiste na utilização dos mapas de conceitos.

8.      Mapas de conceitos

Nos mapas de conceitos, estes são hierarquizados em níveis de inclusibilidade, do mais geral para o particular, encontrando-se relacionados e diferenciados.

  Note-se que este modelo do desenvolvimento conceitual progressivo é inverso relativamente ao de Gagné.

In “Apontamentos de Didáctica da Física I” (Física-FCUP), Adriano Sampaio e Sousa, Porto, 2000.