sexta-feira, 13 de julho de 2012

Edição Especial de Aniversário

Doze contos acumulativos

O macaco e o rabo (1)

Um macaco uma vez pensou em fazer fortuna. Para isso foi-se colocar por onde tinha de passar um carreiro com seu carro. O macaco estendeu o rabo pela estrada por onde deviam passar as rodeiras do carro. O carreiro, vendo isso, disse:
— Macaco, tira teu rabo do caminho, eu quero passar.
— Não tiro, — respondeu o macaco.
O carreiro tangeu os bois, e o carro passou por cima do rabo do macaco, e cortou-o fora. O macaco, então, fez um barulho muito grande:
— Eu quero meu rabo, ou então dê-me uma navalha…
O carreiro lhe deu uma navalha, e o macaco saiu muito alegre a gritar:
— Perdi meu rabo! Ganhei uma navalha!… Tinglin, tingilin, que vou para Angola!…
Seguiu. Chegando adiante, encontrou um negro velho, fazendo cestas e cortando os cipós com o dente.
O macaco:
— Oh, amigo velho, coitado de você! Ora, está cortando os cipós com o dente… tome esta navalha.
O negro aceitou, e quando foi partir um cipó, quebrou-se a navalha. O macaco abriu a boca no mundo e pôs-se a gritar:
— Eu quero minha navalha, ou então me dê um cesto!
O negro velho lhe deu um cesto e ele saiu muito contente gritando:
— Perdi meu rabo, ganhei uma navalha, perdi minha navalha, ganhei um cesto… Tinglin, tinglin, que vou pra Angola!
Seguiu. Chegando adiante, encontrou uma mulher fazendo pão e botando na saia.
— Ora, minha sinhá, fazendo pão e botando na saia! Aqui está um cesto.
A mulher aceitou, e, quando foi botando os pães dentro, caiu o fundo do cesto. O macaco abriu a boca no mundo e pôs-se a gritar:
— Eu quero o meu cesto, quero o meu cesto, senão me dê um pão!
A mulher deu-lhe o pão, e ele saiu muito contente a dizer:
— Perdi meu rabo, ganhei uma navalha, perdi minha navalha, ganhei um cesto, perdi meu cesto, ganhei um pão… Tinglin, tinglin, que vou pra Angola!
E foi comendo o pão.


Colhido por Sílvio Romero, em Sergipe.
*

O macaco e o rabo (2)
ma ocasião achavam-se na beira da estrada um macaco e uma cotia e vinha passando na mesma estrada um carro de bois cantando. O macaco disse para a cotia:
— Tira o teu rabo da estrada, senão o carro passa e corta.
Embebido nesta conversa, não reparou o macaco que ele é que corria o maior risco, e veio o carro e passou em riba do rabo dele e cortou. Estava um gato escondido dentro de uma moita, saltou no pedaço do rabo do macaco e correu. Correu também o macaco atrás, pedindo o seu pedaço de rabo. O gato disse:
— Só te dou, se me deres leite.
— Onde tiro leite? — disse o macaco.
Respondeu o gato:
— Pede à vaca.
O macaco foi à vaca e disse:
— Vaca, dá-me leite para dar ao gato, para o gato dar-me o meu rabo.
— Não dou; só se me deres capim. — disse a vaca.
— Donde tiro capim?
— Pede à velha.
— Velha, dá-me capim, para eu dar à vaca, para a vaca dar-me leite, o leite para o gato me dar o meu rabo.
— Não dou; só se me deres uns sapatos.
— Donde tiro sapatos?
— Pede ao sapateiro.
— Sapateiro, dá-me sapatos, para eu dar à velha, para a velha me dar capim, para eu dar à vaca, para a vaca me dar leite, para eu dar ao gato, para o gato me dar o meu rabo.
— Não dou; só se me deres cerda.
— Donde tiro cerda?
— Pede ao porco.
— Porco, dá-me cerda, para eu dar ao sapateiro, para me dar sapatos, para eu dar à velha, para me dar capim, para eu dar à vaca, para me dar leite, para eu dar ao gato, para me dar o meu rabo.
— Não dou; só se me deres chuva.
— Donde tiro chuva?
— Pede às nuvens.
— Nuvens, dai-me chuva, para o porco, para dar-me cerda para o sapateiro, para dar-me sapatos para dar à velha, para me dar capim para dar à vaca, para dar-me leite para dar ao gato, para dar meu rabo…
— Não dou; só se me deres fogo.
— Donde tiro fogo?
— Pede às pedras.
— Pedras, dai-me fogo, para as nuvens, para a chuva para o porco, para cerda para o sapateiro, para sapatos para a velha, para capim para a vaca, para leite para o gato, para me dar meu rabo.
— Não dou; só se me deres rios.
— Donde tiro rios?
— Pede às fontes
— Fontes, dai-me rios, os rios ser para as pedras, as pedras me dar fogo, o fogo ser para as nuvens, as nuvens me dar chuvas, as chuvas ser para o porco, o porco me dar cerda, a cerda ser para o sapateiro, o sapateiro fazer os sapatos, os sapatos ser para a velha, a velha me dar capim, o capim ser para a vaca, a vaca me dar o leite, o leite ser para o gato, o gato me dar meu rabo.
Alcançou o macaco todos os seus pedidos. O gato bebeu o leite, entregou o rabo. O macaco não quis mais, porque o rabo estava podre.

Colhido por Sílvio Romero, em Pernambuco.

*

A formiguinha e a neve

Pois é, uma formiguinha gostava muito de fofoca, gostava muito de conversar. Aí, ela, no tempo frio, no tempo de geada, — e toda formiga também gosta muito de carregar, gosta muito de roubar, não é? — ela ia no moinho roubar fubá. Aí quando ela já evinha embora, já com frio, aí a geada prendeu o pezinho dela com o bolinho de fubá dela na cabeça, não é?
Aí o sol veio, derreteu a geada, ela foi em casa, guardou o fubazinho dela e em vez de mexer o anguzinho dela, não, foi tirar pergunta.
Aí foi na casa do sol:
— Ô sol, você é tão forte que você derreteu a geada que estava presa no meu pezinho!
Aí o sol respondeu pra ela:
— Eu sou tão forte que a nuvem me tapa!
Ela foi na casa da nuvem:
— Ô nuvem, como você é tão forte que você tapa o sol e o sol derreteu a geada que prendeu o meu pezinho?
Aí a nuvem falou:
— Eu sou tão forte que o vento me toca.
Ela foi na casa do vento:
— Ô vento, como você é tão forte que sopra a nuvem, a nuvem tapa o sol, o sol derreteu a geada que estava prendendo o meu pezinho?
Aí o vento falou:
— Eu sou tão forte que a casa me tapa.
Aí ela foi na casa:
— Ô casa, como você é tão forte que você tapa o vento, o vento toca a nuvem, a nuvem tapa o sol, o sol derreteu a geada que estava prendendo o meu pezinho?
Aí a casa:
— Eu sou tão forte que o rato me fura.
Aí ela foi na casa do rato:
— Ô rato, como você é tão forte que você fura a casa, a casa tapa o vento, o vento toca a nuvem, a nuvem tapa o sol, o sol derreteu a geada que estava presa no meu pezinho?
Aí o rato falou:
— Eu sou tão forte que o cachorro me pega.
Aí ela foi na casa do cachorro:
— Ô cachorro, como você é tão forte que você pega o rato, o rato fura a parede, a parede tapa o vento, o vento toca a nuvem, a nuvem tapa o sol, o sol derreteu a geada que estava presa no meu pezinho?
Aí o cachorro falou:
— Eu sou tão forte que a onça me pega.
Aí ela foi na casa da onça:
— Ô onça, como você é tão forte que você pega o cachorro, o cachorro pega o gato, o gato pega o rato, o rato fura a parede, a parede tapa o vento, o vento toca a nuvem, a nuvem tapa o sol, o sol derreteu a geada que estava presa no meu pezinho?
Aí ela disse:
— Eu sou tão forte que o caçador me mata.
Aí ela começou a ficar brava:
— Ô caçador, como você é tão forte que você pega a onça, a onça pega o cachorro, o cachorro pega o gato, o gato pega o rato, o rato fura a parede, a parede tapa o vento, o vento toca a nuvem, a nuvem tapa o sol, o sol derreteu a geada que estava presa no meu pezinho?
Aí o caçador:
— Eu sou tão forte que a morte me mata.
Aí ela falou para a morte:
— Ô morte (gritando já), como você é tão forte que você mata o caçador, o caçador mata a onça, a onça pega o cachorro, o cachorro pega o gato, o gato pega o rato, o rato fura a parede, a parede tapa o vento, o vento toca a nuvem, a nuvem tapa o sol e o sol derreteu a geada que estava presa no meu pezinho?
Aí a morte:
— Eu sou tão forte que te mato.
Plat! Passou o pé nela, matou ela e pronto.
Ela não comeu o anguzinho dela, não é? ficou só tirando pergunta. Se ela fosse comer o anguzinho dela, quietinha, ela tinha enchido a barriga dela e não tinha morrido.
Informante: Luzia Maria Santana.

*

História da coca

Uma vez um menino foi passear no mato e apanhou uma coca; chegando em casa, deu-a de presente à avó, que a preparoiu e comeu.
Mais tarde, sentiu o menino fome e voltou para buscar a coca, cantando:
Minha vó, me dê minha coca
Coca que o mato me deu
Minha vó comeu minha coca
Coca recoca que o mato me deu
A avó, que já havia comido a coca, deu-lhe um pouco de angu.
O menino ficou com raiva, jogou o angu na parede e saiu. Mais tarde, arrependeu-se e voltou, cantando:
Parede, me dê meu angu
Angu que minha vó me deu
Minha vó comeu minha coca
Coca recoca que o mato me deu
A parede, não tendo mais o angu, deu-lhe um pedaço de sabão.
O menino andou, andou, encontrou uma lavadeira lavando roupa sem sabão e disse-lhe: — Você lavando roupa sem sabão, lavadeira? Tome este pra você.
Dias depois, vendo que a sua roupa estava suja, voltou para tomar o sabão, cantando:
Lavadeira, me dê meu sabão
Sabão que a parede me deu
Parede comeu meu angu
Angu que minha vó me deu
Minha vó comeu minha coca
Coca recoca que o mato me deu
A lavdeira já havia gasto o sabão: deu-lhe então uma navalha.
Adiante, encontrando um cesteiro cortando o cipó com os dentes. Disse-lhe: — Você cortando o cipó com os dentes?... Tome esta navalha.
O cesteiro ficou muito contente e aceitou a navalha.
No dia seguinte, sentindo o menino a barba grande, arrependeu-se de ter dado a navalha (ele sempre se arrependia de dar as coisas) e voltou para buscá-la, cantando:
Cesteiro me dê minha navalha
Navalha que lavadeira me deu
Lavadeira gastou meu sabão
Sabão que parede me deu
Minha vó comeu minha coca
Coca recoca que o mato me deu
O cesteiro, tendo quebrado a navalha, deu-lhe, em paga um cesto.
Recebeu o cesto e saiu dizendo consigo: — Que é que eu vou fazer com este cesto?
No caminho, encontrando um padeiro fazendo pão e colocando-o no chão, deu-lhe o cesto. Mais tarde, precisou do cesto e voltou para buscá-lo com a mesma cantiga.
Padeiro me dê meu cesto
Cesto que o cesteiro me deu
O cesteiro quebrou minha navalha
Navalha que a lavadeira me deu
Lavadeira gastou meu sabão
Sabão que parede me deu
Minha vó comeu minha coca
Coca recoca que o mato me deu
O padeiro, que tinha vendido o pão com o cesto, deu-lhe um pão.
Saiu o menino com o pão, e, depois de muito andar, não estando com fome, deu o pão a uma moça, que encontrou tomando café puro.
Depois, sentindo fome, voltou para pedir o pão à moça e canta:
Moça me dê meu pão
Pão que o padeiro me deu
O padeiro vendeu meu cesto
Cesto que cesteiro me deu
O cesteiro quebrou minha navalha
Navalha que a lavadeira me deu
Lavadeira gastou meu sabão
Sabão que parede me deu
Minha vó comeu minha coca
Coca recoca que o mato me deu
A moça havia comido o pão; não tendo outra coisa para lhe dar, deu-lhe uma viola.
O menino ficou contentíssimo; subiu com a viola numa árvore e se pôs a cantar:
De uma coca fiz angu
De angu fiz sabão
De sabão fiz uma navalha
Duma navalha fiz um cesto
De um cesto fiz um pão
De um pão fiz uma viola
Dinguelingue que eu vou para Angola
*

O macaco e o confeito
Macaco guariba foi lavar a casa e achou um vintém. Comprou um vintém de confeito, subiu no pau, e lá ficou comendo. Mas macaco não tem modos, pula daqui, pula dali, acabou derrubando o confeitinho dentro de um oco da árvore. Enfiou a mão, pelejou para tirar, não conseguiu, foi direto dali para o ferreiro e pediu que lhe fizesse um machado, para tirar o confeito do buraco.
— Sem dinheiro não faço machado nenhum.
— Faz — gritou o macaco — Vou contar ao rei.
Foi. Entrou no palácio, dando pulos e fazendo micagens e tropelias.
— Senhor rei — pediu —, mande o ferreiro fazer um machado, que eu quero cortar o pau para tirar o confeito que caiu no oco.
O rei, nem como coisa. O macaco foi falar com a rainha:
— Senhora rainha, mande o rei mandar o ferreiro fazer um machado, que eu quero cortar o pau e tirar meu confeito que caiu no oco.
— Mas é petulante esse macaco — disse a rainha, e não fez caso dele.
O macaco foi falar com o rato.
— Rato, roa a roupa da rainha, para ela mandar o rei mandar o ferreiro fazer um machado, que eu quero cortar o pau e tirar meu confeitinho que caiu no oco.
— Macaco mais bobo! — comentou o rato. Estava comendo queijo e nem se incomodou.
O macaco foi falar com o gato.
— Gato, mande o rato roer a roupa da rainha, para ela mandar o rei mandar o ferreiro fazer um machado, que eu quero cortar o pau e tirar meu confeitinho que caiu no oco.
— Que besteira! — disse o gato, e nem se mexeu.
O macaco foi falar com o cachorro.
— Cachorro, mande o gato mandar o rato roer a roupa da rainha, para ela mandar o rei mandar o ferreiro fazer um machado, que eu quero cortar o pau e tirar o meu confeitinho que caiu no oco.
O cachorro deu um latido de impaciência e nem se incomodou.
O macaco foi falar com o cacete.
— Cacete, mande o cachorro mandar o gato mandar o rato roer a roupa da rainha, para ela mandar o rei mandar o ferreiro fazer um machado, que eu quero cortar o pau e tirar o meu confeito que caiu no oco.
— Ah! Ah! — fez o cacete.
O macaco foi falar com o fogo.
— Fogo, mande o cacete mandar o cachorro mandar o gato mandar o rato roer a roupa da rainha, para ela mandar o rei mandar o ferreiro fazer um machado, que eu quero cortar o pau e tirar o meu confeitinho que caiu no oco.
— Saia daqui — disse o fogo.
— O macaco foi falar com a água.
— Água, mande o fogo mandar o cacete mandar o cachorro mandar o gato mandar o rato roer a roupa da rainha, para ela mandar o rei mandar o ferreiro fazer um machado, que eu quero cortar o pau e tirar o meu confeitinho que caiu no oco.
— Bicho impertinente! — xingou a água.
O macaco foi falar com o boi.
— Boi, mande a água mandar o fogo mandar o cacete mandar o cachorro mandar o gato mandar o rato roer a roupa da rainha, para ela mandar o rei mandar o ferreiro fazer um machado, que eu quero cortar o pau e tirar o meu confeitinho que caiu no oco.
— Suma da minha vista — disse o boi, e continuou ruminando o seu capim.
O macaco foi falar com o homem.
— Homem, mande o boi mandar a água mandar o fogo mandar o cacete mandar o cachorro mandar o gato mandar o rato roer a roupa da rainha, para ela mandar o rei mandar o ferreiro fazer um machado, que eu quero cortar o pau e tirar o meu confeitinho que caiu no oco.
O homem resmungou:
— Hum!
O macaco foi falar com a morte. Lá estava ela no seu trono de ossos, pavorosa.
— Morte, mande o homem mandar o boi mandar a água mandar o fogo mandar o cacete mandar o cachorro mandar o gato mandar o rato roer a roupa da rainha, para ela mandar o rei mandar o ferreiro fazer um machado, que eu quero cortar o pau e tirar o meu confeitinho que caiu no oco.
A morte, que não estava de bom humor, pegou a foice e avançou no homem.
— Não me mate!
— Então abata o boi!
O homem foi pra cima do boi.
— Não me abata, homem!
— Então beba a água.
— Não me beba — disse a água.
— Então apague o fogo.
— Não me apague — disse o fogo.
— Então queime o cacete.
— Não me queime — disse o cacete.
— Então bata no cachorro.
— Não me bata — uivou o cachorro.
— Então morda o gato.
— Não me morda — miou o gato.
— Então morda o rato.
— Não me morda — guinchou o rato.
— Então roa a roupa da rainha.
O ratinho subiu no guarda-roupa da rainha e foi no vestido mais bonito: roquerroquerroque…
A rainha gritou:
— Não roa a minha roupa!
— Então mande o rei mandar o ferreiro fazer um machado para o macaco cortar o pau e tirar o confeitinho que caiu no oco.
A rainha mandou o rei, o rei mandou o ferreiro, o ferreiro fez o machado. O macaco derrubou a árvore, abriu o tronco, achou o confeitinho e foi embora dando pulos e fazendo trejeitos.

*

O menino e a vó gulosa

O menino só possuía um guiné. Numa ocasião de necessidade matou o guinezinho e saiu pra adquirir farinha. Quando voltou, a avó, que morava com ele, comera o guinezinho inteiro. O menino reclamou muito e avó lhe deu um machadinho.
Saiu o menino pela estrada e encontrou o pica-pau furando uma árvore com o bico.
— Pica-pau! Não se usa mais o bico para cortar pau. Usa-se um machadinho como esse…
— Oh! Menino! Empreste-me o machadinho.
O menino emprestou o machadinho ao pica-pau e este tanto bateu que o quebrou.
O menino recomeçou a choradeira:
— Pica-pau, quero meu machadinho que minha avó me deu, matei meu guinezinho e minha avó comeu.
O pica-pau deu ao menino um cabacinho de mel de abelhas. O menino continuou a viagem e lá adiante viu o papa-mel lambendo um barreiro que só tinha lama.
— Papa-mel! Não se usa mais beber lama. Usa-se beber um melzinho como esse…
— Oh! Menino! Me dê um pouquinho desse mel!
Que pouquinho foi esse que o papa-mel engoliu todo o mel e ainda quebrou o cabacinho. O menino abriu a boca no mundo, berrando. O papa-mel presenteou-o com uma linda pena de pato. O menino seguiu.
Lá na frente encontrou um escrivão escrevendo com uma pena velha e estragada.
— Escrivão! Não se usa mais escrever com uma pena estragada como essa e sim com uma boa e novinha como esta aqui…
— Oh! Menino! Empresta-me tua pena…
O bobo do menino emprestou a pena. Num instante o escrivão estragou a pena. O menino cai no prato. O escrivão lhe deu uma corda.
Depois de muito andar, o menino avistou um vaqueiro tentando laçar um boi com um cipó do mato.
— Vaqueiro! Não se usa mais laçar boi com cipó e sim com uma corda como essa.
— Oh! Menino! Me empresta essa corda.
O menino, vai, emprestou. Num minuto o vaqueiro laçou o boi mas rebentou a corda.
Novo chororô do menino. O vaqueiro lhe deu um boi.
O menino viu a onça, uma enorme, comento um resto de carniça.
— Onça! Não se usa mais comer carniça e sim um boi como esse meu!
— Oh! Menino! Me dê o seu boi!
E comeu o boi. O menino ficou no soluço, choramingando e pedindo o boi:
— Onça, me dê meu boi que o vaqueiro me deu; o vaqueiro quebrou minha cordinha, a cordinha que o escrivão me deu; o escrivão quebrou minha peninha, a peninha que o papa-mel me deu; o papa-mel bebeu meu melzinho, o melzinho que o pica-pau me deu; pica-pau quebrou meu machadinho, o machadinho que minha avó me deu; matei meu guinezinho e minha avó comeu!
A onça como não tinha coisa alguma para dar ao menino, disse, rosnando:
— O boi foi pouco e vou comer você!
E comeu o menino.

*

A formiguinha


Diz que era um dia que era uma formiguinha, foi comer pela manhã. Quando ela estava comendo, a neve pegou o pé. Ela disse:
— Neve, tu é tão valente
Que o meu pé prende?
A neve disse:
— Mais valente é o sol
Que me derrete
Ela foi à procura do sol:
— Ó, sol, tu é tão valente
Que derrete a neve
Que o meu pé prende?
O sol disse:
— Mais valente é a parede
Que me encobre
Ela foi para a parede:
— Ô, parede, tu é tão valente
Que encobre o sol
O sol derrete a neve
E a neve o meu pé prende?
A parede disse:
— Mais valente é o rato
Que me rói
Ela foi à procura do rato:
— Ô, rato, tu é tão valente
Que rói a parede
A parede encobre o sol
O sol derrete a neve
E a neve o meu pé prende?
O rato disse:
— Mais valente é o gato
Que me come
A formiguinha disse:
— Ô gato, tu é tão valente
Que come o rato
O rato rói a parede
A parede encobre o sol
O sol derrete a neve
E a neve que o meu pé prende?
Ele disse:
— Mais valente é a cobra
Que me morde
— Ô, cobra, tu é tão valente
Que morde o gato
O gato que come o rato
O rato que rói a parede
A parede que encobre o sol
O sol que derrete a neve
E a neve que o meu pé prende?
— Mais valente é o pau
Que me mata
— Ô, pau, tu é tão valente
Que mata a cobra
A cobra que morde o gato
O gato que come o rato
O rato que rói a parede
A parede que encobre o sol
O sol que derrete a neve
E a neve que o meu pé prende?
— Mais valente é o fogo
Que me queima
— Ô, fogo, tu é tão valente
Que queima o pau
O pau que mata a cobra
A cobra que morde o gato
O gato que come o rato
O rato que rói a parede
A parede que encobre o sol
O sol que derrete a neve
A neve que o meu pé prende
— Mais valente é a água
Que me apaga
— Ô, água, tu é tão valente
Que apaga o fogo
O fogo queima o pau
O pau que mata a cobra
O gato que come o rato
O rato que rói a parede
A parede que encobre o sol
O sol que derrete a neve
A neve que o meu pé prende?
— Mais valente é o boi
Que me bebe
— Ô, boi, tu é tão valente
Que bebe a água
A água apaga o fogo
O fogo que queima o pau
O pau que mata a cobra
A cobra que morde o gato
O gato que come o rato
O rato que rói a parede
A parede que encobre o sol
O sol que derrete a neve
E a neve que o meu pé prende?
— Mais valente é o homem
Que me mata
— Ô, homem, tu é tão valente
Que mata o boi
O boi que bebe a água
A água que apaga o fogo
O fogo que queima o pau
O pau que mata a cobra
A cobra que morde o gato
O gato que come o rato
O rato que rói a parede
A parede que encobre o sol
O sol que derrete a neve
E a neve que o meu pé prende?
— Mais valente é Deus
Que me criou
— Ô, Deus, vós é tão valente
Que mata o homem
O homem que mata o boi
O boi que bebe a água
A água que apaga o fogo
O fogo que queima o pau
O pau que mata a cobra
A cobra que morde o gato
O gato que come o rato
O rato que rói a parede
A parede que encobre o sol
O sol que derrete a neve
E a neve que o meu pé prende?
Ele disse:
— Ô xente!... que desaforo você vim aqui...
Aí Deus pegou, deu um cocorote — pá! — na cabeça da formiguinha... se retorceu toda, quando caiu em baixo... esses formigueiros todos que têm pelo mundo foi gerado dessa formiguinha.
Versão procedente de Maruim, SE, colhida em Aracaju, em 14 de abril de 1972. Informante: Dona Caçula.

*

Uma história sem fim

Um fazendeiro muito rico tinha um bando de patos em número que não se podia contar. Numa manhã, o menino encarregado de levar os patos para a lagoa encontrou o córrego cheio d’água, das chuvas caídas na noite anterior. Como era preciso chegar à lagoa, o menino levou os patos para o córrego e obrigou-os a atravessar o riachinho.
— E então?
— Os patos começaram nadando, nadando, atravessando o córrego.
— E então?
— Deixe os patos atravessarem o córrego.
— E depois?
— Deixe os patos atravessarem o córrego.
— E depois?
— Deixe os patos atravessarem o córrego...
— E depois?

*

A casa que Pedro fez

Esta é a casa que Pedro fez.
Este é o trigo que está na casa que Pedro fez.
Este é o rato que comeu o trigo que está na casa que Pedro fez.
Este é o gato que matou o rato que comeu o trigo que está na casa que Pedro fez.
Este é o cão que espantou o gato que matou o rato que comeu o trigo que está na casa que Pedro fez.
Esta é a vaca de chifre torto que atacou o cão que espantou o gato que matou o rato que comeu o trigo que está na casa que Pedro fez.
Esta é a moça mal vestida que ordenhou a vaca de chifre torto que atacou o cão que espantou o gato que matou o rato que comeu o trigo que está na casa que Pedro fez.
Este é o moço todo rasgado, noivo da moça mal vestida que ordenhou a vaca de chifre torto que atacou o cão que espantou o gato que matou o rato que comeu o trigo que está na casa que Pedro fez.
Este é o padre de barba feita que casou o moço todo rasgado, noivo da moça mal vestida que ordenhou a vaca de chifre torto que atacou o cão que espantou o gato que matou o rato que comeu o trigo que está na casa que Pedro fez.
Este é o galo que cantou de manhã que acordou o padre de barba feita que casou o moço todo rasgado, noivo da moça mal vestida que ordenhou a vaca de chifre torto que atacou o cão que espantou o gato que matou o rato que comeu o trigo que está na casa que Pedro fez.
Este é o fazendeiro que espalhou o milho para o galo que cantou de manhã que acordou o padre de barba feita que casou o moço todo rasgado, noivo da moça mal vestida que ordenhou a vaca de chifre torto que atacou o cão que espantou o gato que matou o rato que comeu o trigo que está na casa que Pedro fez.

*

A bota
Meus senhores, eu sou a bota
Meus senhores, eu sou a bota
Que leva a vidinha fazendo patota
Que leva a vidinha fazendo patota
Meus senhores, eu sou a porta
Meus senhores, eu sou a porta
Que leva a vidinha fazendo patota
Que leva a vidinha fazendo patota
Meus senhores, eu sou a corda
Meus senhores, eu sou a corda
Que marre a bota e botei na porta
Que leva a vidinha fazendo patota
Que leva a vidinha fazendo patota
Meus senhores, eu sou o sebo
Meus senhores, eu sou o sebo
Que passe na corda, que marre a bota
Que botei na porta
Que leva a vidinha fazendo patota
Que leva a vidinha fazendo patota
Meus senhores, eu sou o rato
Meus senhores, eu sou o rato
Que roeu o sebo, que passe na corda
Que marre a bota, que botei na porta
Que leva a vidinha fazendo patota
Que leva a vidinha fazendo patota
Meus senhores, eu sou o gato
Meus senhores, eu sou o gato
Que comeu o rato, que roeu o sebo
Que passe na corda, que marre a bota
Que botei na porta
Que leva a vidinha fazendo patota
Que leva a vidinha fazendo patota
Meus senhores, eu sou o cachorro
Meus senhores, eu sou o cachorro
Que comeu o gato, que matou o rato
Que roeu o sebo, que passe na corda
Que marre a bota, que botei na porta
Que leva a vidinha fazendo patota
Que leva a vidinha fazendo patota
Meus senhores, eu sou o pau
Meus senhores, eu sou o pau
Que matou o cachorro, que comeu o gato
Que matou o rato, que roeu o sebo
Que passe na corda, que marre a bota
Que botei na porta
Que leva a vidinha fazendo patota
Que leva a vidinha fazendo patota
Meus senhores, eu sou o facão
Meus senhores, eu sou o facão
Que cortô o pau, que mata o cachorro
Que comeu o gato, que matou o rato
Que roeu o sebo, que passe na corda
Que marre a bota, que botei na porta
Que leva a vidinha fazendo patota
Que leva a vidinha fazendo patota
Meus senhores, eu sou a mulher
Meus senhores, eu sou a mulher
Que pega o facão, que cortô o pau
Que matou o cachorro, que comeu o gato
Que matou o rato, que roeu o sebo
Que passe na corda, que marre a bota
Que botei na porta
Que leva a vidinha fazendo patota
Que leva a vidinha fazendo patota
Meus senhores, eu sou o homem
Meus senhores, eu sou o homem
Que vou dar na mulher, que pegou o facão
Que corto o pau, que mato o cachorro
Que comeu o gato, que matou o rato
Que roeu o sebo, que passe na corda
Que marre a bota, que botei na porta
Que leva a vidinha fazendo patota
Que leva a vidinha fazendo patota
*

Outra história sem fim

Era uma vez, três, um polaco e um português. O polaco puxou a faca, o português arrepiou. Pensa que matou? Não. Vou contar o que se passou...
Era uma vez, três, um polaco e um português. O polaco puxou a faca, o português arrepiou. Pensa que matou? Não. Vou contar o que se passou...

*

A morte de dom Ratinho

Dom Ratinho morreu
Dona Carochinha chorou
A porta abriu e fechou
A laranjeira desfolhou-se
O passarinho depenou-se
O cavalo perdeu o pelo
O boi perdeu o chifre
O rio secou a água
O menino quebrou o pote
E o mestre passou-lhe bolos
O que tendes minha porta
Perguntou a laranjeira
Que estais abrindo e fechando?
Pois não, minha laranjeira:
Dom Ratinho morreu
Dona Carochinha chorou
A porta abriu e fechou...
E responde a laranjeira:
E eu também de sentimento
Deixo cair minhas folhas
Vem o passarinho e pergunta:
O que tendes, laranjeira
Que estais tão desfolhada?
Pois não, meu passarinho
Dom Ratinho morreu
Dona Carochinha chorou
A porta abriu e fechou
E eu assim me desfolhei
Respondeu o passarinho:
E eu também de sentimento
Deixarei as minhas penas
Vem o cavalo e perguntou:
O que tendes laranjeira
Qu’inda ontem tão folhada
E hoje tão desfolhada?
E por que não, meu cavalo?
Dom Ratinho morreu
Dona Carochinha chorou
A porta abriu e fechou
A laranjeira desfolhou-se
E o passarinho depenou-se
Responde agora o cavalo:
E eu também de sentimento
Deixo cair o meu pelo
Vem o boi e pergunta:
O que tendes laranjeira
Que estais tão desfolhada?
E por que não, meu boi
Dom Ratinho morreu
Dona Carochinha chorou
A porta abriu e fechou
A laranjeira desfolhou-se
E o passarinho depenou-se
E o cavalo perdeu o pelo
Respondeu então o boi:
E eu também de sentimento
Deixo cair o meu chifre
Passa o rio e pergunta:
O que tendes laranjeira
Que estais tão desfolhada?
E ela responde ao rio:
Dom Ratinho morreu
Dona Carochinha chorou
A porta abriu e fechou
A laranjeira desfolhou-se
O passarinho depenou-se
O cavalo perdeu o pelo
E o boi perdeu o chifre
Respondeu então o rio:
E eu também de sentimento
Secarei as minhas águas
Vem o menino buscar água
E não a vendo isto pergunta:
O que tendes belo rio
Que ainda ontem tão cheio
E hoje assim tão sequinho?
E o rio respondeu:
Por que não, caro menino?
Dom Ratinho morreu
Dona Carochinha chorou
A porta abriu e fechou
A laranjeira desfolhou-se
O passarinho depenou-se
O cavalo perdeu o pelo
O boi perdeu o chifre
E o rio secou as águas
Responde então o menino:
E eu também de sentimento
O meno pote vou quebrar
Chega o menino à escola
E não levando o pote d’água
Por ele pergunta o mestre
E o menino assim responde:
Dom Ratinho morreu
Dona Carochinha chorou
A porta abriu e fechou
A laranjeira desfolhou-se
O passarinho depenou-se
O cavalo perdeu o pelo
O boi perdeu o chifre
E o rio secou as águas
E eu quebrei o meu pote
Então respondeu o mestre
Cheio de raiva e rancor:
E eu também de sentimento
Lasco-lhe as mãos de bolos

*

(As duas versões de O macaco e o rabo estão em Romero, Sílvio. Contos populares do Brasil. Rio de Janeiro, Livraria José Olímpio Editora, 1954 (Coleção Documentos Brasileiros). A formiguinha e a neve veio de Frade, Cáscia (org.) Contos populares fluminenses. Rio de Janeiro, Secretaria de Estado de Cultura; INEPAC, sd, v.1, p.13-16; A história da coca foi publicada por Pedreira, Ester. "História da coca". Revista Brasileira de Folclore, ano 11, nº 31, Rio de Janeiro, setembro/dezembro de 1971, p.319-322; O macaco e o confeito, versão de Guimarães, Ruth (org.). Lendas e fábulas do Brasil. Clássicos da infância. São Paulo, Círculo do Livro, sd; O menino e a vó gulosa foi registrado por Cascudo, Luís da Câmara. Contos tradicionais do Brasil. Belo Horizonte; São Paulo, Itatiaia, Editora da Universidade de São Paulo, 1986. Reconquista do Brasil, 2ª série, 96; A formiguinha é de Lima, Jackson da Silva. O folclore em Sergipe; 1. Romanceiro. Rio de Janeiro, Livraria Cátedra; Brasília, Instituto Nacional do Livro, 1977, p.417-421; A casa que Pedro fez foi contada por Ruiz, Corina Maria Peixoto. Didática do folclore. Curitiba, Editora Arco-Íris, 1995; A bota está em Lima, Rossini Tavares de. Abecê do folclore. 4ª ed. São Paulo, Ricordi, sd, p.224-225; A morte de dom Ratinho foi colhida por Costa, F. A. Pereira da. Folclore pernambucano; subsídios para a história da poesia popular em Pernambuco. Recife, Arquivo Público Estadual, 1974)

quinta-feira, 12 de julho de 2012

Entrevista: Combater o Trabalho Infantil ainda é um desafio

Arte da Campanha lançada durante a conferência

Por Stephany Rodrigues Pinho, adolescente participante da cobertura Educomunicativa da Conferência Estadual dos Direitos da Criança e do Adolescente do Maranhão

Durante o Lançamento da Campanha Contra o Trabalho Infantil, a cobertura educomunicativa da Conferência Estadual ouviu duas integrantes do Fórum Estadual de Prevenção e Erradicaçao do Trabalho Infantil no Maranhão: Mônica Damous Duailibe, auditora fiscal do Trabalho do Ministério do Trabalho e Emprego e Luana Lima Duarte, procuradora do trabalho e integrante suplente da Coordenação da Infância do Ministério Público do Trabalho. A auditora fiscal, Monica Duailibe, abordou os dados da campanha e as situações de trabalho infantil vivenciada por milhões de crianças e adolescentes. Já a procuradora Luana Lima falou sobre direito à profissionalização e proteção ao trabalho, previsto no Estatuto da Criança e do Adolescente. Acompanhe abaixo a entrevista com as integrantes do Fepetima.

O que os dados da pesquisa mostram sobre o trabalho infantil no Maranhão?

Monica Duailibe:  Olha, nós temos avançado nos últimos quinze anos. Não só no Maranhão, mas no Brasil de forma geral, sobretudo no trabalho entre cinco e quinze anos. Mas o que acontece, apesar de nos termos reduzido em torno de 50% a quantidade de criança e adolescente em condições de trabalho, nós ainda temos algumas questões que nós chamamos de “núcleo duro do trabalho infantil”. E o que é esse núcleo do trabalho infantil?  É o trabalho infantil em regime de economia familiar, sobretudo no meio rural; é o trabalho infantil no comércio ambulante nos centros urbanos; é o trabalho infantil no ambiente doméstico, e aí afeta principalmente as meninas. E a situação ainda mais grave que é a exploração sexual de crianças e adolescentes. Então, nos tivemos grandes avanços, por exemplo, hoje, no setor formal da economia. Nos estabelecimentos formais, a incidência de trabalho infantil no Brasil hoje é muito pequena, é residual realmente. Porém, no conjunto, nós ainda temos essa incidência relativamente elevada, hoje está em torno de dois milhões de crianças, entre cinco e quinze anos, trabalhando em regime de economia familiar, nos centros rurais. Nós ainda temos muitas crianças e adolescentes trabalhando na economia informal nos centros urbanos.

É como enfrentar esta situação?

Monica Duailibe: Nestes casos, é difícil a atuação do Ministério do Trabalho, porque não vai ser uma politica de fiscalização, mas de assistência à família e a essas crianças e adolescentes. A atuação do Estado tem que ser no sentido de trazer essas crianças e adolescentes de volta pra família e viabilizar oportunidade de trabalho emprego para os membros adultos dessa família, de tal forma que não seja necessário que esses meninos e meninas retornem para a rua, para trabalhar no comércio ambulante, urbano, por exemplo.

Nós ainda temos um problema grave do trabalho infantil doméstico e nós não temos sequer dados precisos em relação a isso, mas nos sabemos que esse é um problema relevante, sobretudo no nordeste, onde atinge principalmente meninas. E nós temos a atividade criminosa que é a exploração sexual de crianças e adolescentes e esse é um problema realmente muito sério e que hoje o Estado brasileiro tem se debruçado sobre essa questão porque ela envolve inclusive crimes relacionados ao tráfico de pessoas, ao tráfico de entorpecentes e outras questões.

Como você explica o trabalho de adolescentes com carteira assinada?

Luana Lima Duarte: Em relação ao trabalho infantil, nos temos que distinguir o âmbito da infância e da adolescência: a criança ela tem direito ao não-trabalho e o adolescente tem direito a profissionalização. Dessa forma, em termos de legislação brasileira, nos temos o seguinte: até os 16 anos, a proibição do trabalho infantil é a regra. A partir dos 16 anos o trabalho é permitido parcialmente desde que observada toda a legislação trabalhista: carteira assinada, direitos previdenciários e que o trabalho não seja desenvolvido em determinadas atividades que são prejudiciais ao desenvolvimento psíquico, físico ou moral do adolescente.
Por exemplo, é proibido ao adolescente entre os 16 e 18 anos o trabalho perigoso, noturno, insalubre e, ainda, o trabalho incluído na lista de piores trabalhos infantis. O trabalho infantil doméstico, que é muito comum ainda e que é subnotificado. Temos o trabalho nas ruas, temos o trabalho em atividades ilícitas: a exploração sexual comercial, tráfico de drogas, utilização de crianças e adolescentes em atividades ilícitas, em trabalhos que sejam prejudiciais a moralidade, e ao desenvolvimento.

Ainda existe outra situação na qual o menor de 18 anos pode trabalhar: na condição de aprendiz, que é justamente para implementar esse direito a profissionalização. Pois o adolescente já está mais próximo de completar a idade mínima para o trabalho. Qual é a forma legal? A Constituição permite que o adolescente a partir dos 14 anos trabalhe na condição de aprendiz. Mas o que é essa condição de aprendiz?  É um contrato formal, com carteira assinada, onde lhe é garantido uma formação profissional metódica, que é ministrada por uma entidade reconhecida pelo Ministério do Trabalho e Emprego, que tem toda uma grade curricular voltada pra capacitação ao exercício de uma profissão no futuro. Então ele conjuga as duas coisas, a capacitação metódica, por uma instituição reconhecida e no Brasil. Os que têm maior destaque são SENAI, SENAC, os serviços sociais da indústria, do comercio, serviço de aprendizagem rural, entre outros. Aí, ele conjuga essa capacitação teórica com a prática na empresa. A empresa por sua vez tem que assinar a carteira, recolher o FGTS e observar toda a legislação trabalhista. É o tipo de trabalho em que o adolescente tem os seus direitos resguardados e que também proporciona o direito a profissionalização.

E qual o lugar da escola neste contexto?

Luana Lima Duarte: A escola é um espaço fundamental de conscientização em relação ao trabalho infantil. No âmbito do Ministério Público do Trabalho (MPT), reconhecendo está importância, nós temos um projeto chamado “MPT na Escola” que visa justamente levar este debate do combate ao trabalho infantil à sala de aula. Nós ministramos a capacitação para os professores e, ao longo do ano letivo, eles desenvolvem este tema na escola, juntamente com as crianças. As crianças e adolescentes precisam, enquanto sujeitos de direitos, ser conscientes de quais direitos eles são titulares. E também levar esta discussão à família, pois ela, muitas vezes, encara o trabalho infantil ou o trabalho irregular do adolescente, fora das situações em que é legalmente permitido, como uma alternativa para ajudar na subsistência. Mas a família tem que se conscientizar que o trabalho infantil e o trabalho proibido não são alternativas. Mas um fator de subtração, de negação de direitos. A família tem que entender que quando ela não pode prover estes direitos, ela tem que exigir do estado a implementação de políticas públicas de assistência e principalmente de geração de renda aos membros adultos para não transferir essa responsabilidade para a criança e ao adolescente.

segunda-feira, 9 de julho de 2012

ESTUDANDO GEOMETRIA

Geometria é a parte da Matemática que estuda as formas e as medidas. Iremos estudar as figuras geométricas e a relação existente entre os elementos existentes à nossa volta.

A Geometria tem um papel muito importante em nossa vida. Basta você verificar a grande quantidade de figuras geométricas com as quais precisamos lidar todos os dias, medindo e estabelecendo relações entre suas partes.

PONTO, ESPAÇO E PLANO

Daniel olhou pro céu. A primeira estrela brilhava. Era apenas um ponto na imensidão. Lembrou–se então de um professor de matemática com quem aprendeu muita coisa.

Ele dizia a seus alunos, que o ponto geométrico não possui dimensões, não tem comprimento, altura ou largura.

O professor Yuri explicou certa vez que GEOMETRIA é uma palavra proveniente do grego e significa “MEDIDA DE TERRA”. Ela surgiu pela necessidade do homem de entender melhor o mundo em que vive, as formas e dimensões dos corpos nele existentes.

A necessidade de melhorar o sistema de arrecadação de impostos das áreas rurais, fez com que os antigos egípcios dessem os primeiros passos para o desenvolvimento da disciplina.

Todos os anos o rio Nilo extravasava as margens e inundava toda região a sua volta, destruindo as marcas físicas de delimitação entre as possessões de terra. Dessa forma, havia conflitos entre indivíduos e comunidades sobre o uso dessa terra não delimitada.

Sem marcos fronteiriços, os agricultores e administradores de templos, palácios e demais unidades produtivas fundadas na agricultura não tinham referência clara do limite das suas possessões para poderem cultivá-la e pagarem os impostos devidos aos governantes.

Os antigos faraós resolveram passar a nomear funcionários, os agrimensores, cuja tarefa era avaliar os prejuízos das cheias e restabelecer as fronteiras entre as diversas posses. Foi assim que nasceu a geometria. Estes agrimensores, ou esticadores de corda (assim chamados devido aos instrumentos de medida e cordas entrelaçadas concebidas para marcar ângulos retos), acabaram por aprender a determinar as áreas de lotes de terreno dividindo-os em retângulos e triângulos.

Dessa forma, para ajudar a estabelecer os limites, foram determinados pontos os quais ajudavam na delimitação dos terrenos.

O conjunto de todos os pontos é denominado de pontos.

O espaço é denominado de plano.

O plano por sua vez, é um conjunto infinito de pontos.

Acredita-se em geral que a origem da geometria se situa no Egito, o que é natural, pois, para a construção das pirâmides e outros monumentos desta civilização, seriam necessários conhecimentos geométricos. Estudos mais recentes contrariam esta opinião e referem que os egípcios foram buscar aos babilônios muito do seu saber.

1. Você seria capaz de escrever um acróstico com a palavra GEOMETRIA?

G

E

O

M

E

T

R

I

A

2. Este é um geoplano com vários pontos. Usando sua criatividade, termine o desenho começado pela professora.

clip_image002

3. No desenho podemos identificar várias figuras geométricas. Observe o quadro e responda as questões a seguir:

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a) Quantos triângulos? ________________________

b) Quantos retângulos? ________________________

c) Quantos círculos? ________________________

d) Quantos quadrados? ________________________

4. Que outras formas você pode identificar?

LINHAS E CURVAS

Quando deslizamos um lápis sobre o papel, fazemos uma linha. Dependendo do movimento que fazemos, esta linha tem um nome diferente.

As linhas podem ser retas, curvas, onduladas ou mistas.

Em geometria, temos linhas simples e complexas.

Linhas simples são formadas por linhas retas e curvas.

Linhas complexas são formadas por linhas onduladas, quebradas e mistas.

Uma linha pode ter varias direções e sentidos e, em cada caso, expressa algo diferente.

Por exemplo:

A linha ondulada nos da a ideia de movimento, ritmo, graça.

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A linha quebrada nos da a ideia de ação, forca. É uma linha forte, agressiva.

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A linha mista nos da a ideia de retas e curvas que se combinam, representando uma variedade dessas linhas.

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CURVAS

clip_image011Considerando a figura abaixo, podemos dizer que representamos um caminho que vai do ponto A até o ponto B.

Se usássemos uma régua, estaríamos também representando um caminho que vai do ponto A até o ponto B.

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Na figura abaixo estão representadas três curvas. Qual delas é a mais curta?

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ATIVIDADES:

1. Cubra de amarelo as linhas retas e de vermelho as linhas curvas.

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clip_image0182. Pinte de roxo as linhas curvas e de verde as linhas retas.

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LINHAS ABERTAS E LINHAS FECHADAS

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A linha fechada é a fronteira. A fronteira que separa o interior do exterior

CURVAS SIMPLES: são aquelas que não têm cruzamentos.

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CURVAS NÃO SIMPLES: são aquelas que têm cruzamentos.

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AS CURVAS ABERTAS SIMPLES

Abertas sem cruzamentos

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ABERTAS NÃO SIMPLES

Abertas com cruzamentos.

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FECHADAS SIMPLES:

fechadas sem cruzamento

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FECHADAS NÃO SIMPLES:

fechadas com cruzamentos.

clip_image033

ATIVIDADES:

Observe as figuras e responda:

clip_image035

1. Quantos cruzamentos há na figura a? __________________________________

É uma curva _____________________________

2. Quantos cruzamentos há na figura b?

___________________________________

É uma curva _____________________________

3. Quantos cruzamentos há na figura c? ______

É uma curva _____________________________

4. Quantos cruzamentos há na figura d?

______________________________________

É uma curva _____________________________

5. Quantos cruzamentos há na figura d? ______

É uma curva _____________________________

ABERTAS NÃO SIMPLES

Abertas com cruzamentos.

clip_image036

FECHADAS SIMPLES:

fechadas sem cruzamento

clip_image037

FECHADAS NÃO SIMPLES:

fechadas com cruzamentos.

clip_image038

ATIVIDADES:

Observe as figuras e responda:

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1. Quantos cruzamentos há na figura a? __________________________________

É uma curva _____________________________

2. Quantos cruzamentos há na figura b?

___________________________________

É uma curva _____________________________

3. Quantos cruzamentos há na figura c? ______

É uma curva _____________________________

4. Quantos cruzamentos há na figura d?

______________________________________

É uma curva _____________________________

5. Quantos cruzamentos há na figura d? ______

É uma curva _____________________________

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