segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Avaliação

Quando pessoas envolvidas com a Educação se reúnem para refletir sobre a avaliação da aprendizagem, na maioria das vezes não conseguem avaliar o quanto essas discussões são importantes e que repercussões elas tem para muito além das paredes da sala de aulas e dos muros da escola. Em suma, são por meio das prosaicas provas, trabalhos e verificações da aprendizagem na escola que se vai forjando, progressivamente, uma cultura da avaliação diagnóstica (inclusiva) ou a da classificatória (excludente).

A reflexão sobre avaliação implica discutir as questões do ensinar e do aprender e as concepções subjacentes a esses conceitos.

Para Luckesi (1980) a “avaliação na sala de aula tem que estar para além do autoritarismo”, fundamentada numa concepção de conhecimento, sociedade e educação, que possibilite ampliar a compreensão do processo avaliativo para além da verificação. O autoritarismo da avaliação exclui um fazer com a responsabilidade pelo aprender. Ela não é para o professor, mas para a emancipação do educando.

Temos tantos estudos e propostas e não se percebe o sentido maior da avaliação; a aprendizagem do aluno, suas histórias e contexto sociocultural.

A avaliação deve estar presente em todos os momentos, balizando o antes, o durante e o depois da ação pedagógica. “A avaliação não é um fim em si (...) é uma engrenagem no funcionamento didático e mais globalmente, na seleção e na orientação escolares. Ela serve para controlar o trabalho dos alunos e simultaneamente, para gerir fluxos” (PERRENOUD, 1999).

Em sentido contrário, existe a concepção de avaliação que verifica performances, para classificar, no sentido de separar os “competentes” dos “incompetentes”. Seu objetivo é claro excluir.

Na verdade o que acontece, é uma confusão, veremos nessa breve trajetória.

No desempenho do Ensino Fundamental, descobriu-se que reprovação não é a solução, apesar de ser fenômeno e estar na origem da evasão e da distorção idade/série.

Depois imaginando que aprendizagem e frequência escolar se coincidiam. A Lei de Diretrizes e Base da Educação (LDB) mandou ampliar o ano letivo para 200 dias (a partir de 1997).

Para tal solução veio à proposta do “ciclo”, maneira flexível de organizar o percurso do Ensino Fundamental, em cada dois anos, o aluno avançaria sem problemas, dentro do seu ritmo pessoal. Não importando alfabetizar na 1ª. série, uma vez que se podia se entreter até a 2ª. , e, se ainda assim não fosse bem concluída, podia até mesmo a 4ª. série. Como vemos a boa intenção referia-se ao aluno em sua trajetória própria de aprendizagem, colocando-o no centro do processo não prazos e desempenhos fatais. Sendo que esta tese é reconhecida na literatura internacional (KOHN, 1999; SENGE, 2000; MAERROFF, 2003; DUFOUR/EAKER, 1998) e consagra o princípio de que escola precisa focar a aprendizagem do aluno obsessivamente, através da progressão continuada: o aluno deve poder ser aprovado série a série, natural e sequencialmente.

Em vez da progressão continuada o que veio foi à progressão automática, através da qual o aluno é empurrado para cima de qualquer maneira. Onde a aprendizagem do aluno já não é a obsessão da escola, mas a sua aprovação.

Como vemos, os resultados são desastrosos: reprova-se menos e aprende-se menos; têm-se mais aulas e aprende-se menos. Abusando da flexibilidade dos ciclos, estes se tornaram intermináveis e incontroláveis. Quase todos passam de ano, mas quase nada se aprendem. Alfabetizar na 1a. série, resultado normal de outros tempos, parece impossível. Respeitar o ritmo de cada um não pode significar ritmo nenhum. Segundo Grossi (apud Geempa, s.d.), a criança pode ser alfabetizada em três meses, desde que inserida em ambiente escolar adequado, principalmente que tenha a seus redores profissionais comprometidos.

O que temos de real é que tantos estudos e propostas e não se percebe o sentido maior da avaliação: o processo de ensino e de aprendizagem, como o aluno pensa. O pensar é uma forma de aprender.

A avaliação de que precisamos é aliada do aluno e do professor. Não se avalia para punir, classificar, selecionar e nem excluir, mas para incluir. A avaliação como inclusão não perde seu valor e a seriedade que a caracterizam. Pelo contrário, avalia-se para que realmente todos os alunos aprendam.

Em suma, a avaliação pode contribuir para que se rompa com o paradigma da transmissão de conhecimento e se desenvolva um paradigma em que o conhecimento é construído interativamente. Ou, ainda, para que o ensino uniforme dê lugar a um ensino diferenciado que responda às necessidades de todos e de cada um dos educando.

Publicado por Valeria Llacer

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