domingo, 10 de março de 2013

A paz se aprende na escola

A chance de construir um mundo sem violência está na mão dos professores, que criam condições para gerações e culturas diferentes dialogarem. Essa é uma das idéias de Ubiratan D Ambrosio, homem com um olhar para o futuro.

Transdisciplinaridade é uma palavra esquisita e guarda um conceito ainda novo para nossos ouvidos leigos, mas vem recebendo a atenção da academia há tempos. O professor Ubiratan D Ambrosio é um dos primeiros a falar disso no Brasil. "Trans" é mais que "multi". É para "além de". É um universo em que as disciplinas - matemática, literatura, geografia etc. - não só se complementam, mas principalmente incluem o indivíduo, o que sente e pensa. Nessa abordagem, a escola tem um papel fundamental na educação para a paz.

Professor emérito de matemática da Universidade Estadual de Campinas e, atualmente, da pós-graduação da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo e da Universidade de São Paulo, este paulistano do bairro do Brás é um resgatador de esperança. "Só quem pode surgir com o novo é o novo. E o novo são as crianças. Com elas, poderão vir as respostas que não encontramos", declara.

Professores reprovados

Os interesses corporativos voltaram a tumultuar o funcionamento da rede escolar pública de São Paulo, levando o início das aulas a ter de ser adiado para 16 de fevereiro e prejudicando, com isso, 5 milhões de alunos do ensino básico. O problema, desta vez, foi a prova de seleção dos professores temporários. No total, a rede pública necessita de 230 mil docentes e, como só há 130 mil concursados, são contratados 100 mil professores temporários. Este ano, para preencher as 100 mil vagas, a Secretaria Estadual da Educação realizou um teste em dezembro, para o qual se inscreveram 214 mil candidatos - entre eles a quase totalidade dos antigos professores temporários.
No entanto, em razão de divergências com relação ao conteúdo da prova e da resistência do Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado (Apeoesp), que se opõe a esse critério de seleção, alegando que os docentes temporários que já trabalham na rede escolar há muitos anos não poderiam ser "descartados" com base numa "provinha", o caso foi parar na Justiça. Para a entidade, a seleção deveria valorizar, basicamente, a titulação e o tempo de serviço dos atuais professores temporários.
A juíza Maria Gabriella Pavlopoulos Spaolonzi, da 13ª Vara da Fazenda Pública, concedeu a liminar pedida pela Apeoesp e suspendeu o resultado do exame. Com isso, cerca de 1,5 mil candidatos que receberam nota zero, por não terem acertado uma única questão do teste, mas que já estavam lecionando na rede pública estadual em 2008, foram autorizados a continuar dando aula em 2009. Segundo a secretária de Educação, Maria Helena Guimarães de Castro, se os resultados do teste não tivessem sido suspensos por determinação judicial, cerca de 50 mil dos atuais docentes temporários teriam sido substituídos por docentes fora da rede, que tiveram nota mais alta.
Ao justificar sua decisão, a juíza da 13ª Vara da Fazenda Pública alegou que o impasse entre a Apeoesp e a Secretaria da Educação poderia adiar indefinidamente o início do ano letivo e os alunos seriam duplamente prejudicados: ficariam sem aula e sem receber merenda escolar. Por mais relevante que seja essa justificativa, é preocupante o fato de professores reprovados com nota zero continuarem ensinando.
As autoridades educacionais suspeitam que muitos desses docentes teriam boicotado a prova, por acreditar que a liminar pedida pela Apeoesp seria concedida pela Justiça. Se essa suspeita for confirmada, estará comprovada a irresponsabilidade desse grupo de pessoas que se julgam aptas a formar a juventude.
Ao defender essa posição, a direção da Apeoesp tentou desqualificar o teste, alegando que algumas questões seriam redundantes, outras conteriam erros de concordância e algumas provas chegaram às salas em envelopes sem lacre. A entidade também criticou o fato de os aplicadores da prova serem professores da rede escolar estadual, o que comprometeria a segurança e a lisura do processo seletivo. "Onde já se viu colega fiscalizar colega? Por que as provas não foram elaboradas, aplicadas e corrigidas por alguma entidade especializada nesse tipo de concurso público, que envolve milhares de candidatos?", indaga Maria Izabel Azevedo Noronha, presidente da Apeoesp.
As autoridades educacionais lembram que os professores que aplicaram e corrigiram o teste são efetivos, escolhidos por concurso público e não temporários. Do ponto de vista jurídico, portanto, não seriam "colegas" dos que se candidataram a cargos temporários.
Para evitar novos adiamentos no início do ano letivo, a Secretaria da Educação desistiu de pedir a cassação da liminar, mas divulgou as notas do teste por ela aplicado. A Apeoesp reagiu, acusando a Secretaria de tentar "caluniar os professores da rede estadual".
Para tentar acabar com o problema, o governo paulista anunciou que está estudando a criação de 75 mil novos cargos de professor na rede pública. No entanto, como essa medida implica aumento de gastos e tem de ser aprovada pela Assembleia, o concurso público ainda vai demorar para ser realizado. Por isso, tão cedo o problema dos temporários não será resolvido.

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