domingo, 7 de maio de 2017

ARTIGO: papel da escola no combate à violência sexual

É importante que os educadores não se calem mais diante de suspeitas ou de confirmações de casos de maus-tratos contra crianças e adolescentes

Por: Patrícia Saboya Gomes, Senadora

Em quatro meses de trabalho intenso na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que investiga a exploração sexual de crianças e adolescentes, nós, parlamentares que integramos esta comissão, já pudemos perceber que o enfrentamento desse problema não se fez sem o engajamento de toda a sociedade. A tarefa de atacar uma violência tão desoladora precisa envolver, não só o governo e o Parlamento, mas também outros atores sociais. É nesse contexto que entra um personagem importantíssimo: a escola.

Diretores, professores e orientadores pedagógicos devem estar de olhos bem abertos para a exploração e o abuso sexual. É fundamental que saibam, por exemplo, reconhecer sinais de maus-tratos nas crianças e nos adolescentes. E não se trata apenas de observar as marcas físicas.

Sabemos que quando uma criança sofre esse tipo de violência, ela, de alguma maneira, ''conta'' o que aconteceu. Nem sempre com palavras, é verdade. Às vezes, apenas com gestos, comportamentos diferenciados, ou por meio de desenhos. Ninguém melhor do que os educadores, que passam longos períodos com a garotada, para perceber tais mudanças.

Além de estar preparados para captar essas pistas, nem sempre tão óbvias, os educadores precisam estar capacitados para lidar com a criança e suas famílias. Estabelecer uma relação de confiança com a criança ou o adolescente, sem preconceitos e moralismos, é um desafio para esses profissionais.

A escola deve e pode ser uma parceira de peso de todas as pessoas comprometidas com a luta contra a violência sexual. Ela deve e pode ajudar a romper o pacto de silêncio que ronda os crimes sexuais contra crianças e adolescentes. Sua missão é de extrema relevância, tanto na cruzada pela prevenção do problema - ajudando as crianças e suas famílias a lidarem de forma consciente com a sexualidade -, como também no combate, auxiliando quem sofre essas agressões a ter um atendimento adequado para que volte a ter uma vida saudável e feliz.

É importante que os educadores não se calem mais diante de suspeitas ou de confirmações de casos de maus-tratos contra crianças e adolescentes. Infelizmente, em muitas ocasiões, os profissionais acabam adotando uma postura silenciosa por causa das ameaças dos agressores, que se voltam não apenas contra as vítimas e seus familiares, mas contra toda a comunidade.

A tarefa dos educadores, porém, é a de comunicar esses casos aos Conselhos Tutelares, exatamente como prevê o Estatuto da Criança e do Adolescente. O governo federal já deu um importante passo na batalha pela conscientização das escolas no que diz respeito ao enfrentamento da violência sexual. Recentemente, lançou o Guia Escolar sobre o tema, voltado especialmente para os educadores, que será distribuído na rede pública de ensino do país. Escrito em uma linguagem clara e didática, a publicação é um instrumento valioso para professores, diretores e orientadores pedagógicos. É preciso, no entanto, que este guia chegue às mãos dos educadores de creches e pré-escolas. Uma pesquisa coordenada pela professora Eva Faleiros, da organização não-governamental (ONG) Cecria, trouxe à tona um dado estarrecedor. Em quase 70% dos casos de abuso sexual, a vítima é alguém com menos de 11 anos.

Essa triste realidade, no entanto, tem tudo para ser transformada. Mas, para que isso aconteça, é preciso que cada setor da sociedade faça realmente a sua parte. E começar essa caminhada pela escola já, sem dúvida nenhuma, uma grande vitória.

Patrícia Saboya Gomes é pedagoga e senadora pelo Partido Popular Socialista (PPS). É coordenadora, no Senado, da Frente Parlamentar em Defesa da Infância e da Adolescência e presidente da CPI que investiga as redes de Exploração Sexual contra Crianças e Adolescentes (Fonte: No Olhar.com)

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