segunda-feira, 3 de setembro de 2012

A distinção do Normal e do Patológico na relação com o Ambiente

A avaliação do normal e do patológico no funcionamento de uma criança não pode ignorar o contexto ambiental parental, fraternal, escolar, residencial, social, religioso etc. Os critérios de avaliação aplicados à criança devem considerar, portanto, o seu contexto, pois, a mesma conduta pode ter um sentido muito diferente conforme apareça em uma criança que se beneficia de um aporte familiar positivo ou, ao contrário, em uma criança que vive no meio de uma desorganização familiar. Contudo, a noção de patologia reacional (conseqüente do ambiente) não deve levar a pensar que um sintoma possa responder total e permanentemente a um simples condicionamento, a uma reação linear do tipo causa-efeito. Deve-se avaliar, além disso, o grau de interiorização dessa conduta e seu poder patogênico para a organização psíquica atual da criança.

Recentemente, uma pesquisa realizada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) afirmou que o crescimento de uma criança nos primeiros cinco anos de vida sofre mais influência dos fatores ambientais do que dos fatores genéticos. Esse resultado vem para ratificar o que muitos teóricos da psicologia infantil já vêm falando há tempos: ter um cuidador “suficientemente bom” (termo Winnicottiano) é fundamental para o desenvolvimento sadio do psiquismo da criança.

Voltando à polêmica discussão entre normal e patológico, vale salientar que esses campos interpenetram-se em grande parte: uma criança pode ser patologicamente normal – pertencendo a estados tais como hipermaturidade por conta de pais psicóticos ou divorciados – ou normalmente patológica – pertencendo à classe das fobias da tenra infância, as condutas de ruptura da adolescência, entre outros. Raciocinar em uma dicotomia simplista – normal ou patológico – não oferece nenhum grande benefício para a psicologia infantil. Em contrapartida, a avaliação do risco de morbidade e da potencialidade patogênica da organização psicopatológica atual de uma criança deve levar em consideração vários eixos de determinação, tais como: modelo semiológico descritivo, lesiona, ontogenético, analítico e ambiental. A maior parte das classificações nosográficas atuais tenta considerar essa dimensão pluriaxial, essencial para a avaliação diagnóstica das psicopatologias da infância.

No próximo post, iniciaremos o tema: Fases do Desenvolvimento Infantil.

Referência:

GOODMAN, R. e SCOTT, S. Psiquiatria Infantil. São Paulo: Editora Roca, 2004.

MARCELLI, D. Manual de Psicopatologia da Infância de Ajuriaguerra. 5a ed. Porto Alegre: Artmed, 1998.

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