sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Marilena Chauí fala sobre trágica herança deixada pela Ditadura Militar à educação

Na última sexta, publicamos no nosso site um extenso depoimento da Marilena Chauí sobre a importância da Educação em sua vida. Se você não leu, vale a pena conferir clicando aqui.
Como a conversa foi longa, decidimos compartilhar com vocês algumas outras questões tratadas pela filósofa e que não foram publicadas.
Para quem não sabe, Marilena Chauí é uma das mais importantes vozes femininas quando se trata de Educação e Política no país. É professora titular, agora aposentada, do departamento de Filosofia da USP e já foi Secretária de Cultura de São Paulo de 1989 a 1992. Tem diversas obras publicadas, mas foram os livros “O que é Ideologia” e “Convite à Filosofia” que a tornaram conhecida pelo público em geral.
Vamos para a entrevista?
Educar: A senhora comentou que sua educação esteve sempre ligada ao ensino público. E que sua formação foi excepcional. Mas nessa época, a educação chegava à toda população?
Marilena: Veja bem. Não havia na época uma política educacional que visasse a sociedade brasileira como um todo. Mas a escola não era um lugar que promovia a seleção e a desigualdade. De fato, a educação existia somente em determinados lugares. Portanto, o que descrevo é uma experiência dentro da cidade de São Paulo. Em um tempo em que não havia a marca atual da capital paulistana: essa terrível diferença entre centro e periferia. No meu tempo, os bairros mais afastados eram tão equipados educacionalmente quanto os mais centrais. Essa cidade desigual, feita de uma violenta polarização entre a carência absoluta e o privilégio de poucos, surge a partir da Ditadura Militar.
Educar: Por que o ensino público perdeu sua excelência?
Marilena: Na Ditadura Militar é criada a ideia de que escola pública gratuita é subversiva. A crise começou com a destruição das escolas vocacionais e, posteriormente, do resto das escolas públicas. Tudo isso com o apoio da burguesia que apoiou o golpe, o que inclui os empresários da educação. Houve uma inversão de papéis, com a subordinação da educação ao dinheiro. Uma tragédia.


Educar: O governo atual está dando mais importância à quantidade que à qualidade das escolas públicas?
Marilena: O que o atual governo está fazendo é garantir aquilo que está posto na Constituição Brasileira: a educação é direito de todos os cidadãos e é dever do Estado oferecê-la. O problema é que os últimos governos encontraram escolas destruídas, com professores sem formação e sem salário. Escolas sem qualquer infra-estrutura, sem possibilidade de melhoria.
Ou seja, o que se busca atualmente é a ampliação quantitativa, garantindo ao menos uma escola pública em cada um dos mais de 3.000 municípios brasileiros, e, ao mesmo tempo, a requalificação dos professores. O Ministério da Educação, por exemplo, tem promovido cursos presenciais e à distância para atualização desses profissionais. Mas isso tudo é um longo processo.
Nessa mesma onda, vêm as políticas de inclusão como cotas e ProUni [Programa Universidade para Todos], tentando fazer com que as universidades públicas não recebam apenas alunos da rede privada.
Educar: A senhora teria algo a dizer aos pais brasileiros?
Marilena: O que eu diria aos pais é para que nunca abandonem a ideia de que a Educação é uma formação do espírito. Não é apenas uma forma de adquirir conhecimento e cultura. É a maneira pela qual você aprende a se relacionar com o mundo, com a sociedade, com a política, com a história, com os outros. A Educação abre você para o universo!
Os pais precisam entender que não se trata de assegurar um diploma para seus filhos, ou a boa entrada deles no mercado de trabalho. Trata-se de garantir a boa inserção no mundo social pela via do conhecimento, que só a Educação traz.

fonte: www.escola.org.br

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