sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

CAP 2 ANTIGUIDADE CLÁSSICA
Ramiro Marques
Não é possível compreender a  cultura grega sem conhecer o
significado do conceito de  polis. Essa palavra designa, em grego, a
cidade, compreendendo o núcleo urbano e as aldeias situadas nos
seus arrabaldes. Foram os gregos que inventaram a cidade-estado,
entendida como a organização política ideal, com uma dimensão que
não excedia uma poucas centenas de milhar de almas que se
governavam a si mesmas, mantendo  as suas instituições políticas
próprias, os seus ritos e os seus costumes. Na Grécia arcaica e
clássica não existia um Estado grego organizado. O sentimento grego
e o espírito da Hélade existiam  na partilha da mesma língua e nos
feitos dos heróis cantados pelos  grande poetas gregos que deram
forma à cultura grega a partir do século VIII a C. "A cidade helénica -
e Atenas muito em particular - ensina a manejar o logos, a palavra,
que é também o pensamento. A forma democrática e a sofística
recordam-nos que Discurso é um grande rei. Sem esquecer Sócrates
e o seu questionamento. A Grécia entregou-se à orgia da linguagem e
descobriu, graças a ela, os poderes da razão" (1).
No final do século VII, é confiada a Dracon a tarefa de reduzir
as leis a escrito, substituindo a  justiça consuetudinária pelo direito
positivo. Nascia uma nova ordem  fundada no Direito. Sólon (640-
558) inicia uma obra legislativa que cria os fundamentos do futuro
Estado democrático. Em finais do século VI, nascia, em Atenas, um
sistema político em que o poder  emana do povo. A cidadania é
alargada a todos os habitantes do sexo masculino, com excepção dos
escravos e dos estrangeiros, que passam a poder tomar a palavra na
Assembleia do Povo (Ecclesia). A Assembleia, apoiada pelo Conselho
dos Quinhentos (Bulé), constitui  a peça central da democracia
ateniense. Com a invenção da democracia política, estava aberto o
caminho para a expansão da educação popular, baseada sobretudo
na Retórica, porque, de ora em diante, era necessário saber falar
bem em público para persuadir os cidadãos e defender os seus
interesses. Os sofistas irão desempenhar bem esse papel ao longo
dos séculos VI, V, e IV a C., fazendo-se pagar pelas suas lições. A
filosofia encontrava o seu caminho e alargava a sua influência com a
criação de escolas superiores, destinadas a preparar os cidadãos mais
inteligentes para o exercício de altos cargos públicos e para a função
do ensino. A Academia de Platão e o Liceu de Aristóteles foram
apenas as duas escolas superiores mais famosas da Grécia Clássica,
fixando o exemplo que se iria espalhar por toda a civilização
helenística até aos primeiros tempos da Antiguidade Cristã.  Embora a civilização romana seja menos criativa que a
civilização grega, há um legado cultural romano que permanece até
aos nossos dias: algumas línguas europeias que derivam do latim, o
direito romano, o Estado moderno e o conceito de vias de
comunicação terrestres. A civilização romana decorreu durante mais
de mil anos. A data da fundação da cidade de Roma (754 a C.) marca
o início da civilização romana e a data da ocupação de Roma pelos
visigodos (410) marca o seu final, embora a ideia e a cultura imperial
tenham sobrevivido durante mais uns séculos no Império Romano do
Oriente, com epicentro em Bizâncio. Com o apogeu do Império
Romano, no século II a C., Roma heleniza-se. Conquista a Grécia e a
Macedónia mas a espantosa cultura dos vencidos é depressa
incorporada na cultura dos vencedores. O platonismo, o estoicismo e
o epicurismo ganham os seus cultores no Império Romano e, no
século II d. C., há mesmo um imperador filósofo que governa todo o
Império Romano: Marco Aurélio (120-180). Um pouco antes de Marco
Aurélio, Séneca e Cícero criaram obras filosóficas de grande
maturidade, onde a influência da filosofia estóica grega mostra a sua
presença.
Mas o legado de Roma não cessa de nos surpreender. Com o
seu regime político republicano, Roma lança as sementes do Estado
moderno. No final do Império, a  publicação do Código Justiniano,
traçou, definitivamente, o modelo  jurídico que havia de influenciar
quase todos os códigos europeus modernos.
Notas
1) Russ, J. (1997). A Aventura do Pensamento Europeu. Lisboa:
Terramar, p. 30

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