domingo, 6 de novembro de 2011

A linguagem abreviada dos internautas e os reflexos na modalidade escrita – Uma discussão metodológica


Vários são os indícios que comprovam a grande preocupação por parte de pais e educadores no que se refere ao recorrente uso da linguagem abreviada, fato este que poderá influenciar de forma negativa nas habilidades e competências ligadas à modalidade escrita da linguagem.
Há que se considerar que tal fato é bastante pertinente - dadas as fases pelas quais perpassam os educandos -, as influências, sejam elas positivas ou negativas, parecem encontrar um terreno fértil para se proliferarem de forma acentuada. Assim, fundamentemo-nos no texto em evidência, a título de reforçarmos ainda mais a presente discussão:
'Tem gnt q iskrevi axim': Que língua é essa?
Olha o internetês aí, gente! Linguagem adotada na troca de mensagens por computador pode confundir a cabeça de quem ainda tropeça em grafias
Julia Contier
Tem gnt q iskrevi axim'. Alguém sabe 'kiki ta contecendo?', ou melhor, tem gente que escreve assim, alguém sabe o que está acontecendo? Essa é a linguagem usada por algumas pessoas que acessam a internet para simplificar e acelerar a digitação, facilitando o bate-papo em tempo real.
É preciso se acostumar a essa linguagem. Andréa, de 10 anos, conta que quando ela se inscreveu no MSN não entendia o que as pessoas diziam. 'Eu chamava a minha irmã para me ajudar'.
A linguagem é bem diferente mesmo. A maioria das palavras é quase sempre abreviada. Beijo vira bj, também, tb, você, vc.
Existem outras coisas engraçadas, o 'qu' se transformar em 'k', o 'ch' muda para 'x', assim como palavras com dois 's'.
Professor de Letras Modernas da USP, Leland McCleary, explica que algumas mudanças aconteceram porque antes não era possível acentuar as palavras no teclado, então o até virou ateh, o não virou naum e assim por diante.
Se por um lado existem milhares de crianças brasileiras sem acesso ao computador, por outro existem aquelas que já nascem plugadas. E o hábito de escrever sempre na internet, passar o dia inteiro no MSN, blog ou Orkut, pode atrapalhar muita gente na escrita formal.
A professora Claudete, do Colégio Cidade de S. Paulo, percebe que as crianças acabam escrevendo o 'internetês' nos trabalhos digitados, mas a troca é rara quando a escrita é manual.
E o que acha ela dessa nova escrita? 'Eu não me preocupo porque eles estão aprendendo os diferentes gêneros da escrita. Essa linguagem é permitida naquele universo e não aqui'. Ela faz uma ressalva: 'O papel do professor é orientar para os diferentes gêneros e não admiti-los em determinados momentos'.
 O Estadinho esteve no Colégio de S. Paulo para conversar com os alunos da 4ª série e saber como eles estão lidando com o 'internetês'.
Confira o bate-papo na tela, representado, no texto abaixo:
 Estadinho: Achei uma comunidade no Orkut que dizia assim: “O MSN estraga o meu português”. O que vocês acham disso? E quem já teve problemas com prova?
 Marcelo: Quando eu vou fazer algum trabalho no computador, às vezes eu escrevo “vc” ou “naum” e depois eu tenho que corrigir, É super ruim isso, eu já me acostumei a escrever assim.
 Henrique: Eu tive um problema em um ditado, Em vez de colocar “porque”, eu coloquei “pq”.
 [...]
 Estadinho: Pois é. Como a gente fez agora. Foi muito legal essa conversa. Então, vou nessa. Vlw! BJxxxxx
 O Estado de São Paulo, São Paulo, 16 de setembro, 2006. Estadinho.
Percebe-se que o texto pode representar uma excelente ferramenta quando se trata de questões inerentes à relação estabelecida entre linguagem formal e informal. Nesse sentido, vale ressaltar que a opinião da professora Claudete se revela como contundente, haja vista a importância de o educador enfatizar acerca das diferentes situações sociocomunicativas a que estamos inseridos, cabendo a cada um de nós adequar nosso discurso a estas. Dessa forma, algumas sugestões metodológicas parecem ser de grande valia. Entre elas, citamos:
 # O primeiro passo é xerocopiar o texto em questão, de modo a entregá-lo de forma individual e, em seguida, sugerir uma leitura atenta.
 # Posteriormente a isso, sugere-se que seja entregue um questionário, no intento de elencar os divergentes pontos de vista em relação ao assunto abordado. Como proposta, seguem algumas questões do tipo:
 # A seu ver, o que provocou o surgimento desta modalidade (abreviada) entre os internautas? Qual a sua postura em relação ao fato?
 # De acordo com sua opinião, a frequência da escrita abreviada pode influenciar de forma direta na modalidade escrita?
 # A abreviação das palavras, não só na linguagem do “internetês”, como também em outras circunstâncias, pode comprometer a clareza textual?
 # Mediante a leitura do texto, comprovou-se uma notória divergência no que se refere à opinião dos entrevistados quanto ao Orkut, MSN, blogs, entre outros. Qual o seu posicionamento diante desta ocorrência?
 Após o término do trabalho, é altamente valioso sugerir um debate, a fim de incentivar os educandos a revelarem seu poder de argumentação, bem como avaliar a postura destes acerca de um procedimento que atualmente vigora nas relações sociais como um todo, e que, como foi dito, pode desencadear em más consequências quanto ao desempenho linguístico de muitos usuários. Após serem elencadas todas as ideias, é importante que todos os presentes cheguem a um consenso: a importância de adequarmos nosso discurso às diferentes situações de uso, tendo em vista o padrão formal que rege a linguagem, ao qual, sem nenhuma dúvida, estamos submetidos.
 Por Vânia Duarte
 Graduada em Letras



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